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09/08/2018

Reedito este texto todo, por preguiça e também por senso prático. Meu mimimi continua o mesmo, mas os meus presentes...
Na próxima encarnação vou ser dona Maria com um penca de pimpolhos. Vou tirar o atraso e ser paparicado de montão pela prole.
e ganhar gravata de verdade, perfume, camisa ou CD, se os nossos filhos já estão crescidinhos.
Confesso que sempre tive inveja do dia das mães. Isto sim é um dia comemorativo. Com direito a missa nos colégios, banda de música e fanfarra, poesias, eletrodomésticos de última geração, almoços nos melhores restaurantes, além de outros mimos comprados nos melhores shoppings.
Sei muito bem que mãe é uma só e que pai pode ser um ou outro. Tudo bem... mas ainda assim acho que o nosso dia merecia um pouco mais de cerimônia. Não tanto quanto o dia das mães, admito. Afinal, mãe é mãe. E pai, como já disse, pode ser Antonio ou José, Joaquim ou João.
A maternidade não deixa dúvida. O cara é filho da mãe. É aí que ficamos em desvantagem. Mas se Deus fez assim, deve ter lá os seus motivos. Entre eles, um é por demais evidente: a mulher é a viga mestra da família. Deus não comete erros, mas no momento em que expulsou Adão e Eva do paraíso ou permitiu que o macaco descesse da árvore e caminhasse ereto, Ele soube que a criatura ficou, digamos, meio fora de controle tendendo para uma promiscuidade imemorial. Esta tendência para olhar comprido para a mulher do vizinho pode ter sido, eu diria, uma espécie de perda do controle de qualidade na evolução da espécie, agora entregue à natureza e portanto sem os rigores e a perfeição da obra divina.
Acho que há lógica nesta minha conjectura. Fico imaginando se a mulher fosse promiscua e o homem comportado. Neste caso, a população do mundo já teria ultrapassado 50 bilhões de almas. A natureza é sábia e conteve a libido da mulher. Mulher não se deita por deitar. Tem que ter um laço mais profundo, ainda que não seja amor. Com amor a coisa desanda e eles se entregam mesmo. Melhor a cabra presa e o bode solto.
O comércio, sempre de olho nas oportunidades de faturamento, a um tempão sacou a nossa importância. Ainda assim perdemos feio par o natal, dia das mães; perdemos até para o coelhinho da páscoa e para o dia dos namorados. Os caixas das lojas confirmam este ranking sem jeito e nós somos os lanterninhas do faturamento.
Ainda assim ser pai é uma maravilha.
Podemos dar colo, mas sem o aconchego de colo de mãe. Não amamentamos e o nosso carinho não tem aquela suavidade que dá sono e muitas vezes dispensa a canção de ninar. A musiquinha, aliás, chega a ser uma redundância. Não carregamos nossos filhos na barriga por nove meses, restringindo nossa participação a minutos enquanto as mulheres nos humilham com 52 semanas de contato uterino e umbilical.
Amamos nossos filhos de uma maneira diferente. Muitos de nós só deixamos de herança uma conduta exemplar. E se nossos filhos crescem praticando virtudes que aprenderam conosco, então a paternidade se aproxima da maternidade. O que fica é o exemplo. Discurso moralista e oba-oba são palavras ao vento.
Somos pais e é bom dizer isto de boca cheia. E apesar das desvantagens em relação às mães, esperamos homenagens e presentes. O melhor deles é carinho e gratidão.
Almocem com a gente. Batam um fio, passem mensagens, "zapzap" ou equivalentes. Abracem-nos com ternura - é o quanto basta para derreter nossos corações de manteiga.
Somos mães masculinizadas e disfarçamos o choro para preservar a nossa imagem de super-heróis.
Como antigamente.

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