AMOR PRIMEIRO
Eu era jovem, 17 anos, quando o teu irmão, meu amigo, me apresentou a ti. Foi um choque e me recordo que sorri sem jeito, fingindo uma naturalidade que não colou.
Estendi a mão suada e trêmula. Você sorriu receptiva e o meu coração parou. Não me recordo do diálogo breve. Sei que sorriu de alguma frase desconexa que pronuncie desconsertado.
Fiquei lívido e naquele instante percebi que a minha vida nunca mais seria a mesma. Um raio me atingiu.
Mau nos despedimos e sorri lembrando-me do cupido que minha irmã citava como uma entidade verdadeira que combinava delicadeza e impiedade.
Se ele existe, fui alvo fácil e desprevenido.
Virei visita constante na tua casa. Pretexto não me faltavam. Eu e teu irmão, além de amigos, estudávamos na mesma sala do mesmo ginásio.
Conquistei o coração de tua mãe e ela ao meu. Gostava dela como se gosta de uma segunda mãe. Tínhamos corações parecidos; almas gêmeas, como dizem.
Ensaiando minhas primeiras poesias, fui abrindo trilhas por teu coração. Sabia que amara outro e que recentemente haviam rompido. E que este amor primeiro chegara na frente do meu profundamente enciumado e entristecido.
Fui plantando poesias e elas te tocaram.
Os acordes do teu piano me arrancavam lágrimas que corajosamente retinha. Traíam-me os meus olhos marejados.
Fiz o pedido. Fui aceito a apresentado ao paraíso.
Corri pra casa como um atleta campeão dos 100 metros rasos.
Pequei a garrafa de uísque do velho e me servi de um dose dupla. Por sorte não havia ninguém em casa. Pequei meu disco do The Platters, liguei a poderosa Telefunken e coloquei My Prayer. A música, misto de oração e lamento, como um punhal cravado fundo, chegou a doer.
O uísque fez efeito e os primeiros acordes do quinteto
molharam a minha camisa. Chorei de emoção e medo. Calado, quieto, a emoção escorria fácil.
Não durou. O fantasma do outro ainda assombrava. Eu sabia que o meu primeiro amor era um bote em mar revolto. Apenas uma questão de tempo e ele seria tragado pelo grande mar da desilusão.
Não deu outra. Dois meses depois, com a tua costumeira e natural delicadeza, tu me disseste que era possível continuar...
Morri na tua frente.
Desta vez meu retorno para casa foi uma via crucis. Arrastei-me percorrendo todos os infernos.
Por muito tempo - muito mesmo - carreguei o fardo do desamor.
Não há carga mais pesada. Virei um Atlas condenado ao castigo eterno. Suportei, vergado, um mundo de pesares.
O tempo cuidou de mim. As feridas cicatrizaram. Lambi cada uma delas. Meu coração virou pedra.
Desaprendi amar por muitos anos. Não havia tocaia que me surpreendesse nos grotões de amores ardilosos.
Muitos anos depois, novo canto de sereias. Deixe-me levar e desta vez não desapareci no abismo. Namorei , noivei e casei-me com uma mulher tão maravilhosa quanto você. Somos felizes e temos 3 filhos lindos e amorosos.
Vida que segue.
Hoje eu e você somos amigos. E se o desamor pensou que venceria, ledo engano.
Talvez tenha sido melhor assim. O amor um dia acaba. A amizade fica, permanece: é um amor que não se consome. Caminha par a passo pela eternidade. E, segundo dizem, nesta e em outras vidas.
Estendi a mão suada e trêmula. Você sorriu receptiva e o meu coração parou. Não me recordo do diálogo breve. Sei que sorriu de alguma frase desconexa que pronuncie desconsertado.
Fiquei lívido e naquele instante percebi que a minha vida nunca mais seria a mesma. Um raio me atingiu.
Mau nos despedimos e sorri lembrando-me do cupido que minha irmã citava como uma entidade verdadeira que combinava delicadeza e impiedade.
Se ele existe, fui alvo fácil e desprevenido.
Virei visita constante na tua casa. Pretexto não me faltavam. Eu e teu irmão, além de amigos, estudávamos na mesma sala do mesmo ginásio.
Conquistei o coração de tua mãe e ela ao meu. Gostava dela como se gosta de uma segunda mãe. Tínhamos corações parecidos; almas gêmeas, como dizem.
Ensaiando minhas primeiras poesias, fui abrindo trilhas por teu coração. Sabia que amara outro e que recentemente haviam rompido. E que este amor primeiro chegara na frente do meu profundamente enciumado e entristecido.
Fui plantando poesias e elas te tocaram.
Os acordes do teu piano me arrancavam lágrimas que corajosamente retinha. Traíam-me os meus olhos marejados.
Fiz o pedido. Fui aceito a apresentado ao paraíso.
Corri pra casa como um atleta campeão dos 100 metros rasos.
Pequei a garrafa de uísque do velho e me servi de um dose dupla. Por sorte não havia ninguém em casa. Pequei meu disco do The Platters, liguei a poderosa Telefunken e coloquei My Prayer. A música, misto de oração e lamento, como um punhal cravado fundo, chegou a doer.
O uísque fez efeito e os primeiros acordes do quinteto
molharam a minha camisa. Chorei de emoção e medo. Calado, quieto, a emoção escorria fácil.
Não durou. O fantasma do outro ainda assombrava. Eu sabia que o meu primeiro amor era um bote em mar revolto. Apenas uma questão de tempo e ele seria tragado pelo grande mar da desilusão.
Não deu outra. Dois meses depois, com a tua costumeira e natural delicadeza, tu me disseste que era possível continuar...
Morri na tua frente.
Desta vez meu retorno para casa foi uma via crucis. Arrastei-me percorrendo todos os infernos.
Por muito tempo - muito mesmo - carreguei o fardo do desamor.
Não há carga mais pesada. Virei um Atlas condenado ao castigo eterno. Suportei, vergado, um mundo de pesares.
O tempo cuidou de mim. As feridas cicatrizaram. Lambi cada uma delas. Meu coração virou pedra.
Desaprendi amar por muitos anos. Não havia tocaia que me surpreendesse nos grotões de amores ardilosos.
Muitos anos depois, novo canto de sereias. Deixe-me levar e desta vez não desapareci no abismo. Namorei , noivei e casei-me com uma mulher tão maravilhosa quanto você. Somos felizes e temos 3 filhos lindos e amorosos.
Vida que segue.
Hoje eu e você somos amigos. E se o desamor pensou que venceria, ledo engano.
Talvez tenha sido melhor assim. O amor um dia acaba. A amizade fica, permanece: é um amor que não se consome. Caminha par a passo pela eternidade. E, segundo dizem, nesta e em outras vidas.
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