Considero este o melhor "causo" de Joaquim, meu sogro.
Causo verdadeiro como todos os outros.
Causo verdadeiro como todos os outros.
OS CAUSOS DE JOAQUIM MEU SOGRO.
Como já relatei antes, em 1946 Joaquim foi para o Rio de Janeiro tentar melhor sorte, trabalhando na sapataria de um amigo de seu irmão José Duarte. A situação em Guaraciaba estava de amargar. Muitas dívidas no comércio, a sapataria rendendo quase nada e mais um agravante: os preços cobrado pelos consertos eram muito baixos. Joaquim permaneceu no Rio por 9 meses.
Pretendia ficar mais algum tempo, mas a contragosto teve que voltar à Guaraciaba. Edith estava muito doente. Dona Josefá, sua irmã, lhe mandara um telegrama informando o estado de saúde da mulher. Joaquim trocou correspondência com Orlando Jales e este lhe informou que Edith estava muito prostrada, com manchas roxas pelo corpo e muito abatida. Relatou também que havia levado Edith ao Dr. Kovac e este, após vários exames, concluiu que Edith estava bem. Aquele quadro se devia à saudade do marido. Brincou com Orlando Jales e lhe disse que o melhor remédio era a volta de Joaquim. Orlando Jales deu o recado e dias após meu sogro voltou.
Edith "sarou" em menos de uma semana. As manchas sumiram da noite para o dia. Tudo voltou ao normal e ela já estendia as roupas no varal cantando as modinhas de sempre, lépida e fagueira.
Joaquim pagou as dívidas no comércio e com amigos e a vida seguiu.
Mas a situação voltou a se agravar. Os meses foram passando e a sapataria rendia cada vez menos. As dívidas, de novo, aumentavam dia a dia.
Meses depois, a situação ficou insustentável. Os "penduras" no comércio fizeram aniversário.
Certa noite, sentados na cama, Joaquim e Edith comentaram a gravidade da situação. Edith disse então a Joaquim que a festa de Urucânia estava próxima e lhe sugeriu comprar terços, retratos de santos, pentes, espelhos e outras quinquilharias para vender na famosa festa religiosa da cidade vizinha. A festa de Urucânia rivalizava com a não menos famosa festa de Nossa Senhora de Santana.
Com que dinheiro?, perguntou Joaquim. Edith sugeriu pedir um empréstimo a Orlando Jales. Ele relutou mas foi ao encontro de Orlando. Prestimoso como sempre, Orlando prontamente arranjou uma pequena quantia, de modo que o meu sogro pudesse comprar os terço e as bugigangas. O comércio de Guaraciaba era carente e assim meu sogro arrumou um cavalo e foi para Ponte Nova. Comprou os pentes, espelhinhos, os retratos de santos que encontrou e outras miudezas. E os terços? Só com o vigário. Direto para a igreja, procurou pelo pároco que era seu amigo. Joaquim deu azar. O padre viajara por motivo de força maior, deixando um outro em seu lugar. Este lhe informou que o vigário havia incumbido o gerente do Banco do Brasil(não me recordo do seu nome...) de vender os terços, algumas imagens pequenas e retratos de santos. O bancário era o braço direito do pároco e também muito amigo de Joaquim.
Mas como desgraça pouca é bobagem, o gerente só lhe vendeu 1 dúzia de terços e uns poucos exemplares dos produtos citados. Explicou a Joaquim que o estoque de peças estava muito baixo e que ele não poderia vender-lhe mais peças em prejuízo de muitas outras pessoas também interessadas na festa de Urucânia.
Fazer o quê...Joaquim compro o máximo que pôde e partiu rápido em direção de Urucânia. A festa já havia começado . A estrada estava quase intransitável. Milhares de fiéis, carros, carroças, charretes e montarias. Sogrão viu que não chegaria a tempo de arrumar um espaço para expor as mercadorias. Assim como na festa de Santana, Urucânia superlotava. Uma nesga de calçada era praticamente impossível de se conseguir. O que fazer? Observou que muitos outros vendedores rumavam para a cidade.
Mas a dificuldade é uma das mães da criatividade. Joaquim achou a solução. Pensou e agiu. Foi ao encontro dos vendedores, informou-se dos preços das mercadorias e ofereceu o dobro pelos lotes que lhe interessavam. Enquanto uns relutavam outros tantos aceitaram a oferta.
Negócio fechado, Joaquim disparou no meio do povo com duas malas na mão e chegou a Urucânia botando os bofes pra fora. A custo conseguiu uma beirinha na calçada, armou sua barraquinha improvisada e expôs as mercadorias. Uma venda atrás da outra. Quando se deu conta, não havia mais o que vender. E agora? Sair do ponto e pronto...o ponto era de quem chegasse. Safo, contratou o primeiro caboclo forte disponível, deu a metade da quantia combinada para marcar o lugar de sua banca e disparou para a estrada a fim de interceptar os vendedores concorrentes. Usou o mesmo expediente, pagando o dobro pelas mercadorias. Assim como antes, muitos concordaram: conseguiram 100% de lucro, ficaram livres da confusão e do tumulto da cidade, além de pouparem com comida e acomodação.
De volta ao ponto, pagou a metade restante ao caboclo e começou o toma-lá-dá-cá. Aqui um terço, ali mais três; tome sua imagem, senhora. Aqui o seu espelho, senhor. E tome pente e espelho e mais terço e mais isto e aquilo...As notas eram emboladas e colocadas nos bolsos do paletó e da calça e onde mais coubessem. Em poucos horas e o estoque zerou.
Joaquim sentou no meio-fio e chorou. Fez uma prece para Nossa Senhora de Santana, vendeu as malas e tomou o rumo de Guaraciaba com o peito em festa e o coração a gargalhar.
Chegou à noitinha. Imediatamente chamou Edith com um sorriso de orelha a orelha, pedindo que ela se sentasse a seu lado na cama, e que retirasse a colcha. Começou a jogar os bolos de notas em cima da cama. O dinheiro formou uma pirâmide de quase meio metro de altura. Desembolaram as notas uma a uma, contaram e a féria rendeu não sei quantos mil cruzeiros. Uma bolada! Rezaram um terço em agradecimento e foram dormir o sono dos justos.
No dia seguinte Joaquim saiu pagando a Deus e o mundo. Ficou mais uns meses em Guaraciaba e tomou a decisão de mudar-se para Belo Horizonte. Estava cansado de lutar em Guaraciaba. Não queria mais as recorrentes crises financeiras.
Dito e feito. Em dezembro de 1947, Joaquim, Edith e os filhos José, Joaquim e Ana Maria desembarcaram em BH, de mala e cuia.
Pretendia ficar mais algum tempo, mas a contragosto teve que voltar à Guaraciaba. Edith estava muito doente. Dona Josefá, sua irmã, lhe mandara um telegrama informando o estado de saúde da mulher. Joaquim trocou correspondência com Orlando Jales e este lhe informou que Edith estava muito prostrada, com manchas roxas pelo corpo e muito abatida. Relatou também que havia levado Edith ao Dr. Kovac e este, após vários exames, concluiu que Edith estava bem. Aquele quadro se devia à saudade do marido. Brincou com Orlando Jales e lhe disse que o melhor remédio era a volta de Joaquim. Orlando Jales deu o recado e dias após meu sogro voltou.
Edith "sarou" em menos de uma semana. As manchas sumiram da noite para o dia. Tudo voltou ao normal e ela já estendia as roupas no varal cantando as modinhas de sempre, lépida e fagueira.
Joaquim pagou as dívidas no comércio e com amigos e a vida seguiu.
Mas a situação voltou a se agravar. Os meses foram passando e a sapataria rendia cada vez menos. As dívidas, de novo, aumentavam dia a dia.
Meses depois, a situação ficou insustentável. Os "penduras" no comércio fizeram aniversário.
Certa noite, sentados na cama, Joaquim e Edith comentaram a gravidade da situação. Edith disse então a Joaquim que a festa de Urucânia estava próxima e lhe sugeriu comprar terços, retratos de santos, pentes, espelhos e outras quinquilharias para vender na famosa festa religiosa da cidade vizinha. A festa de Urucânia rivalizava com a não menos famosa festa de Nossa Senhora de Santana.
Com que dinheiro?, perguntou Joaquim. Edith sugeriu pedir um empréstimo a Orlando Jales. Ele relutou mas foi ao encontro de Orlando. Prestimoso como sempre, Orlando prontamente arranjou uma pequena quantia, de modo que o meu sogro pudesse comprar os terço e as bugigangas. O comércio de Guaraciaba era carente e assim meu sogro arrumou um cavalo e foi para Ponte Nova. Comprou os pentes, espelhinhos, os retratos de santos que encontrou e outras miudezas. E os terços? Só com o vigário. Direto para a igreja, procurou pelo pároco que era seu amigo. Joaquim deu azar. O padre viajara por motivo de força maior, deixando um outro em seu lugar. Este lhe informou que o vigário havia incumbido o gerente do Banco do Brasil(não me recordo do seu nome...) de vender os terços, algumas imagens pequenas e retratos de santos. O bancário era o braço direito do pároco e também muito amigo de Joaquim.
Mas como desgraça pouca é bobagem, o gerente só lhe vendeu 1 dúzia de terços e uns poucos exemplares dos produtos citados. Explicou a Joaquim que o estoque de peças estava muito baixo e que ele não poderia vender-lhe mais peças em prejuízo de muitas outras pessoas também interessadas na festa de Urucânia.
Fazer o quê...Joaquim compro o máximo que pôde e partiu rápido em direção de Urucânia. A festa já havia começado . A estrada estava quase intransitável. Milhares de fiéis, carros, carroças, charretes e montarias. Sogrão viu que não chegaria a tempo de arrumar um espaço para expor as mercadorias. Assim como na festa de Santana, Urucânia superlotava. Uma nesga de calçada era praticamente impossível de se conseguir. O que fazer? Observou que muitos outros vendedores rumavam para a cidade.
Mas a dificuldade é uma das mães da criatividade. Joaquim achou a solução. Pensou e agiu. Foi ao encontro dos vendedores, informou-se dos preços das mercadorias e ofereceu o dobro pelos lotes que lhe interessavam. Enquanto uns relutavam outros tantos aceitaram a oferta.
Negócio fechado, Joaquim disparou no meio do povo com duas malas na mão e chegou a Urucânia botando os bofes pra fora. A custo conseguiu uma beirinha na calçada, armou sua barraquinha improvisada e expôs as mercadorias. Uma venda atrás da outra. Quando se deu conta, não havia mais o que vender. E agora? Sair do ponto e pronto...o ponto era de quem chegasse. Safo, contratou o primeiro caboclo forte disponível, deu a metade da quantia combinada para marcar o lugar de sua banca e disparou para a estrada a fim de interceptar os vendedores concorrentes. Usou o mesmo expediente, pagando o dobro pelas mercadorias. Assim como antes, muitos concordaram: conseguiram 100% de lucro, ficaram livres da confusão e do tumulto da cidade, além de pouparem com comida e acomodação.
De volta ao ponto, pagou a metade restante ao caboclo e começou o toma-lá-dá-cá. Aqui um terço, ali mais três; tome sua imagem, senhora. Aqui o seu espelho, senhor. E tome pente e espelho e mais terço e mais isto e aquilo...As notas eram emboladas e colocadas nos bolsos do paletó e da calça e onde mais coubessem. Em poucos horas e o estoque zerou.
Joaquim sentou no meio-fio e chorou. Fez uma prece para Nossa Senhora de Santana, vendeu as malas e tomou o rumo de Guaraciaba com o peito em festa e o coração a gargalhar.
Chegou à noitinha. Imediatamente chamou Edith com um sorriso de orelha a orelha, pedindo que ela se sentasse a seu lado na cama, e que retirasse a colcha. Começou a jogar os bolos de notas em cima da cama. O dinheiro formou uma pirâmide de quase meio metro de altura. Desembolaram as notas uma a uma, contaram e a féria rendeu não sei quantos mil cruzeiros. Uma bolada! Rezaram um terço em agradecimento e foram dormir o sono dos justos.
No dia seguinte Joaquim saiu pagando a Deus e o mundo. Ficou mais uns meses em Guaraciaba e tomou a decisão de mudar-se para Belo Horizonte. Estava cansado de lutar em Guaraciaba. Não queria mais as recorrentes crises financeiras.
Dito e feito. Em dezembro de 1947, Joaquim, Edith e os filhos José, Joaquim e Ana Maria desembarcaram em BH, de mala e cuia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário