GRATIDÃO
Intriga-me tua beleza:
feitiço que me prendeu.
Teia invisível,
luz intensa,
Imã irresistível.
Em minha mente, onisciente.
Em minhas veias, um rio
feroz, montanha abaixo.
Sístole, diástole.
Sede, minha miragem...
Esquecido em uma praça,
solidão demente, eu vi...
Como explicar o medo,
a derrota e o desterro?
Como não respirar?!
Aconteceu...
Uma informação pediste.
Emudeci...perplexo.
Boca seca, hálito forte.
Mãos suadas, pavor.
Incondicionalmente rendido,
não há o que pedir.
Te dei endereço
a direção, a rota e o caminho.
Bendita cidade emaranhada...
Estendi a mão
esmolando um sorriso teu.
E partiste sem olhar pra trás.
Morri naquele instante
Ressuscitei quando voltaste.
Mais detalhes pediste.
Confusa, mais não que eu.
Meu riso bobo
pendeu na boca aberta.
Ofuscado pelo sol
à minha frente,
refulgindo sem piedade.
Num gesto de audácia
te dei a mão.
Não devias tê-la aceito...
Vem comigo, te levo,
não é tão longe assim.
Virei escravo contente
com os grilhões
e a servidão mais vil.
Meu sonho evoluiu.
Virou verdade...
Pude então dormir.
Não há bem que não se acabe...
E foste...sumiu lá longe.
Perdeu-se de mim.
Ficou a dor da perda.
O luto e o horror
da sobrevivência.
Tempo, tempo, tempo...
Que lenitivo és
se não me acodes?
Meu relógio quebrou
na alma estacionada
entre o vazio e o nada.
Venus de Millo,
tem piedade de mim.
Não pode ser tua beleza
a ditar o meu destino.
Algum elo existe
além do encanto.
Tua ternura embriagava.
Teu sorriso era claro.
Água de riacho.
Luz da manhã.
Resplendor divino.
Todos te eram caros.
De todos te apiedavas.
Eras boa, serena e mansa.
A soma dos teus lados
multiplicou meu querer.
Premiado pela sorte,
atravessaste o meu caminho
deixando que eu fosse um deus.
Por pouco tempo, é verdade.
Mais não merece um mortal.
Todas as noites,
antes dormir,
sorrio e te agradeço.
Rezo por ti,
deusa da saudade
mais gostosa de sentir.
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