KOMBI
Este relato, ou melhor, esta vivência foi provocada pela notícia de que a Kombi não seria mais fabricada pela VW.
Este veículo multiuso ainda está presente na cidade provavelmente na mesma proporção com que é encontrado nas zonas rurais e nas pequenas cidades do interior do Brasil. E faz boa figura na entrega e distribuição de mercadoria, nas fazendas, no comércio, no lazer, passeios e viagens, pescarias etc.
Eu tenho uma história(verdadeira) com a Kombi.
1963...morávamos em Santos Dumont, terra do pai da avião. Santos Dumont e eu somos conterrâneos. Honra para mim. Pois então, em 63 pai comprou uma Kombi 61 tinindo, saia e blusa. Saia azul e blusa branca.
Nesta época os moleques como eu dirigiam pra cima e pra baixo sem o menor problema. Eu tinha 14 anos. Dirigia a Kombi à vontade. Pai deixava. Sargento Santim, chefe do destacamento da cidade, sabia dos meus rolés motorizados. Não se tocava, porque jamais houve uma ocorrência sequer envolvendo acidentes com a garotada motorista. Depois, se acontecesse alguma irregularidade, era só ligar para os nossos pais. A surra era certa. De cinto ou relho de gado. Por inúmeros motivos, estas surras eram mais ou menos frequentes. Eu tinha o couro curtido. Merecia os corretivos. Todos. Com o resto da molecada era a mesma coisa. Vire o mexe aparecia um com as pernas lanhadas a cinto ou relho. E ninguém ficou maluco ou precisando de acompanhamento psicológico.
Após esta volta toda, voltemos à Kombi. Sempre que possível, eu pegava a turma da rua - uns 15 moleques - e partia para o Córrego do Ouro, bairro da periferia(?!) de Santos Dumont. Íamos até o lago da barragem da Ponte Preta, coisa de 5 kms do centro da cidade. Eu no volante, tudo posudo. Era o riquinho da rua. Vocês podem imaginar a alegria da garotada? Não, não podem mesmo! Meus colegas eram todos pobres ou no máximo classe média baixa - bem na divisa com a pobreza. A grade maioria deles jamais havia entrado em um carro ou coisa semelhante. Um ou outro havia viajado de ônibus e vomitava sempre porque não estava acostumado com o balanço do veículo.
A Kombi era muito melhor do que qualquer coisa semelhante em nosso imaginário de "faroeste", fosse cavalo ou carruagem . Cabia muito mais gente e tinha uma vantagem adicional: teto alto, de modo que a molecada pudia soltar a sua alegria e pular a vontade.
Fechando o baú da memória, cabe uma consideração, qual seja a de homenagear este veículo. Jamais considerei a possibilidade de dar mole para a VW e fazer a apologia de um de seus veículos. Mas a Kombi merece. A "minha" Kombi tinha uma finalidade bem diferente de outras tantas utilitárias. Era o veículo da aventura. Ela foi por um bom tempo o riso e a gargalhada de satisfação da molecada curtindo aventuras mixurucas para os padrões sofisticados de hoje. Naquele tempo era uma viagem pela rota 66, um safári na África. Éramos personagens de um seriado eletrizante, os mocinhos no encalço de bandidos barra pesada perseguidos em uma padraria do velho oeste. A Kombi, a carruagem ou o cavalo e eu nada mais nada menos do que o General Custer no comando do 7○ de Cavalaria.
"Minha" Kombi não existe mais. Se não está apodrecendo em uma ferro velho, na melhor das hipóteses faz parte de uma outra, ou de outras, com algumas de suas peças aproveitadas.
Obrigado ao projetista da Kombi. Para mim, ele mirou no que viu e acertou no que não viu. Criou-a para o trabalho de carga ou para o transporte de passageiros. Para mim e para os meus amigos, a Kombi foi um veículo de sonho e aventura. Imagino que outros moleques mundo afora vivem ou viveram aventuras semelhantes nas planícies da imaginação.
O tempo passou. Cresci. Os amigos também. Sumiram na vida. O mundo foi perdendo a graça sem Kombis e estrepolias.
Uma Ferrari jamais terá a magia da minha Kombi.
Este veículo multiuso ainda está presente na cidade provavelmente na mesma proporção com que é encontrado nas zonas rurais e nas pequenas cidades do interior do Brasil. E faz boa figura na entrega e distribuição de mercadoria, nas fazendas, no comércio, no lazer, passeios e viagens, pescarias etc.
Eu tenho uma história(verdadeira) com a Kombi.
1963...morávamos em Santos Dumont, terra do pai da avião. Santos Dumont e eu somos conterrâneos. Honra para mim. Pois então, em 63 pai comprou uma Kombi 61 tinindo, saia e blusa. Saia azul e blusa branca.
Nesta época os moleques como eu dirigiam pra cima e pra baixo sem o menor problema. Eu tinha 14 anos. Dirigia a Kombi à vontade. Pai deixava. Sargento Santim, chefe do destacamento da cidade, sabia dos meus rolés motorizados. Não se tocava, porque jamais houve uma ocorrência sequer envolvendo acidentes com a garotada motorista. Depois, se acontecesse alguma irregularidade, era só ligar para os nossos pais. A surra era certa. De cinto ou relho de gado. Por inúmeros motivos, estas surras eram mais ou menos frequentes. Eu tinha o couro curtido. Merecia os corretivos. Todos. Com o resto da molecada era a mesma coisa. Vire o mexe aparecia um com as pernas lanhadas a cinto ou relho. E ninguém ficou maluco ou precisando de acompanhamento psicológico.
Após esta volta toda, voltemos à Kombi. Sempre que possível, eu pegava a turma da rua - uns 15 moleques - e partia para o Córrego do Ouro, bairro da periferia(?!) de Santos Dumont. Íamos até o lago da barragem da Ponte Preta, coisa de 5 kms do centro da cidade. Eu no volante, tudo posudo. Era o riquinho da rua. Vocês podem imaginar a alegria da garotada? Não, não podem mesmo! Meus colegas eram todos pobres ou no máximo classe média baixa - bem na divisa com a pobreza. A grade maioria deles jamais havia entrado em um carro ou coisa semelhante. Um ou outro havia viajado de ônibus e vomitava sempre porque não estava acostumado com o balanço do veículo.
A Kombi era muito melhor do que qualquer coisa semelhante em nosso imaginário de "faroeste", fosse cavalo ou carruagem . Cabia muito mais gente e tinha uma vantagem adicional: teto alto, de modo que a molecada pudia soltar a sua alegria e pular a vontade.
Fechando o baú da memória, cabe uma consideração, qual seja a de homenagear este veículo. Jamais considerei a possibilidade de dar mole para a VW e fazer a apologia de um de seus veículos. Mas a Kombi merece. A "minha" Kombi tinha uma finalidade bem diferente de outras tantas utilitárias. Era o veículo da aventura. Ela foi por um bom tempo o riso e a gargalhada de satisfação da molecada curtindo aventuras mixurucas para os padrões sofisticados de hoje. Naquele tempo era uma viagem pela rota 66, um safári na África. Éramos personagens de um seriado eletrizante, os mocinhos no encalço de bandidos barra pesada perseguidos em uma padraria do velho oeste. A Kombi, a carruagem ou o cavalo e eu nada mais nada menos do que o General Custer no comando do 7○ de Cavalaria.
"Minha" Kombi não existe mais. Se não está apodrecendo em uma ferro velho, na melhor das hipóteses faz parte de uma outra, ou de outras, com algumas de suas peças aproveitadas.
Obrigado ao projetista da Kombi. Para mim, ele mirou no que viu e acertou no que não viu. Criou-a para o trabalho de carga ou para o transporte de passageiros. Para mim e para os meus amigos, a Kombi foi um veículo de sonho e aventura. Imagino que outros moleques mundo afora vivem ou viveram aventuras semelhantes nas planícies da imaginação.
O tempo passou. Cresci. Os amigos também. Sumiram na vida. O mundo foi perdendo a graça sem Kombis e estrepolias.
Uma Ferrari jamais terá a magia da minha Kombi.
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