Reeditando um cordel muito do safado

CORDEL DO CORNO SIDERAL CASADO COM A MULHER CARA DE PAU

Causo verdadeiro e acontecido

lá pras bandas de vitória

no estado do Espírito Santo.

Saiu em tudo que é jornal,

foi notícia em todo canto

e tão grande foi o espanto

que causou um reboliço

pois nunca se viu um chouriço

de um ser espacial

fazer as vezes da linguiça

do nosso corno acidental.

Segundo o relato da moça

que foi abduzida

o Et era um negão

que além das anteninhas,

cabeça sem boca e nariz,

tinha no corpo anormal

uma certa bengala

que mais parecia chouriço

pendurado no varal.

Lavada pra delegacia

a moça contou a aventura

que começou numa praia

onde ela afirma e assegura

que pegava um bronzeado,

muito na sua, deitada,

apenas tomando sol

de frente, de lado

e em decúbito dorsal.

Pouco antes da tardinha

a pobre coitadinha

viu um facho de luz

descendo de um disco

muito do esquisito,

meio comprido e pontudo

parecendo um charuto

bem duro e resoluto

cheio de más intenções.

Continuando o relato,

a moca disse que o disco

era todo muito bonito,

todo ele cercado

de luzinha colorida.

Foi então que de repente

e de uma só sortida

foi então abduzida

pelo OVNI espacial.

Sem lenço e sem documento

partiu na doida viagem

quase nua, sem bagagem

e estojo de maquiagem.

Contou pro delegado

que o seu maior medo

era não fazer boa figura

no planeta dos tarados,

todos mal intencionados.

Dureza foi que a caminho

do planeta tão distante

foi então muito abusada

por um monte de ET.

Um deles teve o desplante

de ligar uma TV

com filme de sacanagem.

Desgraça pouca é bobagem

e a coisa piorou.

O disco tinha um quartinho

onde um monte de escurinho

cobrava ingresso na porta

para dar uma bimbada.

E ela, pobre coitada,

sem ter pra onde fugir,

se viu então obrigada

a dar um trato arretado

em toda a rapaziada.

E aí, o que mais aconteceu?

indagou o delegado

já meio desconfiado.

O que mais sucedeu,

insistiu com a moça

já mal vista e falada,

em outros causo citada

onde sempre sumia

e só reaparecia

quando marido sonado

aparecia sempre de toca,

pedindo providência

na porta da delegacia.

Coçando a cabeça,

o delegado concluiu

que diante dos fatos,

explicações e relatos

deste caso complicado

em que o retrato falado

de ser tão esquisito

quase nada elucidava

para atender ao BO

daquele marido aflito.

Foram todos dispensados.

O corno sorriu sem jeito,

pegou a mulher pelo braço,

depois lhe deu uma abraço

e foi saindo de fininho.

Em seu ouvido, baixinho,

disse um montão de coisa

e exigiu explicação.

Você sumiu sexta-feira,

voltou na quarta de cinzas

e me vem com esta história

com cinquenta tons de cinza,

toda descabelada

e cheia de chupão.

Fale a verdade, mundana,

você não mais me engana.

Onde tu tava acoitada,

não se faça de rogada

e me dê logo explicação.

Meu bem, eu já lhe disse,

se duvida liga pra Dirce,

pois ela já passou

pela mesma situação.

Ela também foi chupada

por um disco voador.

Mas seu marido é diferente,

ele acredita na gente

e não faz dramalhão.

Cornélio é homem justo

lhe dá muito presente

e aceita a explicação.

Deixa de ser desconfiado,

sou mulher de um homem só.

Eu lhe amo, tenha dó.

Já te disse que te amo

e é por isso que eu reclamo:

larga de ser ciumento.

E já vou lhe avisando

vou sair hoje à noite

pra fazer meu pernoite

no turno da Santa Casa.

Não sei volto amanhã

e nem depois de amanhã.

Apareceu uma epidemia

bem pior do que o ebola.

Dizem que contagia

só de chegar perto.

Eu e o Dr. Alberto

já fomos até escalados

pro plantão da madrugada.

Ô meu bem, me desculpe,

mas veja se não demora.

Quando a saudade aperta

seu maridinho não dorme,

e se dorme desperta

abraçado ao travesseiro.

Eu passo o dia inteiro

pensando na minha santa

que cura tanta gente

com carinho e dedicação

É por isso que lhe amo.

Entra ano, sai ano

mais e mais lhe quero bem.

Vou comprar um vaso bonito

com espada de São Jorge

pra mal olhado espantar.

O povo morre de inveja

e a inveja é de amargar,

põe olho gordo pra cima

de tu, minha menina,

que vive pra me agradar.

Que fila é essa na porta?

Tô vendo nela o leiteiro,

o padeiro e pintor.

Nada não, meu amor.

Acabou o leite, o pão

e o reboco caiu.

É tudo boa gente

preocupada com a gente.

Todo dia é desse jeito.

Quando você sai de casa

todos vem me acudir.

Confesso que fico sem jeito

porque a torto e a direito

eles vem me cobrir

de tudo que é gentileza.

O pintor pinta o sete

e o padeiro me amassa,

digo, põe a mão na massa.

O leiteiro é uma gracinha

e já bem de manhãzinha

traz o nosso pão e leite

e diz que a minha rosca

é muito mais gostosa

do que a rosca da rainha.

Vá com Deus, meu amor.

Tá na hora do trabalho.

Não quero fazer feio

com tanta gente lá fora.

Volta logo, não demora.

Tô te esperando aflita,

não precisa entrar na fila.

Mas só por cautela

pega a senha e espera

que logo vou lhe atender.

Quem espera faz a hora,

não esperar acontecer.

Beijinho, beijinho.

Tchau, tchau.

4Maria Cecília Balestreri, Carmem Leonel e outras 2 pessoas