EZÉQUIAS
Senna morreu, Maradona idem.
Em seguida, enterros monumentais com direito a choro copioso, aplausos e até histeria.
O de Senna foi apoteótico e poucas personalidades foram tão pranteados no século passado.
O de Maradona pegou na trave porque nem de longe se equiparou às exéquias do velocíssimo, arrojado e brilhante piloto brazuca.
Foi aí que caiu a ficha e me recordei das mortes dos Doutores Alexander Fleming, inventor da Penicilina; de Jonas Salk, criador da primeira vacina contra a poliomielite, e de Albert Sabin (segunda e definitiva vacina contra polio).
A morte dos três grandes benfeitores da humanidade não provocou (nem de longe) a centésima parte da comoção verificada na morte dos dois craques da bola,
Homenagens póstumas ocorreram , mas muito aquém do esperado - considerado o legado que os cientistas deixaram para a humanidade.
A Penicilina começou a ser produzida em larga escala no início dos anos 40. Bem a tempo de, aos 45 do segundo tempo, salvar minha mãe, então com 16 anos, com um quadro de apêndice supurado.
Isto sem falar que na 2a guerra a penicilina salvou milhões de soldados e civis. Era a Sulfa - aquele pozinho branco que os médicos e enfermeiros jogavam sobre os ferimentos dos soldados.
Isto sem falar nos milhões de crianças livres da pólio neste mudão de Deus.
Foi então que me dei conta de que era mais um "roto falando do esfarrapado".
Senti muito mais a morte dos esportistas do que a passagem dos 3 beneméritos da humanidade. Ora, direis, e daí?... Daí que é assim que a banda toca. Os esportes têm plateia, torcidas; afloram emoções instantâneas, jogam com a paixão e com a liberação de adrenalina a cada gol ou corrida vencida. Os esportes são cobertos por todas as mídias em todos os cantos do planeta.
Transmitir uma pesquisa científica não teria o menor cabimento, bem como seria o cúmulo do tédio.
Poderíamos então - nem que seja de vez em quando - lembrar dos 3 beneméritos, pedindo a Deus que os guarde a cada instante que abraçarmos um filho saudável. Ou por qualquer amigo ou parente salvo de uma infecção perigosa.
A glória do mundo é passageira - diziam os romanos. E é mesmo. Mas poderia ser melhor repartida entre aqueles que a mereceram - seja nos estádios ou nos laboratórios sem refletores e flashes eternizando o exato momento de um "Eureka".
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