Durante o meu recesso, Carlim morreu. Carlim era a minha calopsita que assobiava o hino do meu Flusão, fiu-fiu e outro proezas sonoras. Adorava um ombro amigo e no meu se empoleirava para dar um rolé pela casa, na rua ou então de carro, em cima da tampa do porta-malas. Asa cortada, lógico, porque por mais que gostasse da gente, tivesse asas íntegras e a liberdade certamente falaria mais alto.
Carlim dava o sinal de intrusos na área antes que lua e petra latissem a presença de estranhos. Para ele todo mundo era intruso e como os gansos de Roma, punha o bico no trombone.
Juju, ficou viúva e anda pousada no poleiro feito estátua. Quase não se mexe de tanta tristeza.
Foi Belinha, minha neta, quem me deu a notícia dias atrás. Choramos junto. Ela de verdade, aos soluços, e eu me fazendo de forte e chorando por dentro, como me ensinaram errado quando eu era menino.
Faz parte da vida conviver com a morte de vivente, com ou sem asas. Todos voam um dia. Raros pousam na saudade.
A morte de Carlim doeu-me mais do que a morte de muita gente. Carlim fugiu para o paraíso das calopsitas.
Sinto falta da presença doce de Carlim. Me dei conta que a morte pode ser sentida como antigamente. Belinha me ensinou o caminho para reencontrar o meu coração de menino.
A morte de Carlim e a sensibilidade virgem de Belinha deram uma geral no meu coração. Ele está bem melhor. Reaprendi com o meu passarinho e com a minha netinha que a morte dói de um jeito doce, apesar das lágrimas salgadas de sempre.
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