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05/10/2020

 Reeditando

FUI...
Vou-me embora pra Pasárgada,
lá sou amigo do rei.
Se não for possível,
de mala e cuia
me mando pra Xangrilá.
E se lá tiver rainha,
mulher do rei do lugar,
o rei que me desculpe
mas tô de olho na dama
e vou escolher a cama
pra com ela me deitar.
Preciso ir embora urgentemente
pra qualquer lugar longe daqui.
O meu legado de enganos
deixo debaixo dos panos.
Levo comigo quase nada,
somente algumas fantasias
boas de acreditar.
Vou-me embora e vou levar
os meus brinquedos de madeira.
O meu pião predileto
na ponta da fieira
vai rodopiar o mundo
nas voltas que o mundo dá.
Quem sabe encontro Rosinha
que já foi minha rainha
e hoje é apenas saudade:
uma mecha de cabelo,
uma foto 3x4,
uma lágrima furtiva
difícil de disfarçar.
Se eu ficar triste
tem a pracinha e o coreto,
música e bandinha,
moça passando na rua
me prometendo carinho
e namoro de apaixonar.
Vou-me embora pra Pasárgada,
lá é o meu lugar.
Vou encontrar D. Sebastião
e junto vamos lutar
a batalha de Alcácer-Quibir.
Ele vira santo e eu vizir.
Pasárgada fica longe
mas o bom de procurar
é que quanto mais distante
melhor o procurar.
Preciso partir.
O tempo urge.
As asas Ícaro me empresta,
passo longe do sol
que não sou besta
e não vou facilitar.
Se eu cair que seja
em Holambra,
bem no meio das flores:
lírios, avencas, rosas, dálias.
Lá chove água de cheiro
e não preciso ir à venda,
gastar meu pouco dinheiro
só pra te impressionar.
Vou-me embora pra Pasárgada,
lá sou amigo do rei.
Terei a mulher que eu quiser
em minha cama Patente
que sempre entrega a gente
rangendo o vadiar.
Fechei a conta na pensão.
O trem das onze tem horário
e não quero me atrasar.
Vou na janela
comendo frango e farofa,
sem falar de boca cheia
pra não chover farinha
na bela moça ao lado
que já penso em namorar.
Vou, fui pra Pasárgada.
Aqui não fico mais.
Lá sou amigo do rei.
Vou ser amante da rainha
e o rei nem vai notar.

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