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28/12/2014

AGONIA
A penumbra do meu quarto é morna.
A luz difusa é lua que entra
entre as ripas da janela,
desenhando grades em meu peito.
No criado um copo de conhaque.
O cigarro acesso no cinzeiro.
Meu LP de amarguras
ressoa boleros passionais.
Meus olhos pregados no teto.
Um céu roto e mofado,
encardido e desbotado.
Um limbo tenebroso
de sombras e fumaça.
As lembranças flutuam,
vão e vem no turíbulo pagão.
A noite é uma criança
que não pega no sono.
A madruga se estende
sem compromisso com o tempo.
Nunca amanhece.
Tresnoitado conto os minutos
e os segundos eternos.
Meu despertador barulhento
é uma goteira infernal.
Deito o teu porta-retrato
num gesto de raiva
Para que você não me veja
neste estado lastimável.
Que bobagem...
Outro conhaque e mais um cigarro.
Outro bolero e após
um lindo samba canção.
Uma balada triste,
minha amiga e companheira,
tocou a noite inteira.
Amanhã bem cedo
a agulha no fim do disco
vai me encontrar oscilando.
A música acabou.
E a minha vida também.

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