ONTEM
Joguei o meu peão
e no rodopio
o peste resvalou na memória
e furou meu coração.
Tracei o triângulo,
apurei a mira
e a minha bolinha
tirou da geometria
a sua que saia
pra fazer companhia
a outras tantas
da minha coleção.
No campinho de pelada
dei um baile no garrincha
e o pelé foi meu joão.
De Kchute, conga
ou de Bamba
fui o bamba
da seleção.
Sou mocinho,
fui bandido.
Mãos ao alto,
não se mexa...
Tá morto.
Meu revólver
dá mil tiros,
nunca falha,
não masca.
Sou bom de mira
e sempre acerto
o coração.
Morria e não sangrava
sempre renascido
galopando meu alazão.
Com a máscara do Zorro,
tonto de emoção,
deixei a marca da caveira
na cara do bandidão.
Quando a barra pesava
sempre me acudia
o 7 de Cavalaria
ou então Jerônimo,
o herói do sertão.
O vento ventava em agosto,
o papagaio subia
pra cair, que merda,
bem no teto da vizinha,
de onde eu sempre caia
Catapimba no chão.
Ralava o joelho,
me esfolava todo,
engolia o choro.
Sou macho.
Homem que homem
não chora.
Só de noite,
debaixo das cobertas,
escondido de Ritinha,
dona do meu coração.
A vida foi pendendo a graça
e a emoção.
Por rebeldia
um dia volto
pras planícies do Arizona
ou pro luar do sertão.
Aqui não fico.
Vou pra matinê,
ver meu seriado
que tem continuação.
Vou trocar gibi
antes da sessão.
Com sorte vejo Ritinha
e morro durante a sessão.
The End
Por FLUnômeno — 10:47