Priscila Garcia

Passei a infância e parte da juventude num quarteirão de casas, no qual os edifícios eram exceções - e tão poucos que nós nos referíamos a eles pelo nome dos porteiros ou por sua localização na nossa curta geografia: "o do Zé Baixinho", "o do Zé Gordão", "o da esquina".
As casas foram demolidas, inclusive a minha, e em seu lugar cresceram muitos edifícios, na triste concentração urbana característica da 'mudernidade' e da prevalência do coletivo.
Mas hoje, conversando com a minha irmã que ainda mora ali por perto, fiquei sabendo que uma casa específica está de pé até hoje: um IMPÁVIDO COLOSSO, como ela disse - uma sobrevivente altiva no meio da conturbação generalizada.
Me lembro dela, branca e límpida, vagamente marmórea, cercada de plantas de um verde mais denso, mais escuro e mais úmido do que o usual.
Era linda, aquela casa...
Me restou pedir à minha irmã que a fotografasse com seu celular, e me enviasse a fotografia pelo whatsapp.
É o que nos resta, às pessoas como eu: a lembrança de alguma coisa rara e mágica, a ser revisitada por uma foto mandada por um aplicativo de celular.
Triste mundo, que se tornou tão desolado e árido...