SÓ
Quando fico nublado
fecho as janelas da alma
para não me chorar.
Sou antigo.
Ponho um Lp na vitrola,
um bolero me rasga o peito
e ponho-me a embriagar.
As horas então mansas
escorrem pelo tempo
com um jeito de lamento
que ecoa sem parar.
Escondo o meu rosto
entre as palmas da mão.
Me escondo em mim mesmo
e no escuro da sala
descortino o teu olhar.
Uma aguardente cai bem...
Molho a palavra,
dou rédeas às juras
e embriagado de ternuras
resgato as que me convém.
Despois me esqueço.
Adormeço
abraçado ao travesseiro.
Faço no quarto um pernoite.
Abro a janela e a rua
com eu não tem ninguém.
O dia me surpreende.
Fecho as cortinas da alma
e tudo que me acalma
contraindica pesar.
Me fecho em copas,
tiro da baralho uma carta
e a ilusão que descarto
é morto que caiu bem.
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