TELA
Suave é a noite.
A brisa assopra um segredo.
Um buquê de perfumes rescende...
A lua entre nuvens cor de prata,
quase um sol da meia-noite, quase dia.
Um zumbido aqui e ali.
Silêncios e o céu caído.
Vagas luzes, vagam lumes.
Farelo de estrelas
entre o verde e o amarelo.
Suaves lanterninhas recorrentes
bailando em paz na harmonia.
Uma coruja dá um rasante
e só se faz presente porque pia.
Um curiango responde no vazio.
O sapo martelo soa a bigorna da noite.
E o brejo canta à revelia.
No casebre a lamparina
desenha um quadrado de janela.
A rede oscila na varanda
rangendo uma saudade,
quem sabe uma agonia.
Uma modinha caipira soa longe.
Alguém canta na primeira voz
o dueto ausente de Maria.
O sol irrompe solene:
pavão de fogo e alegoria.
Os ninhos despertam,
balburdia de pios, fome.
Nem bem raiou o dia.
No balanço da cadeira,
na varanda vigio
a curva da estrada ao longe.
Nunca aponta Maria.
Cansaço e sono.
Adormeço no poente.
Renasço ao nascer do dia.
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