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02/05/2017

O FEIO
O feio passou por uma moça muito bonita. Eram somente os dois na rua quando passaram um pelo outro. A moça passou pelo feio como se ele fosse uma folha ao vento.
o feio está acostumado com a inexistência. Ninguém o nota.
A feiura o exclui do mundo. E quanto mais murcha mais se volta para dentro.
No fundo dos feios existem tesouros. Seus sentimentos frustrados, preciosos e desconhecidos, pesam como a Terra sobre um Atlas. Com o tempo, os feios aprendem a aliviar o fardo descomunal com a mesma renúncia dos mártires.
O amor do feio normalmente é platônico, inconfesso.
Se alguma mulher pudesse sentir a grandiosidade deste querer sem esperança, talvez amasse ao feio como nunca amara alguém. Para ele, o amor é uma boia atirada ao náufrago, não se sabe por quem, quando não há mais esperança.
Cristo pediu às criaturas amor recíproco. Mas o homem e a mulher amam o belo tão-somente.
Não é para os nossos dias amar o conteúdo. A embalagem é que conta.
Quando chegar a era da verdadeira beleza, o feio será o mais belo.

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