Hoje é dia dos pais. É nosso dia, pais do Brasil. Dia de ganhar pente, gravata de papel, se nossas crianças ainda estão no pré-primário. Ou então dia de ganhar gravata de verdade, perfume, camisa ou CD, se os nossos filhos já estão crescidinhos.
Confesso que sempre tive inveja do dia das mães. Isto sim é um dia comemorativo. Com direito a missa nos colégios, banda de música e fanfarra, poesias, eletrodomésticos de última geração, almoço nos melhores restaurantes e outros mimos comprados nos melhores shopping-centers.
Sei muito bem que mãe é uma só e que pai pode ser um ou outro. Tudo bem...mas ainda assim acho que o nosso dia merecia um pouco mais de cerimônia. Não tanto quanto o dia das mães, admito. Afinal, mãe é mãe, como disse o filósofo Jô Soares.
Estamos sempre em desvantagem. Mas se Deus fez assim, deve ter lá os seus motivos. Entre eles, um é por demais evidente: a mulher é a viga mestra da família. Deus não comete erros, mas no momento em que expulsou Adão e Eva do paraíso ou permitiu que o macaco descesse da árvore e caminhasse ereto, Ele soube que a criatura ficou, digamos, meio fora de controle tendendo para uma promiscuidade imemorial. Esta tendência para olhar comprido para a mulher do vizinho pode ter sido, eu diria, uma espécie de vacilo do controle de qualidade na evolução da espécie, agora entregue à natureza e portanto sem os rigores e a perfeição da obra divina.
Acho que há lógica nesta minha conjectura. Fico imaginando se a mulher fosse promiscua e o homem comportado. Neste caso, a população do mundo já teria ultrapassado 50 bilhões de almas. A natureza é sábia e conteve a libido da mulher e caprichou na ternura. Melhor a cabra presa e o bode solto.
Perdemos para o natal, para o dia das mães; perdemos até para o coelhinho da páscoa e para o dia dos namorados. Os caixas das lojas confirmam este ranking sem jeito e nós somos os lanterninhas do faturamento.
Ainda assim ser pai é uma maravilha.
Nosso colo não tem o aconchego do colinho de mãe. Não amamentamos e o nosso carinho não tem aquela suavidade que dá sono e muitas vezes dispensa a canção de ninar. A musiquinha, às vezes, chega a ser uma redundância.
A gestação nos humilha por 42 semanas e a nossa participação fica reduzida a um verbete de uma enciclopédia.
Amamos nossos filhos de uma maneira diferente mas nem por isso menos importante na formação de homens e mulheres de caráter. Muitos de nós deixamos de herança apenas o legado de uma vida reta, digna, exemplar. E se nossos filhos crescem praticando virtudes que aprenderam conosco, então a paternidade se aproxima da maternidade. O que fica é o exemplo. Discurso moralista e oba-oba são palavras ao vento e nunca educaram ninguém.
Somos pais e é bom dizer isto de boca cheia. E apesar das desvantagens em relação às mães, esperamos, de fato, apenas o amor de nossos filhos. Carinho, sempre, e gratidão, se merecermos.
Almocem com a gente. Batam um fio, passem mensagens, "zapzap" ou equivalentes. Abracem-nos com ternura - é o quanto basta para derreter nossos corações de manteiga.
Somos mães masculinizadas que escondem o choro para preservar a nossa imagem de super-heróis. Como antigamente.
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