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10/02/2016

CORDEL DO LOBO COM PELE DE CORDEIRO OU A HISTÓRIA DO LADRÃO HONESTO
As armações e as safadezas de um cabra da peste mentiroso feito o cão.
Seu moço, preste atenção
na história que vou contar.
Ela fala de um bandido
que não dá pra acreditar.
O dito cujo roubava
dia e noite, noite e dia,
e era tanto dinheiro
que não dava pra contar.
Usava terno e gravata,
desfilava em altas rodas
onde cheio de bravata
a todos desafiava
alegando ser honesto,
e a exigir retratação,
ameaçando a todos com processo
por calúnia e difamação.
Em matéria de cara dura
não há outro igual.
Afanava o seu de dia,
caia no oco do mundo
e sumia na escuridão.
Comprou um belo triplex
na praia do Guarujá,
além de sítio em Atibaia,
como se fora um marajá.
Mas jura de pé junto,
nega as propriedades
que acabara de comprar.
Dava festa e churrasco,
servia melão com presunto,
51 e birinaites,
salgados de buffet,
ora veja, veja você.
Lá só entra gente fina,
higt society e burguês,
tudo à sua revelia,
zé mané, pé-de-chinelo.
Mas agora o seu segredo
caiu boca do povo
e é de polichinelo.
Seu nariz cresceu tanto
que pra seu grande espanto
já dobrou a esquina
de mais de um quarteirão.
Dizem as más línguas,
que além de muita festa
o ladrão promovia
saraus de sertanojo,
suruba e até orgia.
Depois da farra a missa,
que ao padre encomendava
de olho na indulgência,
em uma ou outra garantia
pra garantir o purgatório,
já que o céu é improvável
e onde só entra notável,
gente boa, moça pura,
crente que vai à missa
e que assiste a liturgia,
seja à noite ou de dia,
bem trajado ou com véu.
Mas o povo injuriado
quis saber de onde vinha
a grana pra ostentação.
O ladrão muito esperto
diz que não é dono de nada.
Se duvida pergunte,
com outro qualquer assunte
e indague a verdade.
O sítio é de uma amigo
onde eu sou convidado
somente de vez em quando.
Sem essa, safado,
sujeito mais descarado,
que consegue pior
do que político safado.
A repetida ladainha,
tanto fez que convenceu
a meia dúzia de panacas,
a milhões de brasileiros,
a um monte de estrangeiros,
puxa-sacos e babacas
que nem você e eu.
Não há mal que sempre dure
nem bem que não se acabe.
Se a porta já não abre,
vou entrar pela janela
pra te dar um flagrante.
Acontece que o cabra é liso,
e num piscar de olhos
sai pela tangente.
Escorrega mais que quiabo,
tem parte com o diabo
e levanta muita grana,
mais ligeiro que o bispo
do templo de Salomão.
Seu nome eu não revelo
pois temo por minha alma
e por minha excomunhão.
Podemos ser impotentes
mas há quem nos defenda
e lute por nossa gente.
Valei-nos, Doutor Sérgio
e a Justiça Federal.
Prenda logo o salafrário
que nos faz de otário
na maior cara-de-pau.
Depois jogue a chave fora,
aja a tempo e hora
e nos livre do lalau.
Aproveite o ensejo
e interpele a construtora,
a tal de Odebrecha
que usa da lei a brecha
para tirar o seu da reta.
Neste briga de puteiro
quem leva na bunda é o povo
sempre entrando pelo cano.
Enquanto isso, meus ouvintes,
bem por baixo do pano,
o ladravaz vivaldino
vai saindo de fininho,
se safando rapidinho
com toda a tranquilidade.
Que prevaleça a verdade
e a prisão do ladino
ponha fim à iniquidade.
O Brasil tá de olho
na capital do Paraná.
E espera ansioso
que o doutor, tão prestimoso,
faça valer a isonomia
que nos faz a todos iguais
diante de um meritíssimo
na barra dos tribunais.
Se puder aumente a pena
deste amigo do alheio.
De minha parte vou rezar,
fazer promessa e novena
pra tudo que é santo de plantão
Valei-nos, São Judas Tadeu,
nossa Mãe Compadecida,
Nossa Senhora Aparecida,
São Benedito e todos os santos
que do povão tem pena.
Quem sabe então me pego
com o bom São Francisco,
que não é santo arisco
e sempre nos atende
nas horas de aflição.
Deus nos ouça e permita
que o povo brasileiro,
trabalhador e ordeiro,
se livre do biriteiro,
deste pudim de cachaça
que para nossa desgraça
tá difícil de tragar.
Pena é que esta história
pode não ter final feliz
e este filho de uma égua
ainda possa escapar.
Trás a conta e passa a régua
que vou pra outro lugar,
outra praça, outra feira
onde eu possa recitar
as maldades desta praga
sempre a nos atazanar.
Deixa estar, filho do cão,
a sua hora vai chegar.
Mais hoje mais amanhã,
doença ruim, febre terçã
ainda vai te derrubar.
Perdoe-me o mal pensamento,
Pai Divino e poderoso.
Não vejo, porém, a hora
de ver este asqueroso
as suas contas pagar.
Seu castelo de cartas
breve há de desMOROnar.
Quero ver a coisa feia
pro lado deste maldito.
Sua hora está chegando
e o bicho vai te pegar,
seu cabra endiabrado.
Do meu freezer bem gelado
uma cerva vou tirar.
Vou ligar minha TV
bem na hora do jornal
em edição extraordinária.
Chega de safadeza
e de gente ordinária
a saquear a nação.
Quero ser o primeiro
a assistir tua prisão.
Nunca antes na história
desta infeliz nação
se verá tanta alegria
e nem tanta comoção.
E quem se dizia honesto,
enfim desmascarado,
devidamente enjaulado,
sem recurso e habeas corpus,
devidamente condenado
por sua vida bandida,
nesta e em outra vida
na próxima encarnação.
A história que eu contei
na faltou com a verdade,
é causo acontecido,
firmado no verídico,
pois não sou causídico
e à enganação não me presto.
A todos o meu bom dia
e finalizando, de resto,
agradeço a atenção.
Quem quiser conte outro caso
ou invente a sua história
em verso prosa ou cordel.
Licença,senhor e senhora,
eu tenho que ir embora
senão a patroa me bate
com o seu rolo de pastel.

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