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01/11/2018

CORDEL DO JUIZ QUE ENCAROU O PERIGO E DEBOCHOU DA MORTE.
As aventuras e desventuras de um moço arretado que bateu de frente com a bandidagem nacional
A bem da verdade
não sei onde nasceu
esse minino destemido
que se formou em direito
e que muito prevenido
fez concurso bem feito
pra Juiz federal.
Seu nome é Sérgio Moro
cabra de grande decoro,
compostura e valentia
e caráter sem igual.
Até então desconhecido
trabalhava em Curitiba,
capital do Paraná,
quando de repente,
de supetão, minha gente
caiu em sua mesa,
para sua surpresa
um processo gigantesco
sobre um certo lava-jato
que lavava dinheiro
de um monte de empreiteiro
metidos em rapinagem
numa grande estatal.
Ao bulir com a papelada
descobriu gente graúda
metida até o pescoço
neste angu de caroço.
Tinha gato na tuba
a dar com o pau, moço,
sem falar em político,
ruma de joão-sem-braço,
metendo a mão na grana
que o povo paga de imposto
e que muito a contragosto
toma o rumo da orgia
nesta grande putaria
que financia partido
nesta zona eleitoral.
Dr. Sérgio mau dormia
e o telefone tocava.
Recados a boca pequena
a toda hora chegavam
e ao Dr. ameaçavam.
"Se liga, malandro,
fica na tua e sossega.
Não cutuca onça brava
com a tua vara curta.
Na hora do vamu vê
todo mundo se livra
e vai sobrar para você".
Dr. Sérgio tremeu na base.
E agora, vou em frente,
enfrento esta gente
ou bato em retirada?
Vamu que vamu...
Vou encarrar esta roubada,
vou honrar as minhas calças,
vou encarrar a empreitada
e seja o que Deus quiser.
Mais pode o homem com fé
que uma penca de capeta
engendrando mutreta
pra o povão foder.
A banda vai tocar do meu jeito
e a música dissonante
vai soar que nem berrante
no ouvido da canalha.
Valha-me Deus, me acuda,
me ajude a encher a Papuda
com esta corja de petralha.
Aceito arrego de empreiteiro,
mea culpa de doleiro
e até delação premiada.
Começa a cantar passarinho,
conta tudo direitinho,
não me esconda nada.
Toma tenência do que digo:
não basta abrir o bico.
Quero prova comprovada,
caixa dois, nota fria, contrato,
o PC e toda a papelada.
A escolha é sua meliante:
Se abra comigo, confia,
fala sujeito, segue adiante.
Te dou um refresco na cana,
o regime semi-aberto
e se você não me engana,
posso até considerar
habeas corpus preventivo
e prisão domiciliar.
Enfim chegou a hora
da onça beber água.
Se correr o bicho pega,
se ficar o bicho come.
Fala, desembucha, safado.
Põe a boca no trombone
não se faça de rogado
e entregue a rapaziada.
A Papuda te espera,
os tempos mudaram,
vivemos em outra era.
Chega de rapinagem.
Este povão brasileiro
não merece judiação.
Põe a mão na consciência
tenha um pouco de decência
e a Deus pede perdão.
E assim o Dr. Sérgio
mergulhado no processo
dia a dia vai vencendo
cada etapa, sem descanso,
e sem essa de recesso.
Entra noite, vira dia,
e mais sujeira aparece.
Só com reza brava,
muita fé e muita prece
ainda vai chegar o dia
e a hora do julgamento
da corja safada e vadia,
liderada por jumento
e sucedido pela anta
que foi sua presidanta.
Vou estar vivinho da silva
quando este dia chegar.
Vou correr para a pracinha
e me juntar ao povão
comemorando o feriado
que redimiu a nação.
Quero muito foguetório,
banda de música
e missa em ação de graça.
Acima de tudo quero
aplaudir a quem venero
e tenho admiração.
Rufem os tambores.
Aguenta meu coração.
Olhem só a bela figura
deste juiz arretado
que agora virou estátua
bem no meio da pracinha
no coreto do meu coração.
A nação agradecida
pede à Mãe Compadecida
que cubra com o seu manto
a este homem de bem.
O seu nome no futuro
vai entrar pro panteão
dos homens de valor
que honraram a nação.
Pela parte que me toca
pros meus netos vou contar
a história deste homem
que soube o perigo enfrentar,
expondo-se intimorato,
sem medo de se estrepar.
Este cordel é homenagem
de um caboclo brasileiro
metido a escrevinhar.
Se tomei a liberdade
deste cordel recitar
foi porque a liberdade
sem justiça a lhe guardar
é como servir-se de um pão
que tem pouca farinha
e que não mata a fome
na hora de merendar.

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