Tenho lembranças muito queridas com a minha mãe. Não sei porque, entre tantas, uma ficou gravada como marca de ferro quente no lombo do saudade.
Um dia ganhei (não sei de quem) um quadro do anjo da guarda. Nele, um anjo com imensas e emplumadas asas.
O anjo dava a mão a um casal de crianças lindas, conduzindo-as por uma ponte perigosa sobre um riacho tormentoso.
Neste dia, após muito tempo admirando o quadro, minha mãe me levou até o meu quarto e pediu que eu a ajudasse a dependurá-lo na parede. Ela subiu em um banquinho e cuidadosamente afixou o prego, martelou e pronto.
Eu segurava a caixinha com os pregos, todo orgulhoso da minha preciosa ajuda.
Toda noite eu e minhas irmãs ajoelhávamos ao lado de nossa mãe e repetíamos com ela: Santo Anjo do Senhor, Meu zeloso guardador, se a Ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, me guarde, me governe e me ilumine. Amém.
Sempre me distraia no meio da oração e ficava olhando minha mãe de soslaio. Mãe, de mãos postas, olhos fechados, era para mim a própria imagem do anjo. A única diferença era que mãe era mulher e não tinha asas.
Toda noite era a mesma coisa: um olho no anjo e o outro em mãe.
No céu, mãe e o anjo da guarda devem ser chegados e agora fazem o combinado de velar por meus netos.
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