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03/12/2017

Reedição de uma fábula plagiada pela história da República de Banânia.

UMA FÁBULA MODERNA
Em um reino muito, muito distante, chamado Reino dos Cristais, o poder era exercido pelos bichos. O homem, animal muito perigoso, estava confinado nas florestas. As cidades do reino, por causa do bicho homem, eram cercadas com altas muralhas para proteger os bichos do perigosíssimo predador.
O Reino dos Cristais era muito rico e a sua principal riqueza uma gigantesca fábrica onde eram produzidos os cristal mais belos e delicados do mundo. Os cristais eram de uma delicadeza sem par. Muitos tinham a espessura de uma folha de papel. As peças para o mercado interno e externo tinham que ser embaladas com todo o esmero de modo a garantir a sua integridade.
O Reino dos Cristais sempre foi uma democracia titubeante e acabara de sair de um período sombrio. Os gorilas foram caíram do cavalo e o poder caiu no colo de um camaleão que sucedera uma sábia coruja. A coruja adoeceu e morreu no dia em que ia tomar posse. O camaleão ficou no lugar da coruja e como era um bicho despreparado, só fez besteira. O reino suportou o camaleão porque tinha fama de reino das bananas e queria melhorar a sua reputação na ONU - Organização da Natureza Unida.
Depois do camaleão o pavão chegou ao poder e a emenda foi pior do que o soneto. O pavão vivia admirando o belo rabo em vez de governar o reino. Para piorar as coisas, o pavão colocou uma gralha meio maluca na gerência geral da fábrica de cristais. A gralha tomou todo o dinheiro da bicharada. Falou e disse que este era o único jeito para tirar o reino e a fábrica do buraco. Deu titica de galinha e o reino, com fábrica e tudo, quase foi pro brejo, onde boa parte das vacas e outros bichos já estavam atolados.
Por sorte, o sucessor imediato do pavão foi o suricate, muito na dele, só observando de cima do morrinho. O suricate era tido e havido como difícil, ressabiado e com memória de elefante. Ele guardava ressentimentos na geladeira para eventuais necessidades de revanche. Muito esperto, o suricate viu que tocar o reino era tarefa para especialistas. E o que ele fez? Fez o certo: reuniu os bichos mais preparados e mandou que eles bolassem um plano para tirar o reino da areia movediça. Deu certo e o Reino dos Cristais voou alto como uma águia.
O suricate ficou no poder pouco tempo, cumprindo o apenas o restante do mandato do pavão. Depois dele veio o Leão, muito vaidoso mas competente. O Reino dos Cristais ia bem e a bicharada estava feliz.
Um belo dia, após de anos de tentativas frustradas, o rato venceu as eleições e de cara inventou as bolsas-canguru, distribuindo comida de graça para a fauna do reino.
Como o rato tinha uma parentada enorme, logo ele deu um jeito de empregar a família e amigos na fábrica de cristais. Muito esperto, matou dois coelhos com uma cajadada só: dependurou os parentes e amigos (tal e qual morcegos) nas araras de emprego da fábrica, garantindo o eleitorado para as próximas eleições.
A bicharada ficou feliz da vida. Quem não quisesse trabalhar poderia ficar em casa, de boa, aguardando as bolsas canguru no fim do mês.
O corvo agourento sempre disse que desgraça pouca é bobagem e o rato em vez de contrariar o adágio fez exatamente contrário: permitiu e até incentivou que vorazes ratazanas infestassem a fábrica de cristais. Não deu outra e a fábrica está em concordata e prestes a falir.
A bicharada entrou em pânico e o coitado do corvo pagou o pato por causa do seu vaticínio fatalista. O rato precisava de um bode expiatório e o tiziu do corvo foi a bola da vez.
Mas como tudo que é bom um dia acaba, o mandato do rato chegou ao fim e foi aí que aconteceu o estouro a boiada. O desinfeliz do rato pegou uma anta desconhecida e, como tinha prestígio junto aos eleitores boca- livre, tanto fez que elegeu a anta em seu lugar. O diabo é que a anta era mais burra do que uma galinha. De cara a anta nomeou centenas de irrequietos chimpanzés para gerenciar os principais departamentos da fábrica de cristais - sem falar que deixou as ratazanas continuarem a festa na fábrica de cristais,
A bicharada está possessa. A quebradeira geral de peças e coleções valiosíssimas ameaça seriamente a sobrevivência da fábrica.
A fauna do Reino dos Cristais quer porque quer dar sumiço na anta destrambelhada.
O corvo virou oráculo. Os bichos querem saber se o reino vai ficar em palpos de aranha caso a anta leve um coice de mula nos fundilhos.
O corvo, para tristeza geral, já avisou que o horizonte é negro como a asa da graúna. O sucessor da anta é uma cobra. Após a cobra, a sucessão cai no colo do gato. Como o gato está na boca do jacaré, não tem ninguém para desatolar a vaca e os demais bichos do Reino dos Cristais.
A hiena morreu de rir com as ironias da vida e com as voltas que o mundo dá: o buchicho está virando alarido e a bicharada está cogitando seriamente reconduzir ao gorilas ao poder.

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