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16/06/2021

    O CAPITÃO PRESIDENTE E O COVID ASSASSINO

(As estrepolias do homem das casernas entremeadas com o vírus filho do cão)

O menino já nasceu valente
lá pras bandas de Ervália.
Mal lhe nasceu um dente
já atirava em comunista
antevendo um petralha.
Crescia forte e vigoroso
perambulando pelas matas
farejando guerrilheiro
para o exército brasileiro.
Voltava pra casa feliz
pois já era aprendiz
de sabujo ou perdigueiro.
Ainda rapazola
vivia rondando o quartel
para bater continência
pro Tenente-Coronel.
Seu pai viu que o menino
tinha queda pra milico.
À guisa de capacete
usava um lindo pinico
com uma estrela colada
e a patente de tenente.
Já moço encorpado
fez exames pra academia
lá pras bandas de Resende.
Seu lema a valentia
e nas manobras pelo mato
morria mas não se rendia
porque fora este o trato
com o comandante da companhia.
Graduou-se nas Agulhas Negras
com garbo e afetação.
Preferiu a cavalaria
a atirar com canhão.
Fez carreira
e chegou a Capitão.
Foi então que um belo dia
reclamou do soldo
para ele aberração.
Chamou-lhe às falas
a Justiça Militar.
Mas antes do dia acabar
acabou vencendo a questão.
Foi então que um belo dia
ouviu o canto da sereia
que viria a botar areia
em sua bela ascensão.
Virou então deputado,
fez carreira no congresso
onde na tribuna possesso
esconjurava o centrão.
Nas voltar que a vida dá
pensou em ser presidente
Saiu de todos à frente
cuspindo marimbondo,
falando cobras e lagartos
contra o centrão hediondo
que assaltava a nação.
Começou a campanha sozinho,
com a cara e a coragem.
Perambulou de norte a sul
e de leste a oeste:
dos pampas ao agreste
botou a boca no trombone
contra a política cafajeste.
Enrolado na bandeira
jurou acabar com a mamata,
com a corrupção que mata
mas não deixa vestígio
de sua roubalheira.
Cansado de tantas promessas
o povo comprou a briga
do capitão emergente.
Já foi macaco pendente
pendurado em 8 partidos
até que criou o seu
pois botas nunca lambeu.
Encarou a sopinha de letras
e do caldo indigesto
tirou um P, um S e um L.
Com o apoio do povão,
sem tempo de televisão,
ninguém nele acreditava,
pois quem nasceu pangaré
nunca chega a garanhão.
A Foice de São Paulo,
o Ibope, a Globo e o Estadão
juravam de pé junto
que ele era um canastrão.
Com margem de erro
de zero para mais ou para menos
o intrépido capitão
só tinha uma chance:
ser o último do pelotão.
Sonhar com a presidência
já beirava a demência
a merecer internação.
Contra todos as pesquisas
elegeu-se presidente
desta malsinada nação.
Chamou gente de peso,
de Mandetta a Moro,
mas sem nenhum decorro,
de um dia pro outro
começou a falar palavrão.
Mandetta e Moro brilhavam
mais do que constelação.
Pagaram por sua audácia
de ter mais prestígio
que o canhestro capitão.
Não deu outra e um belo dia
pegou a sua Bic,
esnobou a Monblanc
e de uma canetada
demitiu os dois ministros
amados pela nação.
Não há de ser nada,
vida que segue
com o povo entregue
a mais uma decepção.
Mas como o que está pior
sempre pode piorar,
chegou da China o covid,
praga de arrasar.
Em vez de exemplar o povo
disse que a gripezinha
com ele não vai vingar.
Foi atleta renomado,
tinha o corpo fechado
e nem mesmo uma facada
foi capaz de o derrotar.
A mídia correu pra Brasília
para ao presidente perguntar
o que ele achava da peste
e dos mortos pra enterrar?
"E daí", todo dia gente morre,
é sina dos vivos
encarar a morte.
Todo aquele que nasceu
tem que desencarnar
De olho na reeleição
o destemido capitão
quer o antes do depois
e só pensa em 22.
O poder corrompe
e raro é o homem
imune à supremacia
de mandar e desmandar,
esteja certo ou não.
O canto da sereia
ecoou no planalto,
como ecoa na barra,
em barraco ou casebre,
deixando de salto alto
o pobre e o pobretão.
As chances que ele tinha
a cada dia se esvaem
após cada cagada,
mil e um palavrão.
O povo que tudo tolera,
a quase tudo perdoa,
a quase tudo supera,
menos a traição.
Para ficar por cima,
bem na crista da onda,
não é que capitão
agora é amigo do bloco
que sempre esconjurou
com a bíblia e a cruz na mão?
Desafeto virou compadre,
inimigo virou companheiro,
traíra virou confrade,
pecado agora é virtude
sem risco de excomunhão.
Deixa estar, disse o povo:
nesta fria, de novo,
não iremos entrar.
Noutro conto do vigário
não haveremos de cair,
comprando gato por lebre,
bonde ou o Cristo Redentor
a preço de ocasião.
Que surja um novo messias
sem as manhas deste ardiloso
que engrupiu a nação.
O povo anda cansado
de enterrar seus sonhos,
mesmo os mais bisonhos,
a cada nova eleição.
Se Deus for brasileiro
há de punir por inteiro
a qualquer outro milagreiro.
O Brasil quer melhor sorte
e ainda há de jurar de morte
quem mata a sua ilusão.
Há de ter churrasco na laje,
muita pinga e brahma,
quando um dos nossos,
talvez um negro retinto;
quem sabe o nosso Obama
na Presidência do Brasil?
Enquanto este dia não chega
vamos guardar a bandeira
em nosso peito varonil.
Salve, lindo pendão da esperança.
Um dia serás desfraldado
à brisa que beija e balança,
no mastro mais alto
de nosso amado Brasil

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