Conclusões
Já havia me deitado e fumado o último cigarro. Como de costume, dei uma última olhada no celular para checar as postagens de fim de noite. Algumas, e entre elas a postagem de uma amiga muito querida - foto de inscrição a giz sobre lousa, com os seguintes dizeres: felizes os que carregam para o resto da vida os amigos da adolescência.
Imediatamente respondi agradecendo. Esta amiga querida mencionava as cidades onde viveu e entre elas uma na qual convivemos nos anos 60.
Perdi de vez o sono.
A juventude irrompeu em minhas memórias e sem que eu pudesse evitar regredi à infância, mas passei batido por ela que até então supunha ter sido a melhor época de minha vida.
Como que acionando um freio de emergência, estanquei na adolescência, aos dezesseis, dezessete anos.
Passados 50 anos, subitamente cheguei à conclusão que esta foi, de longe, a melhor época da minha vida.
Certas descobertas são fulminantes. Mas como?! Não se tem certeza de qualquer coisa assim de chofre. Não se chega a nenhuma conclusão definitiva sem antes avaliar com isenção, calma e prudência. Não se vive uma vida inteira para de uma hora para a outra, assim sem mais, cravar certezas. Estes rompantes estão mais para a inconsequência, para a imaturidade.
Mas e aí, como é que eu fico batendo de frente com esta contradição? Pouco me importa.
No efervescente caldeirão de hormônios dessa eletrizante fase, tudo é mais intenso. As emoções não são deste mundo e a vida tem a intensidade de um seriado preto e branco.
Tudo tem a conotação de drama. Tudo é superlativo. A perspectiva de reprovação no fim do ano fazia a gente mergulhar nos livros com a dedicação de um cientista rato-de-laboratório. A viagem de férias para uma cidade a um tiro de espingarda parecia voo para Paris ou a travessia do Atlântico a bordo do Queen Mary.
Mas tudo isto é fichinha quando o tema é o amor. Aí o bicho pega e todas as outras sensações parecem requentadas em banho-maria.
Você pode amar de novo e certamente amou outras vezes pela vida afora. Grandes amores aconteceram até o amor definitivo. Mas nunca mais daquele jeito alucinante, irreal, pirotécnico.
Este é o ponto. O primeiro amor eclipsava tudo. A gente se esquecia de comer, de pai e mãe, irmãos, da escola. O único interesse que sobrevivia, além da paixão, era o contato com os amigos, nossos ouvintes e confidentes de venturas e desventuras. E tome porre de Cuba Libre e cachaça. Ou de conhaque seguido de uma ou duas cervejas - garantia de fogo barato e bafo suportável. Quando o namoro ia bem, o mundo era cor-de-rosa e a vida uma utopia maravilhosa.
O encontro no cinema, as mãos dadas e o beijo mais apimentado chegavam a tontear. A gente suava frio. Garotos e garotas inundados de serotonina e endorfina, literalmente viam estrelas e lutavam bravamente para conter os extintos primitivos. Às vezes a carne vencia e a alternativa era rezar com uma fé franciscana para que a consequência não começasse a chorar nove meses depois.
A infância é maravilhosa. A maturidade, também. A velhice, apesar dos pesares, também é uma boa fase da vida. Tudo vale a pena, desde que a vida seja plena.
Plenitude, todavia, somente nos verdes da juventude. Dureza é que depois desta fase, viver, por melhor que seja a vida, é um existir mais ou menos. As ebulições se resumem àquelas bolhas no fundo da vasilha quando a água ameaça ferver. Depois, até que a vida esquenta, mas não ferve.
Imediatamente respondi agradecendo. Esta amiga querida mencionava as cidades onde viveu e entre elas uma na qual convivemos nos anos 60.
Perdi de vez o sono.
A juventude irrompeu em minhas memórias e sem que eu pudesse evitar regredi à infância, mas passei batido por ela que até então supunha ter sido a melhor época de minha vida.
Como que acionando um freio de emergência, estanquei na adolescência, aos dezesseis, dezessete anos.
Passados 50 anos, subitamente cheguei à conclusão que esta foi, de longe, a melhor época da minha vida.
Certas descobertas são fulminantes. Mas como?! Não se tem certeza de qualquer coisa assim de chofre. Não se chega a nenhuma conclusão definitiva sem antes avaliar com isenção, calma e prudência. Não se vive uma vida inteira para de uma hora para a outra, assim sem mais, cravar certezas. Estes rompantes estão mais para a inconsequência, para a imaturidade.
Mas e aí, como é que eu fico batendo de frente com esta contradição? Pouco me importa.
No efervescente caldeirão de hormônios dessa eletrizante fase, tudo é mais intenso. As emoções não são deste mundo e a vida tem a intensidade de um seriado preto e branco.
Tudo tem a conotação de drama. Tudo é superlativo. A perspectiva de reprovação no fim do ano fazia a gente mergulhar nos livros com a dedicação de um cientista rato-de-laboratório. A viagem de férias para uma cidade a um tiro de espingarda parecia voo para Paris ou a travessia do Atlântico a bordo do Queen Mary.
Mas tudo isto é fichinha quando o tema é o amor. Aí o bicho pega e todas as outras sensações parecem requentadas em banho-maria.
Você pode amar de novo e certamente amou outras vezes pela vida afora. Grandes amores aconteceram até o amor definitivo. Mas nunca mais daquele jeito alucinante, irreal, pirotécnico.
Este é o ponto. O primeiro amor eclipsava tudo. A gente se esquecia de comer, de pai e mãe, irmãos, da escola. O único interesse que sobrevivia, além da paixão, era o contato com os amigos, nossos ouvintes e confidentes de venturas e desventuras. E tome porre de Cuba Libre e cachaça. Ou de conhaque seguido de uma ou duas cervejas - garantia de fogo barato e bafo suportável. Quando o namoro ia bem, o mundo era cor-de-rosa e a vida uma utopia maravilhosa.
O encontro no cinema, as mãos dadas e o beijo mais apimentado chegavam a tontear. A gente suava frio. Garotos e garotas inundados de serotonina e endorfina, literalmente viam estrelas e lutavam bravamente para conter os extintos primitivos. Às vezes a carne vencia e a alternativa era rezar com uma fé franciscana para que a consequência não começasse a chorar nove meses depois.
A infância é maravilhosa. A maturidade, também. A velhice, apesar dos pesares, também é uma boa fase da vida. Tudo vale a pena, desde que a vida seja plena.
Plenitude, todavia, somente nos verdes da juventude. Dureza é que depois desta fase, viver, por melhor que seja a vida, é um existir mais ou menos. As ebulições se resumem àquelas bolhas no fundo da vasilha quando a água ameaça ferver. Depois, até que a vida esquenta, mas não ferve.
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