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07/05/2016

Tenho lembranças muito queridas com a minha mãe. Mas uma é especial e não sei porque, entre tantas, esta ficou gravada como marca de ferro quente no lombo do tempo.
Um dia ganhei (não sei de quem) uma cópia de pintura do anjo da guarda. Nela, um anjo muito bonito com imensas e emplumadas asas. O anjo dava a mão a um casal de crianças lindas,conduzindo-as por uma ponte perigosa sobre um riacho tormentoso.
Neste dia, após muito tempo admirando o quadro, minha mãe me levou até o meu quarto e pediu que eu a ajudasse a dependurá-lo na parede. Ela subiu em um banquinho e cuidadosamente afixou o prego, martelou e pronto. Eu segurava a caixinha com os pregos, todo orgulhoso da minha preciosa ajuda.
Toda noite eu e minhas irmãs ajoelhávamos ao lado de nossa mãe e repetíamos com ela: Santo Anjo do Senhor, Meu zeloso guardador, se a Ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, me guarde, me governe e me ilumine. Amém.
Sempre me distraia no meio da oração e ficava olhando minha mãe de soslaio. Mãe, de mãos postas, olhos fechados, era para mim a própria imagem do anjo. A única diferença era que mãe era mulher e não tinha asas.
Toda noite era a mesma coisa: um olho no anjo e o outro em mãe.
Se o céu existe, mãe e o anjo da guarda devem ser amigos e agora fazem o combinado de velar por meus netos.

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