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28/03/2017

SAUDADES
Minha querida Juiz de Fora nos anos 50, ou talvez um pouco antes - já que a foto não registra data.
Em 1957 minha família mudou-se de Oliveira Fortes, terra de meu avô paterno, para Juiz de Fora.
Tomei um choque cultural aos 8 anos. Oliveira Fortes tinha mais ou menos 2500 habitantes. A maior cidade que conhecia era Santos Dumont, minha terra, com aproximadamente 30 mil habitantes.
Juiz de Fora tinha 150 mil habitantes, avenidas largas, BONDES e um parque industrial predominantemente têxtil a lhe conferir a reputação de Manchester Mineira. Sem falar no estádio do Sport Clube com capacidade para mais de 3000 torcedores, na Universidade Federal, vários cinemas, comércio sortido e variado, além do chic Hotel Imperial e outras atrações que embasbacaram a minha meninice caipira.
Fiz, com atraso, o primeiro ano do primário no Colégio Santos Anjos. Em 58 fui para o Colégio dos Jesuítas e pertenci às suas primeiras turmas, alojado em uma construção precária e provisória.
Guardo com carinho a lembrança do enérgico padre Herrera, espanhol grandalhão de olhos azuis que cuspiam fogo diante de nossas pequeninas e eventuais artes. Pura aparência. Era um bom homem e nos estimulava a estudar com argumentos irrefutáveis. Padre Herrera adorava futebol. Virava e mexia, participava de nossas peladas no campinho de terra. Corria o tempo todo segurando a batina com as duas mãos, levantando poeira e as nossas gargalhadas. Bom de bola, atleta e juiz ao mesmo tempo, sempre roubava para o seu time.
Padre Mallory, ao contrário, era um anjo de batina. Professor de Português - se a memória não engana -, transpirava ternura e bondade.
Lá se vão 60 anos e a minha JF transformou-se em uma pequena metrópole, embora conserve, não sei como, um jeitão de cidade do interior.
Preciso fazer uma camiseta e estampar no peito "I Love JF". Quero ser um outdoor móvel anunciando o meu amor.
Chupa, NY.

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