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17/10/2017

Bença, mãe. 
Se você estivesse comigo, hoje faria 93 anos. Nada então de almoço fora, nada de presente, nada de nada. Comemoro assim mesmo o dia em que a senhora nasceu. Os anjos haverão de aplaudir batendo asas.
Creio que hoje a senhora ganhou de presente um sorriso de Deus. 
Aqui embaixo o dia está triste e coincide com o meu coração.
Quisera ser o seu menino por um dia, voltar no tempo. Hoje apenas. 
A Senhora não volta do armazém da esquina. A rua não tem mais esquina - vai se estreitando no horizonte do tempo e some. Para piorar, hoje não tem sol e a chance de um arco-iris que colorisse o céu com a minha saudade. Quero colo e cafuné. Quero beijo e carinho, mãe.
Mais um pouco e volto ao seu útero pra sentir o calor e o escurinho mais gostoso do mundo. Quisera sentir cosquinhas no meu pé que chuta.
Acho que entendi a minha saudade. Ela quer que eu volte ao início, ao nascer de novo. Minha memória quer combinar novamente as cartas do nosso baralho.
O jogo acabou. Falta o último par. Estou ímpar.

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