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05/09/2014

TELA SEM MOLDURA


Suave é a noite.
A brisa assopra um segredo.
Um buquê de perfumes rescende...
A lua entre nuvens cor de prata,
quase um sol da noite, quase dia.


Um zumbido aqui e ali.
Silêncios e o céu caído.
Vagas luzes, vagam lumes.
Farelo de estrelas
entre o verde e o amarelo.
Suaves lanterninhas recorrentes
bailando em paz na harmonia.


Uma coruja dá um rasante
e só se faz presente porque pia.
Um curiango responde no vazio.
O sapo martelo soa a bigorna da noite.
E o brejo canta à revelia.


No casebre a lamparina
desenha um quadrado de janela.
A rede oscila na varanda
rangendo uma saudade,
quem sabe uma agonia.


Uma modinha caipira soa longe.
Alguém canta na primeira voz
o dueto ausente de Maria.


O sol irrompe solene:
pavão de fogo e alegoria.
Os ninhos despertam,
balburdia de pios, fome.
Nem bem raiou o dia.


No balanço da cadeira,
na varanda vigio
a curva da estrada ao longe.
Nunca aponta Maria.


Cansaço e sono.
Adormeço no poente.
Morro ao nascer do dia.

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