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08/08/2016

O CANARINHO MORREU
Tudo começou a desandar em 1994, quando nossos cartolas descobriram o Eldorado europeu e começaram a vender nossos jogadores a peso de ouro.
Nossos "craques" enricaram do dia para a noite com salários estratosféricos - sem falar nos direitos de imagem, publicidade, 15% a título de luvas e outras vantagen$.
Passaram a ser estrelas nos timaços da Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha.
Acostumaram a vencer e quando perdiam, tinham o consolo de uma conta bancária milionária.
Vida que segue, perder faz parte, e quando, à noite, a derrota lhes perturbava, logo logo o extrato bancário repleto de zeros sedavam brios e adoçavam o gosto amargo das derrotas.
A realidade agora era outra: carros de alto luxo, mulheres deslumbrantes, compras nas melhores lojas do planeta, boites e baladas alto nível.
A seleção brasileira passou a ser um incômodo. Convocações para amistosos, torneios caça-niqueis e até para a eliminatórias para a próxima copa do mundo viraram um "pé no saco". Convocações? Tudo bem, desde que para a próxima a copa do mundo. Se fizessem boa figura, fossem campeões, vice, os passes valorizariam e os cartolas europeus acenariam com mais maços e maços de euros.
Podes crer, amizade...aí são outros quinhentos. É com nós mermo - diriam sastifeitos.
Até 1994, ruas enfeitadas de bandeiras, ruas pintadas, rádios e televisões dedicando generosos espaços em suas grades de programação. Um frisson em cada esquina, debates calorosos conta e a favor da convocação.O Brasil parava na expectativa da copa do mundo. Uma loucura sadia; almas na ponta na chuteira verde e amarela.
Em 1998, diminuiu...Menos tudo: bandeiras e bandeirolas; rádios e televisões ainda interessados, discussões menos acaloradas, etc etc.
2002, um pouco menos. O frisson passou a um arrepio leve, mas ainda um arrepio.
2006, menos, bem menos. 2010, menos, menos e menos. 2014......nem é bom lembrar.
As ruas e esquinas esvaziaram-se. O colorido verde e amarelo desapareceu das janelas, mastros improvisados. A copa do mundo tem a empolgação de um dia de semana qualquer. Parece que os jogos são os de um campeonato comum. O entusiasmo foi morrendo, morrendo.. morreu de morte natural.
Hoje a copa do mundo caminha para o desinteresse da fórmula-1 sem os grandes pilotos. A audiência despenca e nem de longe se compara aos tempos áureos dos timaços canarinhos selecionados com dificuldades, tal a profusão de grandes jogadores. Todos jogavam no Brasil e o canto da sereia européia era inaudível.
Dias atrás empatamos com a poderosa seleção do Iraque.
Não se surpreenda se amanhã ou depois de amanhã nossos "craques", capitaneados por Neymar, sejam surpreendidos em uma boite top do primeiro mundo, cercados de marias chuteiras louras. Ninguém é de ferro ou tem sangue da barata. É preciso afogar as mágoas após o empate vexatório com a indigente seleção iraquiana.
A camisa verde e amarela estampada com 5 estrelas - antes uma armadura de tropas de primeira linha de infantaria, está pendurada nos cabides do esquecimento, em um velho armário decorado com figurinhas dos Pelés e Garrinchas de um passado recente.
Antes os jogadores matariam para envergá-la. Era uma honra vestir a segunda bandeira nacional.

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