A pandemia grassa mundo afora e nesta luta diária, os cientistas dos grandes laboratórios (benfeitores da humanidade), e de órgãos federais de nações (idem), conseguiram a façanha de, em apenas um ano, criar as vacinas para debelar o mal que aterroriza a humanidade.
No mesmo plano, os corpos médicos, enfermeiros(as), técnicos de enfermagem, pessoal de manutenção e administrativo - todos exposto à contaminação diária e, não raro, vítimas fatais do flagelo.
Neste contexto apocalíptico, uma classe é esquecida a nos socorrer, dia e noite, em nosso isolamento.
Refiro-me aos motoboys, bikeboys e outros tantos, do raiar do dia às madrugadas, levando às nossas casas alimentos, remédios e toda sorte de provisões necessárias e muitas vezes indispensáveis.
Mau remunerados, sem uma legislação trabalhista que os ampare minimente; explorados pelos Ifood e outros não menos deploráveis em sua ganância e insensibilidade.
O Ifood, se fosse mais coerente deveria intitular-se Ifoode.
Como sou aposentado e notívago, vire e mexe vou à janela de meu apartamento pitar um cigarrinho, olhar as estrelas e a lua - quando deslumbrantemente cheia.
Não passa meia hora e neste período, vários motoboys transitam fazendo as entregas para os afortunados que podem degustar comidinhas à hora que bem entendem.
Dia dia, o trampo é mais dinâmico e já me dei ao trabalho de contar quantos param na porta de meu prédio (60 apartamentos) Em uma hora já contei 10. Se demorasse mais um pouco, uns vinte acionariam o nosso interfone.
Todo isto, sem falar no perigo de pilotar motos e bikes por ruas e avenidas apinhadas de veículos desproporcionalmente maiores.
Os parachoques dos motoboys e bikeboys são os seus joelhos, seu peito, a cara e a coragem.
Como adoro cozinhar, divido com a patroa o dia a dia na cozinha. Vez ou outra, peço uma pizza, uns torresminhos da hora e outras delícias da culinária mineira - a melhor do mundo. E que me desculpem o bairrismo.
Nestas ocasiões sempre dou uma gorjeta que seguramente é o dobro do que eles recebem de seus patrões sanguessugas.
Tenho a impressão que a comidinha parece mais gostosa. Pode ser uma bobagem, mas fico com a alma mais leve e da janela peço a Deus que os proteja em seu trabalho arriscado, dia e noite nos atendendo com a rapidez de um trem bala, ziguizaqueando entre carros com a perícia de um piloto de fórmula I.
Palmas para os motiboys, bikeboys e assemelhados. Eles merecem.