Amor meu.
Escrevi esta carta quando passei pela estação daquela cidadezinha onde você embarcou ano retrasado. Você vai recebê-la daqui poucos dias. Eu a escrevi porque me dei conta que percorria o mesmo trajeto de anos atrás. Naquela noite o destino aprontou das suas e apresentou-me você - a mulher mais linda que havia visto em minha vida.
Rememorei a história de nosso amor. Uma história como tantas outras. Todas iguais e tão diferentes em individualidade e magia.
Cochilava quando o trem parou na nossa cidadezinha. Ou melhor, na sua.
Sorri satisfeito. O passado repetiu-se no cenário da estação sonolenta. Chovia e uma neblina desenhava halos à volta das luzes da estação. Frio. Muito frio. Um vulto saiu das sombras e embarcou. Exatamente como você surgiu da névoa e embarcou em minha vida.
Fechei os olhos e revivi a moça altiva e elegante que não combinava com a figura de uma habitante daquela cidadezinha perdida no interior.
O vagão era bem iluminado e pude visualizá-la perfeitamente.Você usava um vestido rodado, um cinto vermelho, apertado, dividindo nitidamente o seu corpo em duas partes distintas e perfeitamente equilibradas: quadris largos e pernas longas, duas colunas que sustentavam o tronco e o colo com seios perfeitos. Você era a proporcionalidade sublimada pela harmonia.
Sentou-se na poltrona ao lado. Olhei para você de soslaio. Temi constrangê-la ou parecer inconveniente. Reparei seu lindo perfil, o queixo forte, a boca carnuda e os seus cílios enormes.
Esfriou. Arrisquei mais um olhar e percebi que você esfregava os braços com as mãos. Tomei coragem e ofereci o meu casaco. Você relutou. Argumentei que estava bem agasalhado e que o meu casaco não me faria falta. Você sorriu, agradeceu-me e então pude perceber os seus olhos verdes - um verde profundo.
Um artista não precisaria de mais nada para iniciar uma obra de arte. A modelo era perfeita: uma deusa.
- Para onde você está indo? - arrisquei.
- Para Belo Horizonte. Vou visitar uma tia e aproveitar para me inscrever em um concurso público.
Sorrimos.
Me derreti. Dentes perfeitos e a uma boca que até hoje não consigo descrever. Só beijando, para entender o gosto de todos os pecados e promessas.
Quebrado o gelo e os constrangimentos iniciais, a conversa virou prosa e tagarelamos até o momento em que perguntei se poderia sentar a seu lado. Fiz charme e disse que mais cinco minutos de papo e nós ficaríamos com torcicolo. Graciosamente você indicou o lugar a seu lado e me contive para não pular para o assento.
Conversamos sobre tudo. Descobrimos afinidades e gostos comuns. Mais uma vez me surpreendi. Aquela belíssima mulher definitivamente não combinava com a cidadezinha onde morava. Para confundir-me ainda mais, a moça era muito inteligente.
Depois de algum tempo, esgotados os assuntos, aquela pausa constrangedora e o silêncio envergonhado.
De repente, olhamos simultaneamente um para o outro. Ficamos paralisados. Você sorriu e pegou a minha mão como se dá a mão a um menino. Seu gesto me pegou de surpresa. Corei como uma mocinha. Minha mão tremia, fiquei mudo e desta vez me senti de fato um menino tímido diante da namoradinha ousada.
Nos beijamos.
Ainda que eu viva mais de cem anos, a emoção daquele beijo nunca mais se repetirá. Imagino o céu através da tua boca e nela quisera viver eternamente.
Nada que que diga ou escreva é capaz de dimensionar a emoção daquele beijo.
O trem prosseguia e se nós pudéssemos a viagem nunca terminaria.
Chegamos a Belo Horizonte, anotamos os nossos respectivos endereços e telefones e nos encontramos no dia seguinte para nunca mais nos separarmos.
Lá se vão alguns anos e você permanece em minha vida uma emoção adolescente. Nosso amor não envelheceu. Continuamos naquele vagão de trem com se a vida fosse uma viagem sem paradas, estações.
Nosso destino pode ser uma aventura em outras vidas, planetas, dimensões.
Sou o homem mais feliz do mundo e tenho até uma certa pena dos magnatas, reis, potentados etc e tal. Eles têm tudo mas não tem a mulher que eu tenho.
E se a tivessem, não hesitariam trocar seus impérios pela vida que vivo com a mulher que me ama como se o mundo fosse acabar amanhã.
Fui bafejado pelos deuses. Se este privilégio vai ser cobrado um dia, assumo o débito eterno e me ofereço em sacrifício em outras vidas de solidão e desamor.
Minha cota de felicidade esgotou-se em apenas um vida. Assim seja.
Rememorei a história de nosso amor. Uma história como tantas outras. Todas iguais e tão diferentes em individualidade e magia.
Cochilava quando o trem parou na nossa cidadezinha. Ou melhor, na sua.
Sorri satisfeito. O passado repetiu-se no cenário da estação sonolenta. Chovia e uma neblina desenhava halos à volta das luzes da estação. Frio. Muito frio. Um vulto saiu das sombras e embarcou. Exatamente como você surgiu da névoa e embarcou em minha vida.
Fechei os olhos e revivi a moça altiva e elegante que não combinava com a figura de uma habitante daquela cidadezinha perdida no interior.
O vagão era bem iluminado e pude visualizá-la perfeitamente.Você usava um vestido rodado, um cinto vermelho, apertado, dividindo nitidamente o seu corpo em duas partes distintas e perfeitamente equilibradas: quadris largos e pernas longas, duas colunas que sustentavam o tronco e o colo com seios perfeitos. Você era a proporcionalidade sublimada pela harmonia.
Sentou-se na poltrona ao lado. Olhei para você de soslaio. Temi constrangê-la ou parecer inconveniente. Reparei seu lindo perfil, o queixo forte, a boca carnuda e os seus cílios enormes.
Esfriou. Arrisquei mais um olhar e percebi que você esfregava os braços com as mãos. Tomei coragem e ofereci o meu casaco. Você relutou. Argumentei que estava bem agasalhado e que o meu casaco não me faria falta. Você sorriu, agradeceu-me e então pude perceber os seus olhos verdes - um verde profundo.
Um artista não precisaria de mais nada para iniciar uma obra de arte. A modelo era perfeita: uma deusa.
- Para onde você está indo? - arrisquei.
- Para Belo Horizonte. Vou visitar uma tia e aproveitar para me inscrever em um concurso público.
Sorrimos.
Me derreti. Dentes perfeitos e a uma boca que até hoje não consigo descrever. Só beijando, para entender o gosto de todos os pecados e promessas.
Quebrado o gelo e os constrangimentos iniciais, a conversa virou prosa e tagarelamos até o momento em que perguntei se poderia sentar a seu lado. Fiz charme e disse que mais cinco minutos de papo e nós ficaríamos com torcicolo. Graciosamente você indicou o lugar a seu lado e me contive para não pular para o assento.
Conversamos sobre tudo. Descobrimos afinidades e gostos comuns. Mais uma vez me surpreendi. Aquela belíssima mulher definitivamente não combinava com a cidadezinha onde morava. Para confundir-me ainda mais, a moça era muito inteligente.
Depois de algum tempo, esgotados os assuntos, aquela pausa constrangedora e o silêncio envergonhado.
De repente, olhamos simultaneamente um para o outro. Ficamos paralisados. Você sorriu e pegou a minha mão como se dá a mão a um menino. Seu gesto me pegou de surpresa. Corei como uma mocinha. Minha mão tremia, fiquei mudo e desta vez me senti de fato um menino tímido diante da namoradinha ousada.
Nos beijamos.
Ainda que eu viva mais de cem anos, a emoção daquele beijo nunca mais se repetirá. Imagino o céu através da tua boca e nela quisera viver eternamente.
Nada que que diga ou escreva é capaz de dimensionar a emoção daquele beijo.
O trem prosseguia e se nós pudéssemos a viagem nunca terminaria.
Chegamos a Belo Horizonte, anotamos os nossos respectivos endereços e telefones e nos encontramos no dia seguinte para nunca mais nos separarmos.
Lá se vão alguns anos e você permanece em minha vida uma emoção adolescente. Nosso amor não envelheceu. Continuamos naquele vagão de trem com se a vida fosse uma viagem sem paradas, estações.
Nosso destino pode ser uma aventura em outras vidas, planetas, dimensões.
Sou o homem mais feliz do mundo e tenho até uma certa pena dos magnatas, reis, potentados etc e tal. Eles têm tudo mas não tem a mulher que eu tenho.
E se a tivessem, não hesitariam trocar seus impérios pela vida que vivo com a mulher que me ama como se o mundo fosse acabar amanhã.
Fui bafejado pelos deuses. Se este privilégio vai ser cobrado um dia, assumo o débito eterno e me ofereço em sacrifício em outras vidas de solidão e desamor.
Minha cota de felicidade esgotou-se em apenas um vida. Assim seja.
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