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16/10/2018

Muito bom. Ele também me passa esta impressão - como se fôssemos amigos de infância, companheiros nas peladas, no jogo de bolinhas de gude, de jogar pião e empinar papagaio em agosto. Ele é o que é, se parece com gente da mesma rua. A cara, o tempo vai erodindo. A alma permanece a mesma e continua vizinha, parede e meia com as amizades de antigamente.
Rita Moss
A PESSOA BOLSONARO
Enio Mainardi
Sem rodear muito, eu digo que gosto dele. Não vou aqui falar do homem político. Mas do sujeito que ele é. Nós tivemos só uma conversa comprida, em minha casa, trazido pelo filho Eduardo. Mas não vou contar nada do que conversamos, tomando café. É do jeito do Bolsonaro que me interessa falar.
Ele te olha insistentemente nos olhos. Isso é uma chave para mim, odeio os que não se deixam conhecer, fechando a janela da alma. Ele não é um cara fino, absolutamente. Sem chances. Por exemplo, o Príncipe é fino. Tem hábitos e treinamento de pessoa formalmente educada. Não o Bolsonaro. Ele dá a impressão de ter crescido com uma molecada da rua, num bairro de classe média para baixo.
Essa é outra coisa que reconheci, logo que trocamos as primeiras palavras. Eu também sou assim, com muitas cicatrizes para contar minha história. O Bolsonaro é meio desconfiado, atento, se cuide porque você não está trocando chumbo com uma pessoa maneirosa. O Bolsonaro quer te mostrar a carteira de identidade, logo de cara - e quer que você faça o mesmo, depressinha.
A linguagem corporal dele, suas palavras, presença, aura, quer te comunicar claramente se ele gosta ou não de você. Se estivéssemos na selva e fôssemos dois macacos, ele não se aproximaria sem saber se você é um amigo ou inimigo. Mas é o macaco que coçaria tuas costas se houvesse uma química amigável contigo.
O Bolsonaro sabe ouvir. E tira conclusões rapidinho do que você lhe fala. Não joga conversa fora. Quer se mostrar com franqueza, ainda que seja só para forçar você a ser honesto com tuas palavras. Eu sei disso porque tive que viver sempre na defesa, em minha vida. Mas muitas vezes errei porque minha vontade de ser aceito, amado, era tão grande que isso muitas vezes desmontou meu instinto de sobrevivência. Acho que ele tem o mesmo defeito. Deve ter se ferrado muito, especialmente com pessoas que sabem jogar xadrez, aquelas que só esperam uma oportunidade de te anunciar um cheque-mate.
Nós poderíamos ser bons companheiros. Aliás, uma coisa bonita que eu gosto é de pessoas que continuam como que se ainda jogassem bola na rua, fazendo falta só para encher o saco do outro e sair dando risada. Me identifiquei nisso e tive por ele empatia, simpatia, me deixei levar por um certo tipo de entrega instantânea. Se ele me pedisse uma grana eu não hesitaria em lhe emprestar. Ele gosta de mulher e eu gosto também. Ele gosta de armas e eu gosto também. Ele gosta de amigo, desses que dá para trocar figurinha, na confiança. Idem, idem.
Não é esse sentimento sincero que um homem sente por outro homem, sem frescuras? Um forte aperto de mão, um empurrão no ombro, só de sacanagem, não precisa muito mais para se gostar de alguém. Boto fé nele.

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