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26/09/2015

Dias atrás,altas horas, fiquei imaginando a absurda possibilidade de fazer uma viagem no tempo - ao passado mais especificamente. Comecei a cochilar e dormi. 
Sonhei. Viajava na maionese como um Marty Mcfly tupiniquim a bordo de um fuscão equipado com um reator de fissão alimentado a mandioca.
Estava em minha terra, Santos Dumont, Minas, em 1970.
Estava com os meus amigos no Bar do Zé Falci. Entre uma cerveja e outra, eu, tiliu, Eduardo Ângelo, Evaldo, Hamilton e lulu jogávamos conversa fora. De repente chegou um desconhecido, puxou uma cadeira que não lhe fora oferecida e, sem mais nem menos, declarou-se possuidor do dom da vidência. Ninguém da turma conhecia o fulano. Ficamos de olho nele.O papo rendia e o sapo vidente começou a dar os seus pitacos.
Evaldo começou a falar de política e foi interrompido pelo intruso afirmando que o Brasil, após o ano 2000, seria um dos países mais corruptos do mundo. Negociatas e maracutaias gerariam subornos da ordem de bilhões de dólares. Os escândalos seriam semanais, diários até, e os envolvidos, julgados e condenados, sairiam impunes livres, leves e soltos. Prosseguiu, vaticinando que o congresso nacional teria quase de 40% de seus membros condenados em várias instâncias da justiça e por aí afora. Risos gerais...
tiliu, flamenguista doente, comentava o campeonato carioca, quando o "vidente" disse que o Brasil sediaria a copo de 2014. Com petulância, voz empostada, afirmou que nossa seleção não chegaria à final e que seríamos eliminados pela Alemanha. Fez uma pausa solene, fechou os olhos e anunciou o placar: Alemanha 7, Brasil 1. Quase levou umas porradas..
Quando comentei o absurdo do arrombamento de uma casa comercial da cidade, o gaiato disse que isto não era nada demais e que após a virada do milênio, a crime tomaria conta do Brasil. Disse que seriam cometidos mais de 150 assassinatos por dia; que meninos com pouco mais de 12 anos assaltariam a mão armada e que matariam gente com a mesma naturalidade com que se mata uma barata. Com o olho rútilo, quase babando, disse que os morros do Rio de Janeiro seriam estados independentes sustentados pelo comércio de maconha e de outras drogas desconhecidas. Tudo isto a céu aberto e nas barbas das autoridades.
O papo derivou para a dificuldade de se dar um beijo caprichado na namorada antes do namoro completar um mês. O oráculo de araque pegou pesado e disse que num futuro próximo seria comum meninas de 12 anos serem mães. Quase apanhou de novo.
Evaldo e eu começamos a falar de religião e mala interrompeu dizendo que antes de 1980 teríamos um Papa polonês e que um montão de padres pedófilos passariam o rodo em meninos e meninas. Aí não teve jeito e o dito cujo levou uns cascudos. Voltou daí a pouco e ficou rodeando a mesa, apesar das nossas ameaças.
Voltamos à política e o sapo previu que após a primeira década do século XXI ministros de estado e outros figurões veriam o sol nascer quadrado em penitenciarias de Brasília. Continuou com as suas profecias apocalípticas. Possesso, subiu em uma cadeira e disse que o Brasil teria um Presidente da República nordestino, pé-de-cana, semi-analfabeto e ladrão.
A esta altura já olhávamos o maluco com piedade.
Suava frio quando acordei com o sonho ainda nítido em minha mente. Confuso, tive convicção de que o papo com os amigos tinha acontecido ainda a pouco. Sensação horrível. Fiquei por um instante sem saber se era 1970 ou 2015. O lapso temporal me atordoou.
Pior foi dar de cara com a dura realidade quando melhor seria continuar sonhado.
Tudo não passou de uma puta sacanagem do meu inconsciente. Ele se serviu da vida real e a transformou em um sonho. Talvez para me dar uma força. Para que eu siga em frente dentro desta realidade assustadora.

Freud explica?

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