REEDITANDO SAUDADES
Fiquei velho.
Sou do tempo em que se pedia a benção aos mais velhos. Se fosse parente, tio,tia, avô, avó, a benção era acompanhada do beija-mãos.
Sou do tempo em que as professoras e professores eram vistos com respeito e admiração. Do tempo em que sabíamos os nomes das autoridades e da época em que elas ficavam 5 anos à frente de seus ministérios, secretarias de estado e até de repartições e departamentos de ensino estadual.
Sou do tempo em que brincávamos na rua e nossos pais não se preocupavam. Sou do tempo das missas cheias aos domingos e dos terços, às sete da noite. Da coroação de Maria e das fotos solenes de primeira comunhão; das férias nas fazendas de nossos avós e das festas juninas verdadeiramente caipiras.
Sou da época das quermesses no largo da matriz, das bandas de música, do namoro no coreto e dos rubores ao primeiro beijo. Sou do tempo das horas dançantes, do Cuba Libre e dos coquetéis calcinha de nylon.
Sou do tempo do primeiro rádio portátil transistorizado, das primeiras lotações Mercedez Benz focinhudas, com apenas 24 lugares, do drops Dulcora e do pão de queijo vendido na rua, em balaios forrados com panos de prato branquíssimos, alvejados com anil. Do tempo do footing na avenida principal da cidade, dos olhares tímidos e dos bailes à meia luz.
Sou da era dos bondes - ventilados, baratos e seguros. Sou da época dos alfaiates e costureiras, dos penteados bolo de noiva, das camisas volta ao mundo, dos ternos da Ducal, da Mesbla e de outros magazines; do tergal e das saias plissadas.
Sou do tempo dos brinquedos Estrela, Troll e Glaslite. Da época das matinês aos domingos nos cinemas lotados, dos seriados em preto e branco; de Roy Rogers e dos gibis do Cavaleiro Negro, Kid Colt, Zorro e Tonto, Fantasma; das foto-novelas e dos romances água-com-açúcar de Madame Delly; das moças românticas e sonhadoras. Sou dos tempos das novelas no rádio: O Direito de Nascer e os seus 95% de audiência às sete da noite. O Brasil parava. Mas parava mesmo, aflito, aguardando a revelação de Dom Rafael Zamorra de Juncal a Albertinho Limonta e Izabel Cristina. Sou do tempo das aventuras eletrizantes de Jerônimo e Moleque Saci.
Sou do tempo da Revista do Rádio, das marchinhas de carnaval, da Rádio Nacional, do Balança Mas Não Cai, PRK-30, Papel Carbono, César Ladeira e César de Alencar; do sucesso de Marlene, Emilinha Borba, Chico Alves, Vicente Celestino, Orlando Silva, Demônios da Garoa, Trio Irakitam, Cauby Peixoto, Ângela Maria, Elizeth Cardoso, Sílvio Caldas; da Bossa Nova, Tom Jobim, Francis Hime, Vinícius de Moraes, Johny Half, Menescal, Silvinha Telles, Lana Bittencourt, Doris Monteiro.
Sou do tempo do Teatro de Revista e das vedetes de carnes fartas e curvas perigosas: Virgínia Lane, Ilza Carla e outras pródigas em rebolados e maiôs ousadíssimos. Sou do tempo das chanchadas, Oscarito, Grande Otelo e Mazzaropi.
Sou dos tempos idos da TV Rio, Tupi e Record: Noite de Gala, Flávio Cavalcante, Chacrinha, O Céu é o Limite; de J. Silvestre e Blota Júnior.
Apaixonei-me pelas garota-propaganda e de sua rainha, Neide Aparecida.
Sou do tempo do futebol bem jogado, do amor à camisa e dos craques de verdade. Sou da época da Seleção Canarinho e ganhador das copas de 58, 62 e 70. Sou do tempo das transmissões de jogos pelo rádio a nos matar de expectativa e aflição. Joguei com bola de gomos costurados (Drible) e das fintas desconcertante de Garrincha, da elegância de Newton Santos e das maravilhas do Pelé. Fui telespectador de uma mesa redonda que faz as de hoje parecer um amontoado de palpiteiros. Os comentaristas eram nada mais nada menos que Nelson Rodrigues, João Saldanha, José Maria Scassa e Armando Nogueira.
Sou do tempo das cadeiras na calçada e dos dedos de prosa entre vizinhos enquanto brincávamos na rua jogando pelada, queimada, pião, bolinha de gude ou soltando papagaio em agosto, mês dos bons ventos, e das meninas brincando de boneca, casinha, pique-esconde ou jogando bibloquê.
Sou da época de um Brasil simples e feliz, apesar de carente dos confortos e facilidades hoje travestidas de qualidade de vida.
Sou da época de uma nação inocente e que se satisfazia com muito pouco. Éramos felizes sem nos dar conta que a felicidade dormia conosco bem cedo, acordando as 6 da matina para ir para o ginásio a pé ou de bicicleta. Sou dos idos tempos do café da manhã frugal, com pão, manteiga e café com leite. Sou da época do rádio ou televisão permitidos no máximo até meia-noite, quando as emissoras saiam do ar.
Éramos felizes sem saber que dormir com portas e janelas abertas seria um sonho no futuro. Sonhávamos que um dia alcançaríamos o brasilian way of life e os padrões de conforto dos americanos, seus eletrônicos, automóveis, Shoppings e confortos de primeiro mundo. Conseguimos.
E agora eu me pergunto onde mora a tal felicidade? Continuamos procurando ou vamos reinventar um país. Porque este que aí está não me diz respeito. Não me pertence. Quero o meu Brasil antigo. Abro mão do luxo e do lixo. Quero de volta os valores, princípios e tradições. Quero a simplicidade e a inocência perdida. Quero ser demodée, cafona, antigo.
Quero ser o que fui, e não sou mais.
Sou do tempo em que se pedia a benção aos mais velhos. Se fosse parente, tio,tia, avô, avó, a benção era acompanhada do beija-mãos.
Sou do tempo em que as professoras e professores eram vistos com respeito e admiração. Do tempo em que sabíamos os nomes das autoridades e da época em que elas ficavam 5 anos à frente de seus ministérios, secretarias de estado e até de repartições e departamentos de ensino estadual.
Sou do tempo em que brincávamos na rua e nossos pais não se preocupavam. Sou do tempo das missas cheias aos domingos e dos terços, às sete da noite. Da coroação de Maria e das fotos solenes de primeira comunhão; das férias nas fazendas de nossos avós e das festas juninas verdadeiramente caipiras.
Sou da época das quermesses no largo da matriz, das bandas de música, do namoro no coreto e dos rubores ao primeiro beijo. Sou do tempo das horas dançantes, do Cuba Libre e dos coquetéis calcinha de nylon.
Sou do tempo do primeiro rádio portátil transistorizado, das primeiras lotações Mercedez Benz focinhudas, com apenas 24 lugares, do drops Dulcora e do pão de queijo vendido na rua, em balaios forrados com panos de prato branquíssimos, alvejados com anil. Do tempo do footing na avenida principal da cidade, dos olhares tímidos e dos bailes à meia luz.
Sou da era dos bondes - ventilados, baratos e seguros. Sou da época dos alfaiates e costureiras, dos penteados bolo de noiva, das camisas volta ao mundo, dos ternos da Ducal, da Mesbla e de outros magazines; do tergal e das saias plissadas.
Sou do tempo dos brinquedos Estrela, Troll e Glaslite. Da época das matinês aos domingos nos cinemas lotados, dos seriados em preto e branco; de Roy Rogers e dos gibis do Cavaleiro Negro, Kid Colt, Zorro e Tonto, Fantasma; das foto-novelas e dos romances água-com-açúcar de Madame Delly; das moças românticas e sonhadoras. Sou dos tempos das novelas no rádio: O Direito de Nascer e os seus 95% de audiência às sete da noite. O Brasil parava. Mas parava mesmo, aflito, aguardando a revelação de Dom Rafael Zamorra de Juncal a Albertinho Limonta e Izabel Cristina. Sou do tempo das aventuras eletrizantes de Jerônimo e Moleque Saci.
Sou do tempo da Revista do Rádio, das marchinhas de carnaval, da Rádio Nacional, do Balança Mas Não Cai, PRK-30, Papel Carbono, César Ladeira e César de Alencar; do sucesso de Marlene, Emilinha Borba, Chico Alves, Vicente Celestino, Orlando Silva, Demônios da Garoa, Trio Irakitam, Cauby Peixoto, Ângela Maria, Elizeth Cardoso, Sílvio Caldas; da Bossa Nova, Tom Jobim, Francis Hime, Vinícius de Moraes, Johny Half, Menescal, Silvinha Telles, Lana Bittencourt, Doris Monteiro.
Sou do tempo do Teatro de Revista e das vedetes de carnes fartas e curvas perigosas: Virgínia Lane, Ilza Carla e outras pródigas em rebolados e maiôs ousadíssimos. Sou do tempo das chanchadas, Oscarito, Grande Otelo e Mazzaropi.
Sou dos tempos idos da TV Rio, Tupi e Record: Noite de Gala, Flávio Cavalcante, Chacrinha, O Céu é o Limite; de J. Silvestre e Blota Júnior.
Apaixonei-me pelas garota-propaganda e de sua rainha, Neide Aparecida.
Sou do tempo do futebol bem jogado, do amor à camisa e dos craques de verdade. Sou da época da Seleção Canarinho e ganhador das copas de 58, 62 e 70. Sou do tempo das transmissões de jogos pelo rádio a nos matar de expectativa e aflição. Joguei com bola de gomos costurados (Drible) e das fintas desconcertante de Garrincha, da elegância de Newton Santos e das maravilhas do Pelé. Fui telespectador de uma mesa redonda que faz as de hoje parecer um amontoado de palpiteiros. Os comentaristas eram nada mais nada menos que Nelson Rodrigues, João Saldanha, José Maria Scassa e Armando Nogueira.
Sou do tempo das cadeiras na calçada e dos dedos de prosa entre vizinhos enquanto brincávamos na rua jogando pelada, queimada, pião, bolinha de gude ou soltando papagaio em agosto, mês dos bons ventos, e das meninas brincando de boneca, casinha, pique-esconde ou jogando bibloquê.
Sou da época de um Brasil simples e feliz, apesar de carente dos confortos e facilidades hoje travestidas de qualidade de vida.
Sou da época de uma nação inocente e que se satisfazia com muito pouco. Éramos felizes sem nos dar conta que a felicidade dormia conosco bem cedo, acordando as 6 da matina para ir para o ginásio a pé ou de bicicleta. Sou dos idos tempos do café da manhã frugal, com pão, manteiga e café com leite. Sou da época do rádio ou televisão permitidos no máximo até meia-noite, quando as emissoras saiam do ar.
Éramos felizes sem saber que dormir com portas e janelas abertas seria um sonho no futuro. Sonhávamos que um dia alcançaríamos o brasilian way of life e os padrões de conforto dos americanos, seus eletrônicos, automóveis, Shoppings e confortos de primeiro mundo. Conseguimos.
E agora eu me pergunto onde mora a tal felicidade? Continuamos procurando ou vamos reinventar um país. Porque este que aí está não me diz respeito. Não me pertence. Quero o meu Brasil antigo. Abro mão do luxo e do lixo. Quero de volta os valores, princípios e tradições. Quero a simplicidade e a inocência perdida. Quero ser demodée, cafona, antigo.
Quero ser o que fui, e não sou mais.
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