No dia dos professores (as), uma singela à minha primeira professora.
Oi, Dona Alba, minha querida e saudosa Professora. Hoje a senhora está matriculada no céu.
Queria ter o poder de colocar uma nuvem escura na frente dos seus olhos, de modo que não visse o que acontece aqui em baixo: seus colegas apanham de alunos, as autoridades negligenciam a educação. Falta material, os salários são aviltantes, não há perspectiva de carreira, as verbas para a educação são mau aplicadas ou desviadas, e por ai afora num rosário de malvadezas.
O Brasil não é mais aquele do nosso tempo. Fale com O Diretor. Quem sabe ele dá um jeito e as coisas melhorem pelo menos um pouquinho. A Senhora tem um boletim cheios de notas boas no diário das virtudes.
Me perdoe, eu não deveria ter tocado nestas coisas triste.
Apesar do seu olho direito vazado, a Senhora enxergava como um lince e mostrava a todos nós que todos os horizontes são possíveis, desde que entendêssemos que o estudo é a estrada que leva ao lindo horizonte do conhecimento. A Senhora nos ensinava com as palavras certas para uma turma de 1○ ano primário: "Amole a faca para descascar a laranja. Os livros são a faca e a laranja é o saber. O saber é doce como a laranja campista. As pessoas que estudam ficam melhores: não maltratam passarinhos, respeitam os mais velhos, não jogam casca de banana no chão, não respondem seus pais, amam o nosso querido Brasil, só fazem coisas boas que alegram o nosso Pai do céu.
Quando alguns de nós perturbava a sua aula, nada que um bom puxão de orelhas ou uma reguada na mão não resolvesse. Hoje eu sei que doía mais na Senhora do que em nós. Mas era preciso. Vira e mexe a Senhora nos chamava a atenção: "sem disciplina e ordem está sala de aula vira uma colmeia cutucada com a vara. É um zum-zum danado e eu não quero que as minhas abelhinhas fiquem desatentas. Atenção na aula, abelhinhas.
A Senhora nos amou como amaria aos filhos que não teve. Casou-se com o magistério e dele nunca se separou.
Lembro-me da Senhora com muita gratidão e carinho. Passados mais de 50 anos, seu rosto é nítido como se eu estivesse na primeira carteira vendo suas mãos entrelaçadas na oração que antecedia à primeira aula. A Senhora foi especial e por isso está guardada em minha memória numa caixinha forrada de veludo vermelho, amarrada com laço de fita dourada.
A Senhora me ensinou o caminho das pedras para atravessar o rio da vida. Nenhuma delas falseou e continuo a travessia em segurança. A outra margem está cada dia mais perto. Mais um pouco e avisto, além da bruma do tempo, o atracadouro definitivo. Lá, com certeza, vou reencontrar os que partiram antes de mim. Todos os meus queridos e queridas e entre eles a Senhora sorrindo pra mim e me estendendo a mão para desembarcar.
Hoje sou homem feito, minha mestra querida. Não conquistei o sucesso e muito menos a riqueza. Mais importante foram as sementes virtuosas que a Senhora semeou. Todas vingaram regadas pelo conhecimento, e se uma ou outra não irrompeu não foi por falta de zelo e dedicação de sua parte. Ao contrário, a Senhora foi uma jardineira exemplar sempre atenta a uma ou outra erva daninha que pudesse comprometer o meu crescimento.
A Senhora partiu e me deixou muitos tesouros: honra, responsabilidade, patriotismo, religiosidade, respeito e consideração por meus semelhantes. Ao longo de minha vida fui passando estes valores para os meus filhos.
Neste instante, em alguma sala de aula de grupo escolar, outra mestra como a Senhora ensina o beabá da vida.
Lembrem-se da sua Dona Alba. Faça uma oração. Elas certamente vão receber a sua prece com alegria e saudade nas carteiras da primeira fila do paraíso.
E que o seu recreio seja eterno.
Queria ter o poder de colocar uma nuvem escura na frente dos seus olhos, de modo que não visse o que acontece aqui em baixo: seus colegas apanham de alunos, as autoridades negligenciam a educação. Falta material, os salários são aviltantes, não há perspectiva de carreira, as verbas para a educação são mau aplicadas ou desviadas, e por ai afora num rosário de malvadezas.
O Brasil não é mais aquele do nosso tempo. Fale com O Diretor. Quem sabe ele dá um jeito e as coisas melhorem pelo menos um pouquinho. A Senhora tem um boletim cheios de notas boas no diário das virtudes.
Me perdoe, eu não deveria ter tocado nestas coisas triste.
Apesar do seu olho direito vazado, a Senhora enxergava como um lince e mostrava a todos nós que todos os horizontes são possíveis, desde que entendêssemos que o estudo é a estrada que leva ao lindo horizonte do conhecimento. A Senhora nos ensinava com as palavras certas para uma turma de 1○ ano primário: "Amole a faca para descascar a laranja. Os livros são a faca e a laranja é o saber. O saber é doce como a laranja campista. As pessoas que estudam ficam melhores: não maltratam passarinhos, respeitam os mais velhos, não jogam casca de banana no chão, não respondem seus pais, amam o nosso querido Brasil, só fazem coisas boas que alegram o nosso Pai do céu.
Quando alguns de nós perturbava a sua aula, nada que um bom puxão de orelhas ou uma reguada na mão não resolvesse. Hoje eu sei que doía mais na Senhora do que em nós. Mas era preciso. Vira e mexe a Senhora nos chamava a atenção: "sem disciplina e ordem está sala de aula vira uma colmeia cutucada com a vara. É um zum-zum danado e eu não quero que as minhas abelhinhas fiquem desatentas. Atenção na aula, abelhinhas.
A Senhora nos amou como amaria aos filhos que não teve. Casou-se com o magistério e dele nunca se separou.
Lembro-me da Senhora com muita gratidão e carinho. Passados mais de 50 anos, seu rosto é nítido como se eu estivesse na primeira carteira vendo suas mãos entrelaçadas na oração que antecedia à primeira aula. A Senhora foi especial e por isso está guardada em minha memória numa caixinha forrada de veludo vermelho, amarrada com laço de fita dourada.
A Senhora me ensinou o caminho das pedras para atravessar o rio da vida. Nenhuma delas falseou e continuo a travessia em segurança. A outra margem está cada dia mais perto. Mais um pouco e avisto, além da bruma do tempo, o atracadouro definitivo. Lá, com certeza, vou reencontrar os que partiram antes de mim. Todos os meus queridos e queridas e entre eles a Senhora sorrindo pra mim e me estendendo a mão para desembarcar.
Hoje sou homem feito, minha mestra querida. Não conquistei o sucesso e muito menos a riqueza. Mais importante foram as sementes virtuosas que a Senhora semeou. Todas vingaram regadas pelo conhecimento, e se uma ou outra não irrompeu não foi por falta de zelo e dedicação de sua parte. Ao contrário, a Senhora foi uma jardineira exemplar sempre atenta a uma ou outra erva daninha que pudesse comprometer o meu crescimento.
A Senhora partiu e me deixou muitos tesouros: honra, responsabilidade, patriotismo, religiosidade, respeito e consideração por meus semelhantes. Ao longo de minha vida fui passando estes valores para os meus filhos.
Neste instante, em alguma sala de aula de grupo escolar, outra mestra como a Senhora ensina o beabá da vida.
Lembrem-se da sua Dona Alba. Faça uma oração. Elas certamente vão receber a sua prece com alegria e saudade nas carteiras da primeira fila do paraíso.
E que o seu recreio seja eterno.
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