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31/05/2020

Hoje matei a saudade do meu TRICOLOR.
A rede lodo reprisou a conquista do tetra campeonato brasileiro (2012) com 4 rodadas de antecedência.
FLUSÃO 3 x Palmeiras 2

30/05/2020


- Qual o seu nome, criança?
- 03.
- 03?!...
- Tá surdo, seu 24 $#@#()(*&%
- Vô contá pra tua mãe, desbocado.
- Qui si foda, X9 fio da $%$#$#@(*
- 01, seu filho da @###@!@#%¨%##*, vai comprar leite pra tua mãe.
- Tô inu, painho Segundo Tenente.
- 02, vai lá e aparta a briga do 01 com o 3 #$#@**&&%%#
- Fui, painho.
- 03, limpa a minha 45 e o fuzil. seu bosta #$#@*&*&%#
- Tô inu, painho Primeiro Tenente.
- Bolsonaro, mô, esses meninos tão com a boca muito suja.
- Alguém pediu a tua opinião, sua $#$#@*&*# Lugar de mulher é na cozinha, tá ok, môzão.
- Cuzes, meu capitão!... Desse jeito você vai ser o presidente mais boca suja do país.
- Tô cagando e andando. Comigo é assim... Aproveita e lava as minhas cuecas antes que eu te made pra casa do ##@##@(*&#& Quem não reza pelo meu catecismo tem mais é que tomar no $#$#@(*
- Cuzes, mô! Cê tá tão romântico hoje.
- Qualé,mulé! Romantismo é coisa de viado. Tá me estranhando, sua #$#@#**&&?

29/05/2020

Versim nem aí
Judiciário e o executivo estão no ringue
e o Brasil cambaleia com o golpe certeiro.
O povo apupa, vaia e por mais que xingue,
o covid é que vence a luta no round derradeiro.

28/05/2020

m pouco da cidade do Rio de Janeiro; acho que da década de 60.
-1:47
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27/05/2020

A VISITA DO BISPO
(Estória verdadeira com pinceladas de ficção)
Oliveira Fortes nunca se preparara tanto para uma recepção quanto esta para receber o recém-empossado Arcebispo de Mariana, Don Oscar de Oliveira.
O prefeito, o padre, o delegado e demais proeminências perfilavam-se elegantes, tanto quanto possível, em seus rústicos ternos de brim, reluzentes, aqui e ali, por efeito de ferros de brasa.
Em primeiro plano destacava-se a figura alta e imponente do Coronel Chico Marciano - líder político de Oliveira Fortes e redondezas.
Do alto de seus 90 anos, contemporâneo e amigo íntimo do velho Bias Fortes - primeiro governador republicano de Minas Gerais e fundador da nova capital, Belo Horizonte -, o vetusto coronel esfregava as mãos, impaciente, na expectativa do apito da maria fumaça lá pros lados de sua fazenda, a poucos mais de 1 quilômetro da cidade.
Tudo a contendo, esquadrinhado pelo olhar arguto de Chico Marciano, agradava-lhe, particularmente, o tapete vermelho encomendado em Juiz de Fora, tal qual uma artéria encarnada entre os retângulos formados pela criançada do Grupo Escolar naturalmente nomeado com o seu nome: Francisco Ferreira de Carvalho.
A bandinha atacou um dobrado, ato contínuo à revoada de bandeirolas brancas e amarelas agitadas pelas garotada.
Flores silvestres em arranjos e guirlandas quebravam os ângulos duros da arquitetura impessoal da estação. Aromas suaves abrandavam os suores de boa aflição.
Tudo perfeito. A estação repleta de gente, música, alegria, cores, pompas e circunstâncias garantindo um visual e um clima
que inspiraria pintor naif a transpor para a tela o festivo cenário caipira.
Um apito soou ao longe. Pouco a pouco foi crescendo o tham tcham tcham da maria fumaça. Um frisson percorreu espinhas e nucas bem delineadas por Juquinha barbeiro.
Marreco, simpatia encarnada maquinista 7 fitas, não poderia ter feito melhor ao atacar a curva que antecede a pequena reta da estação. A composição apontou feito tropa desembestada.
Marreco queria impressionar, e impressionou de com força.
Dosando a frenagem com todas as delicadezas, Marreco matutava: "Se freio a maricota na marra, o bispo dá com os cornos no chão" - sorriu matreiro.
A banda regida por João Dulce (um virtuose do sax alto relegado ao ostracismo caipira) tocou uma peça sacra sabidamente do agrado de Don Oscar. A afinação perfeita fez jus à fama da lira municipal.
Coronel Chico Marciano adiantou-se para postar-se ao lado da escada o vagão de primeira classe. Olhares reluziam de expectativa. Don Oscar desceu com elegância e espontânea solenidade.
Dom Oscar aparentava uns 50 anos, se tanto. Homem de boa estatura, bem apessoado, simpático, sorriso franco, de imediato ganhou a simpatia de todos, particularmente das beatas, balzaquianas, senhoras e senhoritas, estas a desnudar pensamentos com sorrisos um tanto ao quanto, por assim dizer, entre as virtudes do céu e as profundezas do inferno.
Suprema afirmação de autoridade, Chico Marciano apenas cumprimentou o Arcebispo. Mão firme apertou a outra eclesiástica a ostentar anel episcopal beijado e quase lambido pelo povo após sucessão de genuflexões e reverências.
Após os breves discursos, conforme recomendação de Chico Marciano, a comitiva rumou para a Fazenda do Formoso, residência do velho coronel.
O ajantarado, lá pelas tantas da tarde, ostentava visuais e aromas numa orgia em que a gula era pecado e os sabores indulgência. (Acredita-se que a tentação da culinária rural mineira tenha o beneplácito do céu).
Servia-se a sobremesa quando Lourdes passou para a cozinha carregando alguma coisa coberta por um alvíssimo pano branco. Parecia um vaso baixo. Daí a pouco voltou com o mesmo vasilhame. Foi e voltou algumas vezes até que, intrigado, o coronel interpelou-a:
- Lourdes, minha filha, o que é isso que você leva pra lá e pra cá, feito uma barata tonta?
- É o xixi do o do sô bispo, coroné. Que cô faço quêli?
- Bebe, Lourdes, bebe... é que nem água benta.
Riso geral, com destaque para a sonora gargalhada de Don Oscar que, em seguida, em um gesto que tocou a todos, candidamente abraçou-a e lhe beijou a testa.
Lourdes tinha uns 40 anos. Negra, solteirona, baixinha, era uma alma santa, uma beatitude entre a inocência das crianças, a pureza de um riacho e o canto de pássaros.
Mais de uma vez fora flagrada deixando os netos pequenos do coronel brincar com o braseiro do fogão a lenha, bulir com facas e outros apetrechos perigosos.
Após o rega-bofe, Lourdes foi para o seu quartinho ajeitar-se para a missa solene de logo mais.
Ajeitou o pixaim para depois domá-lo com a indefectível redinha. Vestiu o seu vestidinho de chita estampado, pegou sua sombrinha (fizesse sol ou chuva), o missal, mesmo que fosse à venda. Em seguida, o potinho de carmim. Desenhou duas rodelas vermelhas sobre as bochechas negras que resultaram dois hematomas à guisa de maquiagem. Arrematando o visual, como de costume, calçou o sapato direito no pé esquerdo e o esquerdo no pé direito.
O largo da igreja fervilhava. Lua cheia humilhava a ridícula iluminação gerada na usina do Piau.
Após a entrada do Coronel Chico Marciano e autoridades, o povo adentrou na casa de Deus disputando, com modos, os bancos insuficientes para a multidão.
Dona Saló ultimou os detalhes tirando o tom para a afinação do coral - vozes comuns em sua maioria, à exceção de seus filhos e filhas que o abrilhantavam com vozes afamadas na região.
Tudo nos conformes, o coral cantou "Adeste Fidelis" tocando corações e mentes.
O silêncio após os cânticos fazia um pigarro soar incomodando.
Naquele tempo a fé era contemplativa certeza e as orações brisa a conduzir delicadamente, como pétalas de dente-de-leão, as preces para para o céu.
Rostos marcados pelo tempo, pela lida diária no campo, sol a sol, iluminavam-se com aquela fé simples e incondicional. Sem constrangimentos lágrimas escorriam pelos leitos de rugas como diamantes de pura sensibilidade.
Padre Alvim, bom de festa e simpatia, pediu a atenção de todos e em breves palavras destacou as honra de receber Sua Excelência Reverendíssima, Don Oscar de Oliveira, Arcebispo de Mariana. Um burburinho revelou a boa acústica da igreja.
Precedido por coroinhas, Don Oscar, devidamente paramentado, cabeça baixa, humilde, percorreu o corredor central até altar.
Cajado na mão direita, mitra e cruz de ouro com bela pedra encarnada ao centro, o Arcebispo era um deslumbramento para os fiéis acostumados à parcimônia das vestes sacerdotais de Padre Alvim.
A cada fileira de bancos, como que ensaiado, cabeças abaixavam-se reverentes à passagem do Arcebispo em sua paciente peregrinação até o altar. Olhares maravilhados.
A missa solene (em latim) teve início.
Don Oscar cumpria o ritual transitando pelo altar com uma suavidade incomum. Pendulares, os turíbulos nublavam a nave de incenso. Tivesse a fé um cheiro, aquele seria o seu aroma. Gente humilde, em sua maioria, cabeças baixas vergadas por respeito e culpas veniais.
Após o evangelho, Don Oscar fez a prática com a humildade de um franciscano. Todos entenderam o sermão. Destoava um ou outro resmungo de Oscalino com suas pretensões intelectuais e trejeitos de nobreza, inconformado com a escassez de termos eruditos, como convinha a um Arcebispo dispor do vernáculo.
Lourdes, boca aberta, não tinha a menor dúvida: Aquilo não era um homem...Era Deus em pessoa ali no altar. Como pode um ser vivente ter aquele brilho e aquelas cores? As pessoa num atina" - matutou Lourdes. "Era Deus, decerto... I como não havera de sê, si toda a cidade tava lá? Tiranu us doente i os mortu qui já morreru, coitadus, tava todu mundo lá... Inté coroné Chico Marciano, qui num ricibia neim u tar di governadô na estação, a pois num tava lá?
Era Deus, sim sinhô"!
Graça alcançada - pensou Lourdes. Segredo só dela, pois toda noite, em suas orações, pedia ao Senhor que se deixasse ver... um tiquim que fosse.
O deus de Lourdes era daquele jeitim, sem tirar neim pôr: um Pai do céu maduro, cabelos grisalhos. Um deus alto, mas não muito, "amodi qui Eli num tinha essas vaidades i num pricisava di artura. Arto qui seje u céu. Num pricisa mais...
E tem mais - pensava Lourdes lá com os seus botões: "Deus é bão, é alegre si ri di tudu, qui neim Eli riu pras criança quandu desceu du treim lá na istação. Eli, iscruvise, tratava todu mundu inguár - inguár Eli tratô ô coroné , ô prefeito i ô delegado i inté ôs trabaiadô tudu.
Era Deus. "Qui mané seu bispo qui nada. I Eli veiu di treim só pra si adivertí qui neim us mininu. Nu tempo Dele num tinha treim pra Eli vê us vagão intortá na curva i vê as coisa passanu ligerô na jinela".
Riso agarrado na cara, Lourdes ria para todos bem na hora da consagração. Nem te ligo, e continuou sorrindo aquele sorriso que os anjos reconheciam.
Bein qui pudia apagá a luiz - pensou. Lourdes imaginava o céu à luz de velas e com cheiro de incenso.
Não mais do que de repente, a luz se apagou, acendendo, de imediato, o sorriso de Lourdes. A usina do Piau não era chamada de vaga-lume atoa.
Mística penumbra de castiçais desenhava sombras com jeito de almas penadas.
Lourdes persignou-se com um pelo-sinal exagerado, mas logo se recompôs ajeitando, ponta de dedos, a redinha sobre o pixaim.
Don Oscar continuava a missa. Seu vulto à luz dos castiçais maiores do altar, aos olhos de Lourdes irradiavam auras e resplendores. Don Oscar e Padre Alvim davam a comunhão. Em fila, após o Coronel Chico Marciano, a comunidade recebeu o Senhor dos Céus e de todo o firmamento.
Lourdes, no fim da fila, timidamente arrastava seu passo miúdo. Seu rosto pequeno sumira sobre o véu.
Ninguém entendeu quando Don Oscar, como que hipnotizado, vacilou por uma pequena eternidade antes de dar a comunhão à Lourdes. Muito menos entenderam o seu rosto transfigurado.
Altas horas, insone, Don Oscar balbuciava preces com a voz trêmula. Lágrimas gotejavam sobre o crucifixo de ouro. Rosto lívido, mãos trêmulas envolvidas pelo terço - um cipoal de contas não mais marcavam a passagem de Ave Marias e Pai Nossos. Tivera uma visão que faria de sua fé, dali em diante, uma pedra mais sólida do que aquela sobre a qual São Pedro edificaria a Igreja de Nosso Senhor.
Do nada, sem efeitos especiais e pirotecnias, um anjo majestoso adiantou-se ao Arcebispo e deu comunhão ao anjo negro e miúdo ajoelhado a seus pés.

26/05/2020

VOCÊS ENGRANDECEM A CIÊNCIA E O BRASIL.Nenhuma descrição de foto disponível.

REEDITANDO
A fantástica vida de minha vó materna - uma mulher muito (mas muito mesmo) à frente do seu tempo.

Nossas vós são um capítulo importante nos primeiros anos de nossa infância. Estórias, beijos e doces poderiam ser a definição de vó. Para mim, o melhor eram as estórias que raramente ouvíamos até o fim, apesar da tentativa de vencer o sono. O final feliz sempre ficava para o dia seguinte. Príncipes e princesas enfim juntos, bruxas e malvados recebendo o merecido castigo.
Fazendo as vezes de vó, anos atrás, contei para os meus filhos a estória de sua bisavó materna: Sylvia Garbero (1907-2004).
Perdoem-me a pretensão, mas a estória de vida de minha vó é uma história com "H" maiúsculo e daria, sem sombra de dúvida, um belo folhetim, mini-série ou até mesmo uma novela global.
Aqui cabem alguns preâmbulos. Este é o primeiro. Não se assustem. Após este, só mais uns, todos necessários para determinar a coragem de vó Sylvia e o porquê do seu DNA trabalhado na audácia e na coragem.
Vó Sylvia era o oposto das avós normais. Estas são senhoras de vida religiosa, comportamento exemplar e total dedicação aos maridos, filhos e netos. Vós normalmente são quietas, mansas, amorosas. Passam o tempo que lhes resta com as suas lembranças, agulhas, tricô, crochê, novelas, rezas, indas e vindas à igreja mais próxima; ou então mimando os netos, transformando em balas, doces e agradinhos o amor que lhes sobra e excede.
Tenham mais um pouco de paciência, pois a personalidade de vó tem muito a ver com a de seu pai e meu bisavó: Jacintho Pedro Garbero(1858-1927).
Bivô Garbero nasceu em Dego, uma pequena vila italiana localizada 50 kms a oeste de Gênova.
Segundo os relatos de família, meu bisavô era filho de um general italiano que lutou com Garibaldi contra o exército austríaco, por ocasião da unificação da Itália.
Sua mãe era a Condessa Divero e naturalmente pertencia à nobreza da região em uma Itália ainda não unificada.
Vó Sylvia nunca se lembrou do nomes dos avós (o general e a Condessa). Nunca entendi o porquê, uma vez que 2 gerações é pouca coisa no tempo.
Para facilitar o entendimento e a fixação dos personagens, eis o galho de minha árvore genealógica do lado materno: Bibivô General gerou Jacintho que gerou Sylvia. Vó Sylvia gerou Shiley, que me gerou.
Voltemos a Jacintho Pedro Garbero - um aventureiro nato. O ragazzo, com apenas 14 anos (pasmem), entrou em um navio cargueiro e clandestino veio parar no Brasil. A família em desespero moveu céus e terras. Por sorte, um parente próximo do general era pároco em algum lugar perto de Juiz de Fora. Após um ano, o pároco localizou Jacintho Pedro Garbero que, à força, foi devolvido à Itália.
Jacintho foi internado (na marra) em um seminário. Aos 18 anos, faltando pouco para se ordenar, fugiu novamente para o Brasil.
Seu pai desistiu. Segundo relatos de vó Sylvia, o general ponderou que o "maledeto" aventureiro agora era maior de idade e que andasse então com as próprias pernas, assumindo os riscos de viver naquela longínqua terra cheia de índios selvagens, feras e perigos mil. A Condessa implorou ao marido que impedisse mais esta loucura do filho Jacintho. O general bateu o pé e não moveu uma palha para resgatar o filho aventureiro.
Bivô Jacintho chegou ao Brasil com uma mão na frente e outra atrás. Como não conhecia ninguém e muito menos o idioma, conseguiu a duras penas arranjar emprego em uma pedreira nas imediações de Juiz e Fora.
Seu trabalho era corta pedras e transformá-las em pé-de-moleque (aquelas pedras pequenas usadas antigamente no calçamento de ruas).
Jacintho Pedro Garbero, filho de general e de Condessa, batalhava de sol a sol (12 horas por dia) para ganhar o seu sustento. Nas horas de raro descanso imagino que se arrependera da loucura que fizera.
Que nada!... vida que segue e ele seguiu firme, forte e convicto.
No seminário, sem mais alternativa e por dever de ofício, estudava as sagradas escrituras e lia compulsivamente autores clássicos, filósofos e a outros tantos autores fora do Index canônico. Muito jovem e se transformara em um homem culto, versado em teologia, filosofia, latim (fluente), grego nos conformes, além do italiano, naturalmente.
Em um país com altíssimo índice de analfabetismo, vô Jacintho era uma joia rara. Muito preparado (como se dizia na época), poucos anos depois aventurou-se no comércio. Neste atividade foi muito bem, obrigado. Mais uns poucos anos e virou fazendeiro. Rapidamente fez fortuna e tornou-se um homem influente e respeitado na região.
Estava com 38 anos e ainda solteiro. A solidão incomodava. Os bordéis da região já não satisfaziam. Precisava casar, criar família e sossegar o facho.
Um compadre seu tinha 4 filhas (solteiras) cuja beleza era cantada em prosa e verso na região. Acontece que esta compadre devia uma considerável quantia a bivô Jacintho. Sabedor de sua solteirice, convidou-o para um ajantarado. Com um pouco de sorte, casava uma das filhas com o compadre endinheirado e de quebra poderia conseguir o perdão para a vultosa dívida. Não lograsse sucesso, na pior das hipóteses conseguiria uma dilatação de prazo no vencimento das duplicatas - de preferência para um futuro distante ou até mesmo para o dia de são-nunca-de tarde.
Mesa posta, filhas na mesa, menos Maria (1885-1953) - a mais nova e na flor dos seus 13 anos.
Vô Jacintho perguntou por Maria. O compadre lhe informou que Maria estava brincando com a sua boneca de paina em cima da goiabeira.
Terminado a ajantarado, vô Jacintho foi conhecer Maria. Minha futura bisavó continuava em cima da goiabeira. O compadre apresentou Maria a meu bisavô. Bivô se encantou com a formusura de Maria que, ato contínuo, beijou a mão do Senhor Jachinto Pedro Garbero, pedindo-lhe a benção.
Após voltaram para a sala de visitar. Maria foi para o seu quarto. Dai a pouco, seu pai a chamou na sala e curto e grosso lhe disse que ela se casaria com o Senhor Jaicntho Pedro Garbero dentro de 6 meses. Maria disse sim, senhor meu pai.
Dito e feito. Jacintho e Maria se casaram. Tiveram 16 filhos e entre eles SYLVIA GARBERO, minha saudosa e muito querida avó. (Bivó Maria chamava o marido de Senhor até a morte do cônjug)
Voltemos à personagem principal.
Vó foi uma mulher muito bonita. Era alta, farta de carnes e por isso muito do agrado dos moços bem-nascidos da região.
Em 1923 casou-se com o meu avô Arthur Emmanuel Barbosa (1897-1950) e em 1924 nascia minha mãe, Shirley Garbero Barbosa.
Vô Arthur era um vistoso homem de olhos verdes, apesar de magro e de baixa estatura.
O problema foi o temperamento de um e outra. Enquanto vó Sylvia era um azougue, vô Arthur era a calma em pessoa. Não poderia dar certo, e não deu mesmo.
Aí começa a saga de vó, pois ela teve a audácia de se separar de vô. Ela pedira o desquite!
Virou mulher desquitada nos anos 30. Pior, virou mulher "largada" e caiu na boca do povo. Era apontada na rua. Foi um Deus nos acuda.
Vó, à custa, foi aceita de volta na casa do pai. Bivô Jacintho falava com a filha apenas o estritamente necessário. Bivô Maria constantemente, mas às escondidas, de modo a não contrariar seu marido.
Devido à péssima reputação de vó Sylvia, vô Arthur conseguiu a guarda de mãe ( então com 3 anos) e a entregou aos cuidados de sua irmã Lulu, que morava em Belo Horizonte, na Rua Pouso Alegre, a 100 metros do apartamento onde morei muitos anos (ironia do destino).
Tia Lulu era casada com um descendente de alemães, Rodolfo não- sei-das-quantas. Ele foi um dos primeiros gerentes da fábrica de cerveja Antártica em BH. A cervejaria ficava ao lado da praça da belíssima estação de trem.
Herr Rodolfo bebia paca. Vivia bêbado e não raro tinha crises de fúria, quebrando toda a casa. Comprava tudo de novo e daí a dias quebrava novamente. Felicidade geral dos comerciantes e tristeza de Tia Lulu. Nestes entrementes, mãe no olho do furação. Em tempo (ia me esquecendo), Tia Lulu tinha uma filha (Edith) que regulava em idade com mãe.
Herr Rodolfo era ciumento possessivo e mantinha a família reclusa. Uma vez ou outra passeava de táxi pela cidade. Depois a mulherada voltava para a gaiola de ouro.
Este foi o início da vida de minha vó transitando pelos primórdios do feminismo. E que feminismo!
Mais adiante meus leitores vão reconhecer que as raras mulheres tidas e havidas como feministas eram fichinha perto de vó Sylvia. Muitas ficaram famosas e mau faladas devido à sua rebeldia e audácia, batendo de frente com as rígidas tradições da época.
A vida de vó deu uma guinada brusca em 1927. Neste ano seu pai morreu deixando uma grande fortuna em contos de réis, propriedades e casas de comércio. Todo este patrimônio, sem falar ainda nas dívidas não pagas por devedores que se aproveitaram da falta de documentos para dar "o cano".
Herança, formal de partilha e a filharada se deu bem.
Passado o luto pela morte de vô Jacintho, a vida seguiu e vó, na flor dos seus vinte e poucos anos, estava incomodada com a solidão. Foi então que conheceu um jovem engenheiro (Dr.Oscar) que vinha a ser diretor financeiro ou administrativo da Estrada de Ferro Central do Brasil ou da Viação Centro Oeste(não sei mais ao certo).
Pintou clima e rolou sentimento. Vó Sylvia mais uma vez deu uma solene banana para a opinião pública e foi morar com o Dr.Oscar. Estamos em 1929 e ela, desquitada, desceu impávida mais um degrau em direção da pouca vergonha e da ignomínia. Virou mulher amigada e esconjurada por todos.
Pouco tempo depois, vó Sylvia RAPTOU mãe na casa da Rua Pouso Alegre, aproveitando-se de uma bobeira de Tia Lulu. E como dinheiro não era problema, embarcaram no transatlântico alemão (CAP ARCONA), vó, minha mãe, o irmão Pompeu e o Dr. Oscar se mandaram para um tour pela Europa. Começaram o périplo por Paris, Bruxelas, Roma e continuaram por outras capitais menos famosas. Durante meses hospedaram-se nos melhores hotéis, vivendo na flauta e gozando o que a vida tem de melhor.
1930 (tchan tchan tchan than). Estoura a revolução, Getúlio Vargas assume o poder e após se instalar no Palácio do Catete, constituiu o seu ministério. Em seguida, foi para o segundo e terceiro escalão, procurando saber quem era quem nas empresas do governo, autarquias, departamentos e etc e tal.
Começou então a dança das cadeiras. Quem estava com o governo permanecia no cargo. Os opositores eram devidamente defenestrados.
Chegou a vez das ferrovias. Cadê o Dr. Oscar? Tá na Europa com a amante. Getúlio deve ter conversado com o Ministro de Viação e Obras Pública e a este deu a incumbência de dar com o pé na bunda do engenheiro ausente e irresponsável.
A troupe voltou correndo para o Brasil mais quebrada do que arroz de terceira. O dinheiro fora dilapidado na farra pelas "Oropa". Pouco tempo depois, desempregado e desmoralizado, Dr. Oscar deu um tiro na cabeça.
Escândalo (de novo), disse-me-disse, fofocas, maledicências.
Vó de novo no olho de um Katrina, sem direito a guarida, proteção e muito menos piedade.
Alguns anos depois conheceu o Dr. Mário Azevedo, delegado de polícia e mais tarde inspetor de ensino na Secretaria de Educação do Estado de Minas Gerais. Não deu outra e vó Sylvia juntou as escovas de dente com o delegado. Virou teuta e manteúda de autoridade policial.
Juiz Fora esconjurava a Jezebel. Era vista como a reencarnação de Lilith, afilhada do diabo e exemplo de tudo de ruim a ser evitado por moças e moçoilas.
Em 1954 vó Sylvia conseguiu ser admitida no SAMDU - o equivalente ao SAMU de hoje. As ambulâncias do SAMDU eram tripuladas por um médico, um enfermeiro(a) e pelo motorista da viatura. Qualquer cidadão ou cidadã poderia solicitar socorro médico 24 horas por dia.
A esta altura da vida, vó Sylvia foi aos poucos resgatando o respeito a que tinha direito e depois o reconhecimento de seu valor como pessoa. Foram anos a fio no SAMDU. Nunca perdeu um dia de serviço e era admirada e respeitada por toda Juiz de Fora. Com a extinção do SAMDU, vó foi para o antigo INAMPS, onde se aposentou por idade após muitos anos de bons serviços prestados à instituição.
Foi reconhecida por sua competência, dedicação e carinho com os acidentados e enfermos. Subia e descia morros e ladeiras, debaixo de chuva, carregando a maca junto com o motorista. Segundo alguns deles, vó tinha mais força do que muitos homens.
Aqui termina a História de minha querida vó Sylvia.
Lembro-me dela com muita saudade e respeito por sua coragem de peitar o mundo e as convenções da época. Vó Sylvia encarou a vida de frente, fez o seu destino e procurou a felicidade em um tempo em que ser feliz dependia da subserviência aos manuais de conduta ditados pela igreja e pela conservadorismo de um sociedade hipócrita e dissimulada. Muitos dos pecados que lhe foram atribuídos eram praticados na calada da noite, nas alcovas, puteiros, becos e esquinas mau iluminadas. Muitas senhoras e mocinhas recatadas pintavam o 7 e levavam nas coxas o que não era permitido pela frente
Vó Sylvia pode ter sido uma das maiores feminista de seu tempo. Sua vida fantástica só não alcançou a notoriedade porque ela foi uma mulher comum, perdida no anonimato de uma cidade interiorana.
Seu legado para família foi a coragem e a valentia para ousar. Só fez mal a si mesma; Pagou em preço muito alto por seu destemor. Foi uma mulher muito adiante do seu tempo e um exemplo, isto sim, de independência, assumindo o leme de sua vida por mares nunca dantes navegados.
Deus a tem, com certeza, porque com a mesma audácia com que encarrou a vida, na mesma proporção, ao longo dela, repartiu solidariedade com os menos favorecidos, jamais deixando de estender a sua mão ou deixando de acolher em seu generoso coração a tantos quando dela precisaram. Apesar dos pesares e tribulações, atingiu alturas e lá de cima, em paz com a sua consciência, sabe que a sua vida (muito além do convencional) valeu a pena.
obs: Transatlâtico alemão Cap Arcona.

25/05/2020

Versim deserto
O Ministério da Saúde virou quartel
sem ordem unida e sem sargento;
mais vazio do que pastel de vento
e banheiro de boteco sem papel.
PITACO
No episódio reunião de Bolsonaro com o seu ministério, três erros e nenhum acerto:
1 - Graças à múmia Celso de Melo, ficou evidente que Bolsonaro comanda o país como se fôssemos soldados e ele um Primeiro Sargento de carreia, daqueles bigodudos e mais grosso do que toco de açougue. Com direito a palavrões, cuspir abelhas e mascar marimbondos.
2 - (?) Desde de quando uma reunião ministerial comandada pelo Presidente da República se equipara a um programa de auditório, assunto para futriqueiras ou escancarada para a torcida do flamengo?
Pelo que me consta reunião de ministério trata de assuntos de estado e portanto é sigilosa.
Se uma reunião ministerial não tem privacidade, imagine nós pobres mortais?
3 - A epidemia não foi pauta, como se nós não contássemos e fôssemos todos filhos da pauta.
Resumo da cagada: um erro ao cubo.

24/05/2020

BAÚ
Baú antigo,
feito com o meu couro,
com cantoneiras
reforçadas de emoção.
Poucos guardados:
um ou outro pacote
que a ponta do laço de fita,
como um oferecido decote,
sugere um puxão.
O cadeado tem segredo
A senha não digo não.
No sótão empoeirado
ouço passos na escada.
Será assombração?
Quase morro de susto.
Era apenas uma lembrança
escalando meu coração.
Na verdadeira caridade, a mão esquerda não sabe o que a direita doou. E vice versa.
Centenas de empresas estão doando $ para combater o covid; distribuindo cestas básicas, EPIs, materiais hospitalares, etc e tal.
Louvável. Mas seria muito mais meritório se tivessem a mesma generosidade em épocas normais.
O Brasil sempre foi carente de tudo um "poucão".
Se assim procedessem suas ajudas atuais não rescenderiam a marketing e propaganda subjacente.
HUMORDIDO
PRÓXIMA REUNIÃO DO MINISTÉRIO SERÁ NO OCTÁGONO DE BRASÍLIA
BRASÍLIA - Com direito a voadoras, chute no saco, rabo de arraia, dedo no olho e outros golpes baixos, Bolsonaro quer muita ação na próxima reunião ministerial.
No primeiro round os ministros podem bater à vontade em todos os desafetos do presidente, a começar pelo supremo. O Ministro Alexandre de Moraes será o primeiro a encarar a fúria do perigoso ministro Abraham Weintraub.
No segundo, a pancadaria será contra a imprensa marrom e vermelha que estão pegando no pé do capitão.
Se houver um terceiro round, a escolha é livre e os serviçais do capitão, cada um de per si, escolherá a sua vítima.
Estão liberados todos os palavrões e xingamentos de baixo calão, sendo que cada capacho ministerial terá direito a réplica e tréplica, desde que estas manifestações de ódio sejam complementadas com agressões físicas e lesões corporais graves.
Cada ministro deverá cuspir no chão, xingar a mãe do desafeto/vítima e/ou traçar uma linha desafiando seu oponente a colocar seu pé após a linha, entrando no território do outro.
Não serão permitidos cumprimentos antes das lutas, devendo o ministro partir para dentro do adversário sem perda de tempo.
O nocaute só será permitido ao presidente, após a cara do adversário se preparada para o golpe final.
A Rede Globo caiu na asneira de tentar comprar os direitos de transmissão, sendo posta para correr dentro de um corredor polonês e debaixo de uma saraivada de voadoras, cocadas e cusparadas.
Devido o sucesso da última reunião ministerial, Bolsonaro declarou: " Todo vagabundo que ousar me criticar será medicado em meu hospital de campanha particular com um mega supositório de cloroquina e hidroxocloquina, tá ok?"