CORDELZINHO DO HOMEM QUE FAZIA DINHEIRO

Ai que dó do Eike
que subiu que nem rojão.
Foi tão alto, eike medo,
de uma queda foi ao chão.
Furou a terra qual fuinha
pra se dar bem no pré-sal,
não tirou uma gotinha
e todo mundo se mal.

Sonhando cavou um buraco
tão fundo que saiu no Japão.
Depois da derrocada,
sem mãe, nome e dinheiro,
vai passar o ano inteiro
na rua do puteiro,
vendendo água de cheiro,
sabonete e cinzeiro
com o seu jeito folgazão.

Deu pra todos garantia
de que o sonho era real.
Como pôde a fantasia
de uma noite pro dia
acabar em desengano.
Os contratos bisonhos
assinados à revelia
de um pouco de juízo
destruíram muitos sonhos.
Bastava ser preciso
ler com mais atenção
as letrinhas mosquito
que desde pequeno evito
porque nunca facilito
com gente de muita prosa.

No auge foi uma águia,
gavião, harpia e carcará.
Hoje pia no plano
e dizem, se não me engano,
que fala fino, é soprano,
em coral da capitá.

Vai que o EiKe morre...
O que será do seu delfin?
Ele ainda é uma criança
que faz muita lambança
voando no seu mercedes.
De vez em quando atropela
um pobre dum zé ruela
que muito do descuidado
anda na sua magrela
na beira de rodovia
sem lenço e sem documento
e sem saber que acostamento
pra playboy também é pista
e que o lugar de ciclista
é do outro lado da pista
de frente pra contramão.

E aqui termina a triste história
do homem que vendia ilusão.
Dele resta a pose e a moratória,
a marmita vazia e um pedaço de pão.
Desgraça pouca é bobagem
no causo que lhe contei.
Trouxe a verdade na bagagem,
mentira não relatei.
Tire proveito meu amigo:
nunca mire assim tão alto,
repare no próprio umbigo.
Desça antes do salto
e passe adiante o cordel.
Conte a vida deste home
que vaga que nem lobisome,
pelas ruas de Brasília,
sem eira, nem beira e família
catando sócio e compadre
com rezadeira e padre
em pleno planalto central.

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SENSACIONALISTA.UOL.COM.BR|POR EDUARDONFREIRE