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29/11/2019

MEIO TERMO
Entre o amor e a paixão,
a ternura fica no meio
abrindo mão da loucura
mas sem nunca esfriar.
Ternura é brisa da tarde,
canjiquinha na calçada
que a rolinha vem catar.
É sereno da madrugada
dando um toque na flor
que guardou o seu perfume
pra virar água de cheiro
na quermesse da matriz.
Ternura é o versinho manco
que o alto-falante anuncia
dedicado a Maria.
Ternura é bebê dormindo,
mãe cochilando de plantão.
É aceno de despedida,
saudade na contramão.
Ternura é balde de pipoca
e filme de ver juntinho.
Pode ser o escurinho
da última fila
e beijo roubado,
mão suada e aflição.
Quem sabe o realejo
e a sorte premiada.
Ternura é lua cheia
e estrelas despeitadas.
Talvez estrada caipira
e um caipira pitando
vendo a vida passar.
Ternura é amizade
e o amor fazendo beiço
porque este se acaba,
aquela não sabe acabar.
Vilarejo esquecido
dormindo à tardinha.
Mas pode ser a cidade
cheia de tanta gente
procurando o seu par.
Ternura é tanta coisa
que a gente desaprendeu
enquanto vivia correndo
e não parou pra olhar.
Ternura é este jeitinho
que você tem de me olhar.
Talvez o meu presente:
sua surpresa a exclamar.
Ternura é café na cama,
o uísque do depois.
Pode ser até o cigarro
que você manda apagar
porque a noite é criança
e já passou da hora
da gente recomeçar.
Ternura é isso tudo
que eu tentei definir.
Não sei onde começa,
não sei aonde vai dar.
Só sei que nada sei
e na Grécia vou buscar
alguém que me explique
o que tentei explicar.

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