Uma coisa diferente

12/02/2015

Mini-repente machista

Meu Deus do céu, quanta elegância.
Essa menina é mesmo um tesão.
Como dormir pensando na abundância
e ver a patroa com varizes de montão.

PARADIGMAS DE UMA PAIXÃO NACIONAL

Muito se falou nestes últimos dias sobre a exuberante bunda da Paolla Oliveira, de forma que, além de virar assunto nacional, numa época propícia que antecede o Carnaval, ocupou os trending topics das redes sociais. E não poderia ser diferente, a moça, de fato, tem um belo exemplar e admirável bumbum. E eu, um modesto jornalista e autor de teatro, perdi a chance de ganhar um bom dinheiro, dado o grande interesse que a indústria cultural do entretenimento, e principalmente o público, tem pelo traseiro alheio.

Paolla, vale ressaltar, esteve brilhante em “Felizes Para Sempre?” como uma garota de programa, despindo-se não só das roupas, das maquiagens, dos cabelos alinhados, mas também das personagens “boas moças” e um pouco insossas vividas no passado. Se ela não agradou a todos, numa sociedade conservadora e hipócrita, não só num grande centro como Brasília, mas também nos cafundós dos Judas, talvez tivessem que reclamar com Euclydes Marinho ou Fernando Meirelles, autor e diretor, respectivamente. A verdade, é que ela é uma grande profissional e esteve numa das suas melhores performances como atriz.

Mas, como dizem as mulheres desse Brasil, é muito fácil ter a bunda da Paolla Oliveira, não obstante patrocinada por terapias sofisticadas de uma clínica de embelezamento. Difícil é ter uma bunda bela na frente de um tanque, de uma pia cheia de louça, trabalhando por oito horas na frente de um computador, com dois ou três filhos para criar. No entanto, vá conferir se as belas atrizes conseguem ser perfeitas 24 horas por dia, sem uma boa maquiagem, um bom enquadramento de câmera, e uma boa luz fotográfica.

Há pouco mais de um ano, fui pessoalmente entregar uma das minhas peças de teatro para a leitura da Paolla. Tratava-se de “O Comediante”, peça que está em cartaz em São Paulo, no Teatro Raul Cortez. A pedido do Ary Fontoura, estrela do espetáculo, e abençoados pelo diretor e pelo produtor, a convidamos para o papel da Júlia, uma jornalista cujo destino é contratada para biografar a vida de um ator decadente, numa época em que a mídia idolatra o efêmero, e substitui o velho pelo novo, o feio pelo belo. Mas por motivos profissionais de agenda, ela declinou.

Passado alguns dias, decidiu-se chamar outra atriz cujo talento desfilaria no palco com movimentos coreografados por Marcia Rubim, trajando os belíssimos figurinos de Marília Carneiro, iluminada pela bem desenhada luz de Maneco Quinderé, e dirigida pelo saudoso José Wilker e por Anderson Cunha, profissionais de talentos inquestionáveis. E nesse cenário, com esse recorte, diga-se, ela está deslumbrante. E eu, como qualquer profissional que busca ascensão, fiquei imaginando: e se Paolla tivesse aceitado o convite para elencar uma peça que trata, sobretudo, da juventude x finitude humana, da cultura de massa x erudição? Talvez, mesmo que alguém diga que a teledramaturgia não se comunica com o teatro, ou vice-versa, além de sermos sucesso de crítica e público, estaríamos ricos!

Acredito, contudo, que a atriz escolhida para substituir Paolla Oliveira, e a própria Paolla, não precisam da bunda, nem dos padrões de beleza impostos para desfilar competência. O que elas são capazes de compor para apresentar no palco está no cérebro, daí o prestígio, daí o verdadeiro talento. E quero torcer também para que a arte que apresentamos no teatro, ao vivo e tão aurática, diferente da cultura de massa com suas matrizes duplicadas, e muitas vezes distorcidas, ainda possa despertar um interesse muito maior do que uma bunda avantajada incita no grande público.

PARADIGMAS DE UMA PAIXÃO NACIONAL

Muito se falou nestes últimos dias sobre a exuberante bunda da Paolla Oliveira, de forma que, além de virar assunto nacional, ...

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