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23/05/2017

Sou aposentado. Tenho 68 anos e ocupo o meu tempo escrevendo de tudo um pouco. Ouso poesias, compartilho músicas, faço comentários gerais, dando o meu pitaco aqui e ali sobre o que acontece por dentro e por fora das pessoas.
Quando os olhos ardem, a bunda dói, vou para a janela do meu apartamento e fumo um cigarro.
Lá embaixo as pessoas passam, cuidando de suas vidas, indo e vindo para o seu trabalho.
Fico imaginando para onde vão, o que fazem. Aquela jovem mulher com o seu bebê. (O homem de branco há de ser médico). Olha o caminhão do lixo e a garizada alegre catando os sacos de lixo numa correria moderada entre gritos e brincadeiras. Os garis são da hora. Uma velha, ops, uma idosa, o caminhão do gás sem musiquinha, graças a Deus. Enfim, um desfile de pessoas, cidadãos e cidadãs sortidos e variados.
Como tenho uma propensão para estatísticas e porcentuais, calculo que 99% são gente boa, sangue bom. 
Para 100% falta 1. Este 1% é que me apavora. São o lado mal da força e estão encastelados no poder - seja na política, no escritório chique ou em qualquer outro lugar onde se nade em dinheiro como um Tio Patinhas real.
Este 1% sempre me remete ao texto maravilhoso de Eça de Queiroz, O Povo, onde o grande escritor português exorta os poderosos a compreenderem em profundidade a grandeza do homem comum.
Uma palinha deste texto inspirado. Para bulir com o seu coração e quiça com os corações empedernidos dos poderosos: "Estes homens, nos tempos de lutas e de crises, tomam as velhas armas da Pátria e vão, dormindo mal, com marchas terríveis, a neve, a chuva, ao frio, nos calores pesados, combater e morrer longe dos filhos e das mães, sem ventura, esquecidos, para que nós conservemos o nosso descanso opulento. Estes homens são o Povo, e são os que nos defendem".
Este texto deveria ser lido (obrigatoriamente) na abertura de todas as sessões legislativas país afora - câmaras de vereadores, assembleias legislativas, e principalmente no congresso nacional. O hino nacional e uma prece seriam dispensados porque aí já seria sacanagem, tipo overdose de honra e fé, perigando dar um choque anafilático em nossos ínclitos representantes.
Toda esta minha escrevinhação, de fato, é uma tremenda perda de tempo. Eles, os poderosos raciocinam com o bolso. Suas mentes primitivas funcionam como a de filhotes de passarinho com as suas bocarras escancaradas, desproporcionais, no bem-bom, aguardando a comidinha que chega a toda hora trazida por mamãe. Piam o tempo todo, insaciáveis, com a fome dos leões.
E de onde vem a comidinha? Vem do enorme silo nacional, cidadão. Diabo é que o silo tem furos por todos os lados e não são aleatórios ocasionados pela ação do tempo, das intempéries, da corrosão. São obra dos pica-paus bico de aço em consórcio com os rato gordos e ociosos. O combinado funciona assim: eu furo,você furta e a gente se damos bem. 
O diabo atrás da moita, todo feliz, batendo palminha, contabilizando a penca de almas pule de 10 no seu caderninho de apostas.
Minha esperança é a de que haja um castigo. Quero crer que os poderosos, pica-paus e ratos, hão de se haver, um dia, nem que seja no último dia, no final dos tempos, com o Tribunal Superior - e ponha superior nisso.
Quero acreditar no inferno e nos cavaleiros do apocalipse. Quando as trombetas soarem penso que todos nós, os homens de bem, estaremos subindo pela escadaria do céu.
A fila ao lado há de ser em caracol, descendente, para o inferno. Para todos os 7, onde os maus serão cosidos e assados ad perpetuam nos caldeirões do tinhoso.

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