DEPENDÊNCIA

À noite, antes de dormir
meu último pensamento é para você.
Que ilumina meu dia com presença,
com o som de sua voz, qual melodia,
como se um coro de anjos cantasse
o sublime amor aos mortais proibido,
posto que é coisa do céu.

Então adormeço como um menino
que aguarda o presente de natal;
como a moça que fita o horizonte
sabendo que ele volta de bem;
... Não quisera partir de mal.

Então eu sonho...
E em meu sonho recorrente
encho um vidro
com milhões de vaga-lumes
que depois liberto
pra te amar rente ao céu.

Acordo e teus olhos
me ofuscam.

Prosaico sirvo a mesa,
estendo a imaginária toalha de linho
e duas taças de cristal.
Antes me sirvo do teu beijo
como fina iguaria
no céu da boca do teu céu.

Sou assim desse jeito:
sonhador, romântico,
invento alegorias,
braçadas de fantasias,
buquês de floradas
jogadas ao vento
deste amor que é vendaval.

De delírio em delírio
vivo o meu doce martírio
vivendo a tua vida,
pois que a minha suprimida
não tem outro ideal.