18/07/2014
Você já é saudade. Entre todos os cantores que se dedicaram à música dita "brega", Reginaldo Rossi foi o mais autêntico. Suas letras eram a encarnação do amor simples, periférico, suburbano. Ninguém conseguiu ir tão fundo na alma popular. Não gosto de música brega. Nunca gostei. Ainda assim, o admirava. Sua opção artística pelo amor das esquinas, bares e puteiros; pelas traições e desfechos sangrentos, certamente incomodava a intelectuais puristas. Raros artistas conseguiram traduzir a passionalidade dos amores cais do porto, as paixões marginais, subservientes e subterrâneas. Reginaldo Rossi conseguiu retratá-las com a nitidez de uma tela. Como se os corações e mentes do povão estivessem dentro de uma baú, ao alcance de suas mãos, materiais, palpáveis, coloridas; contas baratas de um colar vagabundo ou um anel grotesco. Todos sentiam suas letras e músicas. Do porteiro ao Doutor da Cobertura. Da senhora bem nascida à puta mais vulgar. Da mocinha romântica à periguete oferecida. Enquanto os bacanas passavam longe das lojas de LP's e CD's, torcendo o nariz empinado, a galera ia fundo nas emoções baratas. Mas no fundo, bem no fundo mesmo, uns e outros, em cima e embaixo, todos nós já sentamos um dia em uma mesa de bar. Enchemos a cara e chamamos o garçon para desabafar amores perdidos, corneados e fatais. Este é o mérito maior de Reginaldo Rossi. Não importa de qual berço viemos. Amor e ódio, esperança e desencanto, perdas e ganhos são iguais. Apenas se manifestam com mais ou menos traquejo social. Assim como a cadela vadia pare na esquina, placenta e sangue e crias, pare a dondoca, placenta e sangue e cria. A dor é a mesma. O abandono é o mesmo. O cenário é diferente. Um eclode na sarjeta, outro viceja na alcova. Amor e paixão são viscerais, fortes, brutos. Entre macho e fêmea, mesmo na sonolência e quietude da harmonia, alguma coisa paira no ar. Um quê de tragédia ronda os casais. A verdade é que os amores chafurdam na lama antes de sublimarem a alma. Reginaldo via isto com os olhos do sábio que nem suspeitava que era.
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