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12/07/2020

Reeditando
OS CAUSOS DE JOAQUIM MEU SOGRO
Grande expectativa em Guaraciaba. Joaquim ia encenar mais uma peça no salão paroquial. O folhetim desta vez era um drama de costumes, mas com ingredientes de tensão envolvendo um romance mal resolvido.
O aparato teve início com a coleta de contribuições para a montagem da peça. Padre Dimas como sempre, de boa vontade disponibilizou o salão paroquial. Da mesma forma a comunidade cedeu, de muito bom grado, o sofá, mesa e cadeiras, enfeites, objetos diversos e as importantíssimas colchas, edredons e tolhas para compor o fundo do cenário e a cortina de cena.
Escolhido o elenco, começaram os ensaios da peça em 3 atos. Os papéis definidos e entre eles o de Zé de Carminha(O nome é fictício. Não me recordo do nome verdadeiro), um dos personagens protagonista.
Tudo corria a contento. As falas bem decoradas, bem como o posicionamento dos atores no palco. Iluminação e cenário nos trinques.
Mas como na vida, tudo vai bem até uma certa hora. Sempre acontece alguma coisa para atrapalhar ou pelos menos para dificultar as coisas. Foi o que sucedeu. Joaquim chegou no ponto em que Zé de Carminha deveria dizer a sua fala, qual seja: se tocares nesta mulher, saco minha pistola e te dou um tiro na cabeça. Zé de Carminha refugou e disse:
- Ô Joaquim, num vô falá isso não.
- Mas por quê, indagou Joaquim?!
- Falar pistola na frente desse povo todo e na frente das muié...vô não.
- Pistola é a mesma coisa que garrucha. Ocê sabe disso, deixa de ser besta, zé. Tem nada de mais.
Zé de Carminha relutantemente aceitou a ponderação de Joaquim.
No dia da estréia, expectativa geral. Dia de domingo, missa dominical concorrida e o melhor: a peça de logo mais, ansiosamente aguardada há dias.
Casa Paroquial lotada. Gente saindo pela janela. Joaquim conferindo os detalhes, preocupado. Elenco reunido nos bastidores. Últimas instruções a todos e particularmente uma conversa para acalmar Zé de Carminha visivelmente nervoso.
A peça agradava por demais. Olhos fixos no palco, ninguém perdia um "A" do texto. No último ato, em um momento de tensão do drama, Zé de Carminha irrompe pela sala e encontra o ator ameaçando bater na atriz. Com elegância, Zé de Carminha para, dá um passo atrás e diz:
- Se tocares nesta mulher, saco a minha garrucha e te dou um tiro na cabeça da PISTOLA
O teatro veio abaixo em gargalhadas. O drama virou comédia e a custo Joaquim pôde dar continuidade ao drama.

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