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22/09/2017

ILAÇÕES
Ouvi o astrônomo pragmático falar
que a mecânica celeste é divina.
Após, eis a noite.
Um meteorito cortou o céu
como se piscasse pra mim.
A Via Lactea enfeitiçou-me
Uma colina adiante.
e perdi a noção do tempo.
Quando me dei conta amanhecera.
Vaguei pelo campo
roçando a mão nas touceiras de capim gordura.
Súbito, um mugido.
Uma vaca paria à beira da estrada.
Milhares de mães pariam àquela hora:
mulheres e bichos.
(Mas as mulheres são bichos).
Placentas escorrem de vaginas consagradas.
Choros, balidos, miados, latidos.
O astrônomo pragmático...
De novo em minha mente a mecânica celeste:
silenciosa, discreta, onipresente, poderosa
a transpira uma ternura antiga
que só soube criar.
Como um sopro, um bocejo,
hálito de estrelas explodidas.
O astrônomo ateu
flutua nas vastidões da dúvida.
Uma força nos aglutina:
isto é certo.
Viajando pelo cosmos,
nossos medos e espantos
procuram por berços em nebulosas.
Estrelas nos colocarão pra dormir,
sonhar outros ciclos.
Um dia a luz
descerra o mistério.
Para desassombro do astrônomo:
um menino que agora
brinca com coisas de Deus.

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