OS RUMOS DA EDUCAÇÃO NO BRASIL E AS INICIATIVAS PARA MELHORÁ-LA (segundo o PT)
Os últimos acontecimentos na Escola Estadual Padre José Graça Aranha tiveram repercussão nacional. Semana passada, dois professores foram agredidos e um deles está internado no CTI de um hospital da periferia. Ambos repreenderam alguns alunos que resolveram quebrar algumas carteiras na cabeça dos desafetos da sala vizinha.
Dias depois, meia dúzia de alunas adolescentes envolvidas com uma gang da 8ĉ série, espancaram uma garota que só tirava 10 de matemática.
Os pais da garotada agressora foram chamados na direção da escola estadual e após explicações pouco convincentes, aplicaram violento corretivo nos docentes.
Na mesma noite do acontecido, consta que os mesmos meninos e meninas envolvidos nos incidentes acima, haviam invadido o colégio, espancado o vigia e vandalizado a sala dos professores. Em seguida, inutilizaram todos os computadores e picharam quase todas as paredes do educandário.
A coisa repercutiu. A imprensa compareceu em peso e a polícia deu o ar de sua graça.
Durante toda a semana, a pauta dos telejornais privilegiou generosos espaços e as reportagens sucederam-se com riqueza de detalhes entrevistando autoridades, pais e mestres, educadores, sociólogos, psicólogos e outros profissionais de alguma forma afeitos ao assunto.
O Ministro da Educação prometeu providências e de pronto anunciou a abertura do 1ĉ Congresso da Educação Participativa.
O Centro Educacional Che Guevara abriu as suas portas para a realização do congresso.
Não havia do que reclamar. O centro comportava 1000 lugares em ambiente climatizado. O auditório, dividido por um largo corredor central, acomodava exatamente 500 pessoas de cada lado.
No primeiro dia do mês seguinte, iniciaram-se os trabalhos. Ao local acorreram centenas e centenas de interessados. Sucesso. O auditório lotou.
À esquerda, acomodaram-se os simpatizantes da corrente do ensino progressista. Eram mais de 500 e invadiram o lado direito reservado aos adeptos de um modelo educacional mais conservador. Espremidos nos fundos e nas laterais do auditório, os conservadores se acomodaram como puderam e aguardaram, com algum temor, o início dos trabalhos.
A mesa diretora ocupou os seus lugares.
O sistema de som tocou o hino nacional. Após, impossibilitados de comparecer, ouviu-se a mensagem do ex-líder do partido da situação e o de sua sucessora.
Diante do pequeno palanque, à quiza de púlpito, tomou lugar uma famosa educadora afro-descendente. Envergando um vistosa pantalona de cetim verde, camisa de seda vermelha, a elegante palestrante abriu sua pasta e dela retirou algumas folhas de papel.
Após uma pausa prolongada, olhar fixo na platéia, a educadora dispensou a papelada e de improviso teceu contundentes comentários sobre o ocorrido na Escola Estadual Padre José Graça Aranha.
O lado esquerdo do auditório bombava o ambiente com berros, uivos, gritos e aplausos.
Acadêmicos de sandália franciscana, bolsas tira-colo, cabelos em desalinhos e fitas na testa saltitavam histéricos, embevecidos com a retórica da bela negra educadora. As moças, figurino idêntico, faziam coro com os rapazes.
O auditório quase veio abaixo quando a palestrante concluiu dizendo que "a agressividade dos jovens deve ser entendida como uma expressão natural de rebeldia contra o conservadorismo e a arrogância da classe média burguesa a lhes impor um modelo de educação reacionária que não respeita a sua revolta contra um modelo educacional que nada tem a ver com a nossa realidade".
Faixas e cartazes foram agitados. Gritos, vivas e outras calorosas manifestações de apoio troavam no recinto.
Timidamente um dos representantes dos conservadores pediu a palavra e, ato contínuo, sentou-se intimidado por apupos e vaias.
No centro da mesa diretora dos trabalhos, levantou-se um senhor envergando um terno de grife. Silêncio total. Sua figura impunha respeito e admiração. Era o Doutor Pitágoras Xenofonte - um mix de Darci Ribeiro e Paulo Freire. A lhe agregar mais autoridade, o fato de que ele era o atual presidente do Partido Popular das Ligas Trabalhadoras - o partido da situação.
Dr. Pitágoras, a exemplo de sua colega afro-descendente, caminhou solenemente para o púlpito. Mãos nuas. Nada de papel, papeletas ou lembretes. Tirou os óculos do bolsinho superior do paletó e congelou a platéia com um olhar perscrutante e intimidador. Pigarreou e iniciou a sua explanação com voz suave e pausada. (Dr. Pitágoras, se quisesse, poderia dispensar o microfone. Suas palavras eram avidamente sorvidas pelos presentes).
Meus queridos companheiros. Senhoras e senhores.
Constrange-me o alarido provocado pela mídia acerca deste irrelevante incidente ocorrido na Escola Estadual Padre José Graça Aranha. É fato que os jovens se excederam. Fato é, também, que os arroubos da juventude tem que ser contextualizados no ambiente onde eles habitam.
Não há de ser através da repressão, da violência, que haveremos de coibir os impulsos juvenis. Antes, pensemos no diálogo e na total disponibilidade para ouvir os seus reclamos e aspirações. Cabe a todos nós, e particularmente aos professores, abrir canais de diálogo e entendimento. Cadeiras, computadores e outros materiais podem ser substituídos. Insubstituível é a tolerância, a compreensão e o respeito à imaturidade dos menores. Eles não sabem o que fazem. Sua agressividade tem componentes atávicos. No fundo, estas crianças querem é a nossa atenção. Precisamos estar atentos a este fenômeno. E orientá-los, quando necessário, através da adoção de métodos pedagógicos que privilegiem um convívio harmonioso com os seus mestres e colegas. Tudo é possível quando todos olham na mesma direção. Precisamos compreender que esta garotada está subjugada pela explosão hormonal típica da idade. Precisamos compreender os seus excessos. Precisamos ser tolerantes e aceitar os arroubos da mocidade. Não vou me estender mais. Meus ilustres colegas já esgotaram a matéria com muita propriedade. Encerrando, quero conclamar a todos - pais, alunos, mestres e representantes de vários movimentos sociais, ong's e da igreja progressista - para unirmos esforços no sentido de que o ensino público em nosso país seja, muito em breve, um modelo de eficiência e acima de tudo, um exemplo de tolerância com esta meninada levada da breca. Obrigado a todos.
Apoteose...o lado esquerdo do auditório veio abaixo. Faixas e bandeiras vermelhas se entrelaçavam. Uma balbúrdia festiva e consagradora.
Os conservadores, amedrontados, aproveitaram a deixa e foram saindo de fininho. Em silêncio trataram de limpar o beco e escafederam-se pelas ruas laterais.
Deram sorte...meia hora depois, os remanescentes do congresso, a maioria universitários, tomavam umas e outras no boteco da esquina quando se encontraram com as gangs da 8ĉ série da tarde e da noite. O pau quebrou. Quatro incautos professores estavam de bobeira e foram mandatos, às pressas, para o CTI mais próximo.
A pancadaria terminou no pátrio da Escola Estadual Padre José Graça Aranha. O educandário ficou em ruínas após a batalha campal. Consta que para o ano vai ser reconstruído pela quarta vez.
Dias depois, meia dúzia de alunas adolescentes envolvidas com uma gang da 8ĉ série, espancaram uma garota que só tirava 10 de matemática.
Os pais da garotada agressora foram chamados na direção da escola estadual e após explicações pouco convincentes, aplicaram violento corretivo nos docentes.
Na mesma noite do acontecido, consta que os mesmos meninos e meninas envolvidos nos incidentes acima, haviam invadido o colégio, espancado o vigia e vandalizado a sala dos professores. Em seguida, inutilizaram todos os computadores e picharam quase todas as paredes do educandário.
A coisa repercutiu. A imprensa compareceu em peso e a polícia deu o ar de sua graça.
Durante toda a semana, a pauta dos telejornais privilegiou generosos espaços e as reportagens sucederam-se com riqueza de detalhes entrevistando autoridades, pais e mestres, educadores, sociólogos, psicólogos e outros profissionais de alguma forma afeitos ao assunto.
O Ministro da Educação prometeu providências e de pronto anunciou a abertura do 1ĉ Congresso da Educação Participativa.
O Centro Educacional Che Guevara abriu as suas portas para a realização do congresso.
Não havia do que reclamar. O centro comportava 1000 lugares em ambiente climatizado. O auditório, dividido por um largo corredor central, acomodava exatamente 500 pessoas de cada lado.
No primeiro dia do mês seguinte, iniciaram-se os trabalhos. Ao local acorreram centenas e centenas de interessados. Sucesso. O auditório lotou.
À esquerda, acomodaram-se os simpatizantes da corrente do ensino progressista. Eram mais de 500 e invadiram o lado direito reservado aos adeptos de um modelo educacional mais conservador. Espremidos nos fundos e nas laterais do auditório, os conservadores se acomodaram como puderam e aguardaram, com algum temor, o início dos trabalhos.
A mesa diretora ocupou os seus lugares.
O sistema de som tocou o hino nacional. Após, impossibilitados de comparecer, ouviu-se a mensagem do ex-líder do partido da situação e o de sua sucessora.
Diante do pequeno palanque, à quiza de púlpito, tomou lugar uma famosa educadora afro-descendente. Envergando um vistosa pantalona de cetim verde, camisa de seda vermelha, a elegante palestrante abriu sua pasta e dela retirou algumas folhas de papel.
Após uma pausa prolongada, olhar fixo na platéia, a educadora dispensou a papelada e de improviso teceu contundentes comentários sobre o ocorrido na Escola Estadual Padre José Graça Aranha.
O lado esquerdo do auditório bombava o ambiente com berros, uivos, gritos e aplausos.
Acadêmicos de sandália franciscana, bolsas tira-colo, cabelos em desalinhos e fitas na testa saltitavam histéricos, embevecidos com a retórica da bela negra educadora. As moças, figurino idêntico, faziam coro com os rapazes.
O auditório quase veio abaixo quando a palestrante concluiu dizendo que "a agressividade dos jovens deve ser entendida como uma expressão natural de rebeldia contra o conservadorismo e a arrogância da classe média burguesa a lhes impor um modelo de educação reacionária que não respeita a sua revolta contra um modelo educacional que nada tem a ver com a nossa realidade".
Faixas e cartazes foram agitados. Gritos, vivas e outras calorosas manifestações de apoio troavam no recinto.
Timidamente um dos representantes dos conservadores pediu a palavra e, ato contínuo, sentou-se intimidado por apupos e vaias.
No centro da mesa diretora dos trabalhos, levantou-se um senhor envergando um terno de grife. Silêncio total. Sua figura impunha respeito e admiração. Era o Doutor Pitágoras Xenofonte - um mix de Darci Ribeiro e Paulo Freire. A lhe agregar mais autoridade, o fato de que ele era o atual presidente do Partido Popular das Ligas Trabalhadoras - o partido da situação.
Dr. Pitágoras, a exemplo de sua colega afro-descendente, caminhou solenemente para o púlpito. Mãos nuas. Nada de papel, papeletas ou lembretes. Tirou os óculos do bolsinho superior do paletó e congelou a platéia com um olhar perscrutante e intimidador. Pigarreou e iniciou a sua explanação com voz suave e pausada. (Dr. Pitágoras, se quisesse, poderia dispensar o microfone. Suas palavras eram avidamente sorvidas pelos presentes).
Meus queridos companheiros. Senhoras e senhores.
Constrange-me o alarido provocado pela mídia acerca deste irrelevante incidente ocorrido na Escola Estadual Padre José Graça Aranha. É fato que os jovens se excederam. Fato é, também, que os arroubos da juventude tem que ser contextualizados no ambiente onde eles habitam.
Não há de ser através da repressão, da violência, que haveremos de coibir os impulsos juvenis. Antes, pensemos no diálogo e na total disponibilidade para ouvir os seus reclamos e aspirações. Cabe a todos nós, e particularmente aos professores, abrir canais de diálogo e entendimento. Cadeiras, computadores e outros materiais podem ser substituídos. Insubstituível é a tolerância, a compreensão e o respeito à imaturidade dos menores. Eles não sabem o que fazem. Sua agressividade tem componentes atávicos. No fundo, estas crianças querem é a nossa atenção. Precisamos estar atentos a este fenômeno. E orientá-los, quando necessário, através da adoção de métodos pedagógicos que privilegiem um convívio harmonioso com os seus mestres e colegas. Tudo é possível quando todos olham na mesma direção. Precisamos compreender que esta garotada está subjugada pela explosão hormonal típica da idade. Precisamos compreender os seus excessos. Precisamos ser tolerantes e aceitar os arroubos da mocidade. Não vou me estender mais. Meus ilustres colegas já esgotaram a matéria com muita propriedade. Encerrando, quero conclamar a todos - pais, alunos, mestres e representantes de vários movimentos sociais, ong's e da igreja progressista - para unirmos esforços no sentido de que o ensino público em nosso país seja, muito em breve, um modelo de eficiência e acima de tudo, um exemplo de tolerância com esta meninada levada da breca. Obrigado a todos.
Apoteose...o lado esquerdo do auditório veio abaixo. Faixas e bandeiras vermelhas se entrelaçavam. Uma balbúrdia festiva e consagradora.
Os conservadores, amedrontados, aproveitaram a deixa e foram saindo de fininho. Em silêncio trataram de limpar o beco e escafederam-se pelas ruas laterais.
Deram sorte...meia hora depois, os remanescentes do congresso, a maioria universitários, tomavam umas e outras no boteco da esquina quando se encontraram com as gangs da 8ĉ série da tarde e da noite. O pau quebrou. Quatro incautos professores estavam de bobeira e foram mandatos, às pressas, para o CTI mais próximo.
A pancadaria terminou no pátrio da Escola Estadual Padre José Graça Aranha. O educandário ficou em ruínas após a batalha campal. Consta que para o ano vai ser reconstruído pela quarta vez.
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