RETORNO

Para algum lugar do passado
me mudei ainda ontem.
Comigo quase nada
e sem excesso de bagagem
desembarquei aliviado.
Nada mais pesa,
exceto a cautela
aos poucos aliviada
pra não saber voltar.

O trem apontou na curva,
na janela angustiado
contei os minutos
já desembarcado.
Na estação vazia
um vulto divisei,
o lenço acenado
passou pano na saudade
no vidro outrora bafejado.

O sol da tarde
fez tudo dourado.
Andorinhas revoavam
e o sino em Angelus
dobrou harmonizado.

Seguimos de mãos dadas
pela estrada de terra
por barrancos balizada.
Nenhuma palavra dita...
Nenhuma precisava.

Chegamos em casa...
Sentamos na varanda,
nos beijamos namorados.
Fomos deitar.
Apagamos as luzes,
rezamos
e dormimos abraçados.