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19/11/2014

Reeditando poesia
BATALHA(por um menestrel)

Diante de ti eu me rendo
e me inclino subserviente.
Deponho armas e bandeiras.
A teus pés os despojos deposito.
Permita somente que eu recolha
os meus sentimentos inválidos.
Todos jazem sem mortalha
expostos aos abutres
de tua sanha dilacerante.
No campo ensanguentados ao fim do dia
Mandei soar as trompas de pesar.
Os sinos ordenei dobrarem
todo a minha dor e tristeza.
De mãos atadas sigo o teu triunfo.
Feito servo teu, poupa-me da humilhação.
Lutei a boa luta e no fragor da batalha
não logrei a morte rápida e honrosa.
Que eu não tenha a sorte
dos derrotados sem honra.
Deixa-me ao menos recolher
Minha espada e o meu elmo.
Depois exponha minhas vísceras
e nervos. Ata-me à roda.
Sufoca-me o garrote.
Que eu monte o cavalete.
Eviscera-me e eu te mostro
as entranhas, o vazio
e a ausência de alma
que, se existe, restou perdida.
E que hoje vaga
a procura de guarida
em alguma longínqua ermida
Do teu inclemente coração.
Como pode ser imensa a tua indiferença?
Como eu pude não ver tanta desgraça?
E eu te pergunto, pasmo e louco,
porque tanta saudade em mim deixaste,
tu que nem ao menos dignaste
a mim lançar um mísero olhar.
Então que assim seja. Aceito a derrota
e o teu desprezo horripilante;
as masmorras e o esquecimento.
Que se apague o meu nome.
Que eu não mais exista.
Apaguem-se os registros.
Espalhem as cinzas no campo.
Não há de haver o menor vestígio
de minha passagem por tua vida.
Nada mais resta para comprovar
que passei por teu caminho.
o menor rastro de mim
será varrido pelo vento.
Minha lembrança uma lenda
esquecida pela plebe e pelos
por menestréis; sem canto,
ode, saga ou saudade.
Permita Deus que a minha história
por insolente teimosia persista.
E que o último trovador
cante a minha triste história
em prosa ou verso.
Se alguma alma apiedar-se
terá valor a minha triste sina.
De resto, é sempre mesmo assim:
todo amor que apraz se imolar
só se vê doente e louco
quando já é tarde para se salvar
um resquício de consciência,
Um átimo de decência
e derradeira luz no olhar.

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