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26/08/2017

Esta poesia é de autoria de meu falecido pai, em dia de grande desilusão, logo após a perda da Fazenda do Formoso, em Oliveira Fortes - MG.
Meu pai amava a fazenda onde nasceu e por onde passaram inúmeras gerações de nossa família.
Segundo relatos orais, a gleba, depois fazenda Fazenda do Formoso, estava em nossa família desde 1720, sendo um dos primeiros núcleos habitacionais da região próxima a Barbacena e Juiz de Fora.
Inexperiente em administração, meu querido velho tomou empréstimo com agiotas para investir na propriedade. Como era previsível, não conseguiu honrar as dívidas, dando a propriedade em pagamento.


Adeus casa branca da serra,
Adeus palmeiras frondosas.
Adeus, adeus, minha terra,
Recantos e matas saudosas.
Fica aí meu coração
Para sempre junto a ti.
Comigo fica a paixão,
Agora que te perdi.
Se é que Deus compadece
De quem a dor parte ao meio,
Queria que me fizesse
Nascer de novo em teu seio.
Tudo me faz recordar
Estas plagas tão maternas.
Como posso olvidar
Tuas lembranças tão ternas?
Céu azul, noites de lua,
O murmúrio das cascatas;
Sabiás, música tua
Na sombras de tuas matas.
Montanhas, campos, colinas,
Cachoeiras e o pomar.
Brincadeiras, artes de menino,
Meus velhos pais a ralhar.
Serenatas e passeios
Naqueles caminhos tão meus.
Mocidade, infância em meio
Às doces bençãos de Deus.
Noites de junho em festa
De São Pedro e São João.
E hoje de tudo o que resta?
Saudade e desilusão.
Tardes primaveris...quanta beleza!
Horas mansas e de calma.
Sabiás e a natureza
trazendo Deus à minh'alma.
Fecho os olhos e ainda vejo
Belos dias do passado.
Meu Deus! como eu desejo
Que não fossem sepultados.
Tradição, amor, ternura...
Para que isto invocar?
Dinheiro... Oh verdade dura,
É teu o primeiro lugar.
Santos Dumont - 1968

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