VENDEM-SE BEIJOS.
Estava andando por estas ruas daqui de perto de casa agora mesmo, neste início de noite.
Como sempre, observava.
Gosto de observar as pessoas, os gestos, os movimentos, atitudes. Tudo.
O que acontecia era o de sempre: as pessoas passavam, os carros passavam, as horas passavam e alguns pensamentos também passavam na minha cabeça.
Como sempre, observava.
Gosto de observar as pessoas, os gestos, os movimentos, atitudes. Tudo.
O que acontecia era o de sempre: as pessoas passavam, os carros passavam, as horas passavam e alguns pensamentos também passavam na minha cabeça.
Vivemos num sistema capitalista, onde tudo é dinheiro.
As pessoas estão cada vez mais materialistas, mais dominadas pelo poder que o dinheiro lhes confere.
As pessoas estão cada vez mais materialistas, mais dominadas pelo poder que o dinheiro lhes confere.
Mas nem todo mundo tem dinheiro.
E cada um se vira como pode, nos subempregos e nas atividades da economia informal.
Inventa-se de tudo para conseguir ganhar o vil metal.
E cada um se vira como pode, nos subempregos e nas atividades da economia informal.
Inventa-se de tudo para conseguir ganhar o vil metal.
Imaginei o dia em que estivermos andando pelas ruas, como eu estava agora, e vermos alguma loja anunciando suas ofertas inusitadas.
Ou mesmo alguém na rua, travestido de camelô, com tabela e tudo com os preços de alguns sentimentos ou expressões de sentimento.
Ou mesmo alguém na rua, travestido de camelô, com tabela e tudo com os preços de alguns sentimentos ou expressões de sentimento.
Por exemplo: um aperto de mão.
Quanto você pagaria por um aperto de mão?
Um aperto de mão bem dado, claro, com certo vigor.
Não aqueles apertos molengos de alguns homens, que só botam as pontas dos dedos.
Estes não valem nada. Eu digo os apertos de mão. Talvez os homens, possuidores destes tipos de aperto, também não valham muita coisa. Mas não é o assunto do momento.
Quanto você pagaria por um aperto de mão?
Um aperto de mão bem dado, claro, com certo vigor.
Não aqueles apertos molengos de alguns homens, que só botam as pontas dos dedos.
Estes não valem nada. Eu digo os apertos de mão. Talvez os homens, possuidores destes tipos de aperto, também não valham muita coisa. Mas não é o assunto do momento.
Bom, digamos que por um aperto de mão, se cobrasse 2 reais.
É caro? Ou está de bom tamanho?
Aperto firme, bem falado.
É caro? Ou está de bom tamanho?
Aperto firme, bem falado.
E um abraço? Quanto valeria?
Partindo-se da premissa que um aperto de mão valeria 2 reais, eu pagaria 5 reais por um abraço. Um abraço leve, discreto, ligeiramente distante.
Partindo-se da premissa que um aperto de mão valeria 2 reais, eu pagaria 5 reais por um abraço. Um abraço leve, discreto, ligeiramente distante.
Já um abraço mais firme, poder ia-se cobrar uns 8 reais.
Até porque com um pouco mais, dando-se um abraço com direito à tapinhas nas costas, alguém iria pedir uns 10 reais, pelo menos.
Até porque com um pouco mais, dando-se um abraço com direito à tapinhas nas costas, alguém iria pedir uns 10 reais, pelo menos.
Beijo.
Quanto você pagaria por um beijo?
Estamos falando de ofertas e promoções.
Quanto você pagaria por um beijo?
Estamos falando de ofertas e promoções.
Não estou falando do sonho de se beijar os Brad Pitts e as Julias Roberts. O que não tem preço, claro.
Existem vários tipos nesta modalidade.
Um beijo no rosto poderia custar, sei lá, o equivalente a um abraço de 8 reais?
Um beijo no rosto poderia custar, sei lá, o equivalente a um abraço de 8 reais?
Beijo na bochecha, 10 reais.
Tá caro?
Acho que somos nós que ganhamos pouco.
Temos que valorizar os sentimentos e as expressões contidas neles.
Tá caro?
Acho que somos nós que ganhamos pouco.
Temos que valorizar os sentimentos e as expressões contidas neles.
Um selinho, por exemplo, poderia custar entre 12 e 15 reais.
Já um beijo na boca mesmo, sem língua, quase um beijo técnico, com duração de poucos segundos não ficaria por menos que 20 reais.
Já um beijo na boca mesmo, sem língua, quase um beijo técnico, com duração de poucos segundos não ficaria por menos que 20 reais.
Agora, para beijos cinematográficos, de língua, com cabeças se movimentando de um lado pro outro e direito a pegar na nuca do parceiro o preço, naturalmente, seria maior.
Vamos dizer que uns 50 reais!
Tá bom pra você?
Vamos dizer que uns 50 reais!
Tá bom pra você?
Um sorriso.
Quanto valeria um sorriso?
- Vamos aproveitar. Sorrisos em promoção!
Diria ao microfone o locutor de porta de loja.
Quanto valeria um sorriso?
- Vamos aproveitar. Sorrisos em promoção!
Diria ao microfone o locutor de porta de loja.
Sorriso tímido, com a boca fechada, sem mostrar os dentes: 1 real.
- Eu falei promoção! Vamos aproveitar!
Sorriso é só 1 real! É só hoje!
Vamos aproveitar a promoção do sorriso, pra não chorar depois!!!
- Eu falei promoção! Vamos aproveitar!
Sorriso é só 1 real! É só hoje!
Vamos aproveitar a promoção do sorriso, pra não chorar depois!!!
Sorriso generoso, espontâneo, de alegria, já ostentando os dentes: 5 reais.
- Vamos levar, gente! Aproveite que a sorte sorriu pra você e o patrão baixou os preços!
Vamos aproveitar, gente!
Um sorriso aqui pro senhor.
Mais um sorriso ali pra senhorita!
- Vamos levar, gente! Aproveite que a sorte sorriu pra você e o patrão baixou os preços!
Vamos aproveitar, gente!
Um sorriso aqui pro senhor.
Mais um sorriso ali pra senhorita!
Agora, para gargalhada teríamos que dimensionar melhor o preço.
Estamos falando de gargalhada contagiante que, dentro de um ambiente, provoca aquele quás-quás-quás geral.
Mesmo quem não estivesse pagando por ela, também não iria se conter.
Neste caso, cobraríamos um preço fixo para quem estivesse contratando o serviço e todos que rissem também, em função daquela gargalhada, pagariam um percentual.
Estamos falando de gargalhada contagiante que, dentro de um ambiente, provoca aquele quás-quás-quás geral.
Mesmo quem não estivesse pagando por ela, também não iria se conter.
Neste caso, cobraríamos um preço fixo para quem estivesse contratando o serviço e todos que rissem também, em função daquela gargalhada, pagariam um percentual.
Digamos que o contratante pagasse 10 reais pela gargalhada.
Quem ao redor também risse pagaria uma taxa de uns 2 reais.
Acho que para uma gargalhada não está tão caro assim.
Mas o pagamento teria que ser na hora para todos os serviços oferecidos.
Quem ao redor também risse pagaria uma taxa de uns 2 reais.
Acho que para uma gargalhada não está tão caro assim.
Mas o pagamento teria que ser na hora para todos os serviços oferecidos.
Por prudência, teríamos um cartaz anunciando, como nos botequins da vida:
NOTA DE FALECIMENTO:
Aquele que em vida se chamou fiado, faleceu ontem vítima de calotes, deixando viúva, Dona Cobrança, e seus filhos menores: Pendura, Volto Depois e Amanhã Eu Pago.
A família enlutada agradece se você não falar o nome do falecido.
Não traga rosas e sim dinheiro.
Aquele que em vida se chamou fiado, faleceu ontem vítima de calotes, deixando viúva, Dona Cobrança, e seus filhos menores: Pendura, Volto Depois e Amanhã Eu Pago.
A família enlutada agradece se você não falar o nome do falecido.
Não traga rosas e sim dinheiro.
Claudio Ortman
Rio, 02 de setembro de 2016
Rio, 02 de setembro de 2016
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