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07/05/2015

UMA BREVE HISTORINHA DO BARULHO
Era uma vez, em uma fábrica de Alumínio, uma panela que tinha uma estranha obsessão. Ela queria deixar de ser panela para ser tambor. Ela até parecia com eles e queria soar como os tambores. Nas vezes que tentou, foi um fracasso. Ela tinha autocrítica e reconheceu que o seu som era estridente e irritante. Os tambores eram do ramo e retumbavam festivos, alegres e vibrantes.
Os tambores estavam sempre saindo de casa e perambulavam por todos os lugares sempre participando de paradas, festas, fanfarras, carnavais.
A panela, coitada, ia somente da prateleira para o fogão, do fogão para a prateleira. Muitas vezes nem prateleira ela tinha para descansar da lida. Pernoitava em um armário escuro e abafado debaixo da pia.
Estava cansada de cozinhar.Todo dia a mesma coisa numa rotina massacrante. Só lembravam dela na hora do almoço e do jantar.
Quando a panela já tinha perdido a esperança de uma vida menos sem graça, aconteceu algo que mudou a sua vida.
A fábrica começou a receber uma enorme quantidade de pedidos. Todo dia saíam caminhões e carretas lotadas. A fábrica começou a trabalhar em 3 turnos, 24 horas por dia, produzindo panelas de todo o tipo. O compradores exigiam somente uma coisa: as panelas tinham que fazer muito barulho quando marteladas por colheres, facas ou qualquer outro material duro o suficiente para fazer uma algazarra.
A panela não entendeu nada e foi perguntar para sua amiga frigideira o que é que estava acontecendo. A frigideira tinha bons contatos na linha de produção. E tinha mesmo. Daí a pouco a voltou com a explicação. Contou para a amiga panela que em um grande país o povo estava indignado com os seus governantes. Entre estes, o povo odiava o mais importante dos figurões. Na verdade, nem era um figurão, era uma figurona. Quem mandava neste país era uma mulher. A grande maioria da população achava que a tal fulana nunca deveria ter saído da cozinha. Ela era uma nulidade e só fazia merda governando o tal país.
E aí? - perguntou a panela para a amiga frigideira. Seguinte, amiga: o povo deste grande país descobriu uma nova maneira de protestar. Eles começaram a bater na gente toda vez que a tal manda-chuva ia falar besteira na televisão. Na rua era a mesma coisa: bastava a fulana botar o pé pra fora do palácio que o panelaço começava.
Antes que eu me esqueça, amiga, tenho uma boa notícia. Amanhã mesmo você vai ser despachada para uma grande loja de uma grande cidade. O pessoal da expedição disse que a tal loja tá com fila de compradores dobrando o quarteirão. A cidade inteira quer por que quer mais e mais panelas.
Acho que vamos tirar uma longas férias longe da cozinha, disse a panela para a frigideira.
A panela não cabia em si de tanta satisfação. Batia a tampa freneticamente já se aquecendo para o próximo panelaço. Sonhar não custa nada e ela queria estrear em uma ampla sacada de um apartamento bem alto. Queria ressoar de dar eco, ecooo, ecoooooo...
Como nesta país as mudanças eram devagar quase parando, a tal fanchona demoraria a cair do cavalo. Logo, a panelada teria um longo tempo para infernizar a dita cuja.
Os tambores foram incluídos fora dessa zueira. Não tinham a menor chance de competir com as panelas.
Em matéria de barulho, não tem para ninguém, somos o máximo em decibéis - comemorava a panelada.
Veja como é a vida, ficou matutando a panela toda feliz: eu que sempre sonhei ser um tambor, agora mais eu. Vira e mexe tô fora da cozinha e dando a minha modesta contribuição para o povão. Jogo nas duas: cozinho e me divirto paca. Quero mais é ver o circo pegar fogo.
Moral da história: toda panela, por mais simples que seja, um dia vai ser panelaço.

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