Páginas

29/04/2016





A Pietá da Fome
Sobre a terra árida, cruel e inclemente,
dourada por raios de sol inflamantes,
a natureza expõe sua obra, indiferente.
O material usado: esqueleto de gente.
Majestosa com suas pernas trementes,
olhos perdidos, bem além do horizonte,
traz junto aos seios secos, inoperantes,
um pequeno trapo humano agonizante.
A mãe-rainha, descarnada e distante,
leva no peito um amuleto de semente,
talvez com o intuito de chamar a sorte,
ou atrasar o inimigo presente: a morte.
Nem tudo é mal no inferno fumegante.
Em volta destas duas vidas titubeantes,
moscas intrépidas trombam saltitantes,
aguardando o último suspiro do infante.
A alma do menino subirá num instante,
ao trono de seu deus duro e inclemente,
tal é a leveza do espírito cambaleante, e
deixará para sempre esta terra errante.
Lu Dias

Nenhum comentário:

Postar um comentário