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28/04/2015


3 min ·
Ainda a pouco postei a apresentação (1968) do Armandinho no programa do Flávio Cavalcante. Esta apresentação me trouxe à lembrança uma lamentável experiência que meu pai e eu passamos com o apresentador. 
Flávio Cavalcante foi contemporâneo de meu. Foram colegas de quarto durante 4 ou 5 anos no internato da Academia de Comércio de juiz de Fora. Começaram e terminaram o ginasial juntos.
Esta amizade foi crescendo ao longo dos anos, a ponto de meu pai convidá-lo para padrinho de seu casamento em 1947. Flávio aceitou. Passaram muito anos sem que meu pai o reencontrasse. Falaram por telefone umas poucas vezes após o sucesso de Flávio na TV. 
Em 1970 ou 1971 (não me recordo exatamente) meu pai perguntou-me se eu queria ir a Petrópolis para fazer uma rápida visita a seu amigo de tantos anos. Flávio Cavalcante ainda estava no auge. 
Fomos em seu Aero-Willis e paramos na porta da mansão do apresentador. Um segurança nos atendeu educadamente. Nos identificamos e aguardamos a comunicação com os patrões. O segurança nos anunciou que o Sr. Flávio Cavalcante não nos receberia. Meu pai insistiu e indagou o motivo, uma vez que fizemos uma pequena viagem exclusivamente para rever o amigo e trocar rapidamente dois dedos de prosa.
O segurança reportou-se à mansão e a resposta desta vez foi um NÂO sem maiores explicações. Repetiu que Flávio NÃO o receberia.
Poucas vezes em minha vida vi meu pai naquele estado: raiva, desaponto e incredulidade. Voltamos a Juiz de Fora sem trocar uma palavra. 
Em uma das vezes que o olhei de soslaio, vi o meu meu pai chorando. Pranto de homem - rosto impassível -, apenas um filete de dor e desencanto. 
Até hoje não entendo o seu silêncio a respeito daquela desfeita. Pai morreu em 1984 sem jamais mencionar a viagem a Petrópolis. Algumas feridas nunca cicatrizam.
Pai era bom de papo. Conversávamos sobre tudo. Era um prazer conversar com o meu velho - homem culto e capaz de conduzir uma conversa por horas a fio sem jamais cansar seu interlocutor.
Passados mais de 40 anos, não me esqueço do Sr. Flávio Cavalcante e de sua insensibilidade, presunção e falta de educação. Procurei justificativas para o seu gesto e até cogitei que o apresentador tivesse chegado a pouco em sua casa e que poderia estar esgotado após horas de apresentação de seu programa no Rio de Janeiro. 
Nada, entretanto, justificou o seu pouco caso. Tivesse ele falado com meu pai pelo comunicador do segurança e o meu velho entenderia as suas razões para não nos receber.
Flávio Cavalcante preferiu liquidar uma velha amizade como quem "gonga" um calouro sem a menor contemplação. Ce la vie!...


Registro histórico de maior relevância: a primeira apresentação pública de Armandinho, no bandolim, no programa de TV "A Grande Chance", do falecido Flávio C...

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